O presidente do Chega, André Ventura, acusou esta sexta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, de “mentir deliberadamente” ao parlamento num debate sobre investigações na Defesa, insistindo na sua demissão.
“Na nossa perspetiva o senhor ministro tem apenas como saída a sua demissão porque mentiu deliberadamente ao parlamento”, considerou o líder do Chega sobre João Gomes Cravinho em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.
Ventura reagia à notícia do jornal “Expresso”, que escreve esta sexta-feira que o ex-ministro da Defesa entre 2018 e 2022 e atual ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, foi informado em março de 2020 de que o custo das obras no antigo Hospital Militar de Belém estava a derrapar.
Ventura pede demissão de ministro João Gomes Cravinho após detenções na Defesa
O presidente do Chega lembrou que em dezembro, num debate de urgência sobre o tema no parlamento, questionou o ministro sobre se “sabia ou se tinha sido questionado ou se tinha sido pedida autorização para o aumento da despesa nas obras no Hospital Militar de Belém” e que Cravinho lhe respondeu que “não sabia, que não lhe tinha sido requerido jamais que essa despesa fosse aumentada”.
Referindo-se à notícia do jornal, o líder do Chega salientou que o Expresso refere um ofício “que está numerado e, portanto, que tem uma base de existência inequívoca e incontornável”.
Na opinião do deputado, se Gomes Cravinho “não se demitir a mentira ao órgão que sustenta o Governo que é o parlamento, ao órgão fiscalizador que é o parlamento, torna-se prática aceitável e habitual”.
O Chega, disse, vai enviar ainda esta sexta-feira um apelo “por escrito” ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “para que exerça a sua função de contrapeso e de magistratura de influência e que deixe claro a António Costa que João Gomes Cravinho não pode continuar no Governo”.
Segundo o Expresso, que cita um ofício de março de 2020, com as obras já a decorrer, o diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN), Alberto Coelho, hoje arguido por corrupção e branqueamento na Operação Tempestade Perfeita, informou o ministro sobre “trabalhos adicionais” que já somavam quase um milhão de euros extra.
Questionado pelo Expresso sobre este documento, o gabinete do agora ministro dos Negócios Estrangeiros remeteu para uma resposta dada ao Diário de Notícias em março de 2021, que noticiava a existência deste memorando.
Na altura, o então ministro da Defesa respondeu que “todos os documentos relevantes respeitantes a este processo constam do processo de auditoria mandado instaurar pelo Ministério da Defesa, desenvolvido pela Inspeção-Geral da Defesa Nacional e entregue no Tribunal de Contas, na sequência do despacho do ministro da Defesa”.
No passado dia 20 de dezembro, no debate de urgência requerido pelo Chega no parlamento sobre o tema, Gomes Cravinho garantiu não ter autorizado um aumento de despesa além dos 750 mil euros inicialmente previstos para a requalificação do antigo Hospital Militar de Belém quando tutelava a Defesa.
“Se eu autorizei algum acréscimo de despesa para além dos 750 mil euros? Não, a resposta é não, não autorizei, nem aliás me foi solicitado que autorizasse”, assegurou.
A operação “Tempestade Perfeita” foi desencadeada em dezembro pela Polícia Judiciária (PJ), em coordenação com o Ministério Público, e resultou em cinco detenções, entre as quais três altos quadros da Defesa e dois empresários, num total de 19 arguidos, que respeita ao período em que João Gomes Cravinho tutelou aquele ministério.
Comissão aprova audição de Gomes Cravinho e secretário de Estado sobre investigação na Defesa
Um dos cinco detidos é o ex-diretor-geral de Recursos da Defesa Nacional Alberto Coelho, alegadamente envolvido na derrapagem nas obras de requalificação do Hospital Militar de Belém e que mais tarde presidiu a uma empresa pública do setor da Defesa, a ETI (EMPORDEF Tecnologias de Informação, S.A).
Em causa estão gastos de cerca de 3,2 milhões de euros na empreitada para reconverter o antigo Hospital Militar de Belém, em Lisboa, num centro de apoio à Covid-19, obra que tinha como orçamento inicial 750 mil euros derrapagem revelada por uma auditoria da Inspeção-Geral da Defesa Nacional.