O Presidente da República Democrática do Congo denunciou que os rebeldes do grupo M23 não estão a cumprir a retirada que prometeram no nordeste do país, onde lutam contra o Exército congolês desde março, noticiaram nesta quarta-feira os ‘media’ locais.
“Apesar da pressão da comunidade internacional, este grupo simula que se estão a retirar e a deslocar-se para outras zonas (…). Entretanto, o M23 (Movimento 23 de Março) ainda está em algumas localidades que tomaram na República Democrática do Congo (RDCongo)”, afirmou o Presidente Félix Tshisekedi num painel no Fórum Económico Mundial em Davos (Suíça), na terça-feira, segundo os meios de comunicação congoleses.
Tshisekedi fez estas declarações depois de vários líderes políticos e militares do M23 se terem reunido na cidade queniana de Mombaça, a 12 de janeiro, com o antigo Presidente deste país e mediador regional da Comunidade da África Oriental (EAC, sigla em inglês), Uhuru Kenyatta.
Nesta reunião, os rebeldes “concordaram em continuar com a retirada ordenada e manter um estrito cessar-fogo“, segundo um comunicado do bloco regional, que patrocina o diálogo de paz iniciado em Nairóbi em 2022 entre o Governo congolês e os grupos armados ativos no leste do país.
Antes, no início do mês de janeiro, esta milícia anunciou a sua retirada da estratégica base militar de Rumangabo, que passou a ser controlada pela nova força militar regional destacada pela EAC (EACRF).
Além disso, em 23 de novembro, os rebeldes organizaram um ato de entrega à EACRF do controlo da área vizinha de Kibumba, mas o Exército congolês considerou este movimento como “uma farsa” e garantiu que os rebeldes se preparavam para ocupar mais territórios.
Para Tshisekedi, “o problema hoje de insegurança na região dos Grandes Lagos chama-se Ruanda”, que Kinshasa acusa de apoiar o M23, uma cooperação confirmada por vários relatórios de peritos das Nações Unidas, mas que Kigali sempre negou categoricamente.
Segundo noticiou esta quarta-feira a imprensa local, os rebeldes ainda não começaram a retirar-se dos territórios ocupados durante esses meses na província de Kivu do Norte.
Tal devia acontecer antes de 15 de janeiro, de acordo com o roteiro estabelecido pelo Ruanda e RDCongo sem a presença da M23 no final de novembro passado em Luanda, conforme detalhou na terça-feira o Presidente congolês.
O M23 foi criado em 2012 como uma dissidência do extinto Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), um grupo de rebeldes maioritariamente de origem ruandesa que lutou em solo congolês contra as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR) grupo fundado no ano 2000 pelos líderes do genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados, principalmente do povo hutu para recuperar o poder político no seu país de origem.
ONU exige que rebeldes congoleses da M23 abandonem posições no Kivu do Norte até domingo
Após a integração do CNDP no Exército da RDCongo na sequência do acordo de paz de 23 de março de 2009, os rebeldes do recém-fundado M23 desertaram em 2012 para renegociar esse pacto e melhorar as suas condições.
Especialistas da ONU também confirmaram a colaboração entre o Exército congolês e as FDLR, conforme alega o Ruanda.
A parte oriental da RDCongo está mergulhada em um conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército há mais de duas décadas, apesar da presença da missão de paz da ONU (MONUSCO), com mais de 16.000 militares uniformizados no terreno.