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A polícia norueguesa que investiga crimes de guerra na Ucrânia revelou que pretende interrogar o ex-comandante do grupo Wagner Andrei Medvedev, que na semana passada fugiu da Rússia para a Noruega.
O Serviço Nacional de Investigação Criminal da Noruega, que participa na investigação do Tribunal Penal Internacional sobre crimes de guerra, disse estar em contacto com Medvedev e com o seu advogado norueguês para “o interrogar num futuro próximo”.
Na semana passada, Medvedev conseguiu fugir para a Noruega numa viagem atribulada, na qual escapou por pouco aos tiros e cães de guardas na fronteira. O russo conseguiu atravessar a fronteira ilegalmente depois de combater vários meses na Ucrânia junto do grupo de mercenários Wagner, que tem assumido um papel importante nas operações russas.
A história foi divulgada pelo próprio à organização de direitos humanos Gulagu.net, a partir de um centro de detenção para migrantes em Oslo. Medvedev, que já pediu asilo político na Noruega, revelou que tentou deixar o grupo assim que o seu contrato de quatro meses terminou. No entanto, foi prorrogado sem o seu consentimento e viu-se forçado a continuar a participar na “operação especial militar” russa no território ucraniano.
Durante os meses na Ucrânia, combateu na cidade de Bakhmut – palco de intensos confrontos entre as tropas de Kiev e Moscovo – e comandou uma unidade composta essencialmente por ex-prisioneiros russos.
Para reforçar os seus números, a companhia militar privada recrutou diretamente das prisões russas, acrescentando às suas fileiras cerca de 40.000 pessoas, segundo as estimativas divulgadas pelas autoridades norte-americanas e de grupos de direitos humanos russos. A unidade de Medvedev não foi exceção e também foi reforçada com novos membros depois de várias perdas.
“Foi-me entregue um grupo de ex-prisioneiros. No meu pelotão sobreviveram apenas três de 30 homens. Depois disso foram enviados mais prisioneiros e muitos deles também morreram”, revelou numa entrevista ao The Guardian, feita no mês passado mas que foi publicada esta terça-feira. Os novos membros, acrescenta, eram tratados como instrumentos, como “carne para canhão”.
No seio do grupo Wagner, teve conhecimento de pelo menos dez casos de militares mortos por desobedecerem às ordens dos superiores, tendo testemunhando algumas delas pessoalmente. “Os comandantes levavam-nos para um campo e disparavam sobre eles à frente de todos, às vezes disparavam em pares”, afirmou.
Nos mais de dez meses de guerra, a atuação do grupo de mercenários tem sido marcada relatos da brutalidade. Ao The Guardian, Medvedev revelou que foi comandante de Yevgeny Nuzhin, um ex-prisioneiros russo executado por membros do Grupo Wagner com golpes de marreta.
Temo que o meu destino seja o mesmo que o de Nuzhin. Receio pela minha vida”, afirmou.
O ex-comandante russo já garantiu estar disponível para colaborar com as autoridades, mostrando prontidão para testemunhar contra o grupo Wagner e expor o fundador, Yevgeny Prigozhin.
Em 328 dias de guerra, este é o primeiro caso conhecido de um militar do grupo Wagner que lutou na Ucrânia e conseguiu fugir para um país europeu.