É muito pouco comum, realça toda a imprensa britânica que este domingo noticiou o caso, mas o Vaticano, por intermédio do Dicastério dos Bispos, resolveu intervir e ordenar uma investigação às circunstâncias da demissão de Robert Byrne, o homem que em meados de dezembro passado resolveu resignar ao bispado de Hexham e Newcastle, no Reino Unido.

Em causa está o afastamento do bispo, que abandonou o cargo aos 66 anos, nove antes da idade de reforma prevista pela lei canónica, e todos os estranhos acontecimentos que o terão levado a concluir que aquele se tinha tornado “um fardo demasiado grande” para carregar.

Para além de rumores de que, em pleno confinamento, a Catedral de Newcastle terá acolhido uma “festa de sexo”, há também o caso do padre Michael McCoy, o reitor da Catedral (e alegado organizador da festa), que em abril do ano passado se suicidou, apenas quatro dias depois de saber que estava a ser investigado por abuso sexual de menores.

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A Malcolm McMahon, o arcebispo de Liverpool, que foi encarregado da investigação, os conselheiros do Papa Francisco pediram que preparasse “um relatório aprofundado sobre os acontecimentos que levaram à demissão do Bispo Byrne”, pôde ler o Sunday Times, a partir de uma das cartas que McMahon entretanto enviou para os padres da diocese, que vai interrogar em breve.

Outra carta, a que Robert Byrne escreveu ao chefe máximo da Igreja Católica no dia 12 de dezembro de 2022, também foi revelada pela imprensa britânica este domingo. “Há já algum tempo que tenho vindo a discernir o meu futuro e depois de muita oração e reflexão, é com o coração pesado que vejo agora que o cargo de bispo diocesano se tornou um fardo demasiado grande e sinto que já não posso servir o povo da diocese da forma que desejaria”.

Apesar de não existir qualquer indício de que Byrne tenha estado na festa de sexo ou sequer que tenha tido conhecimento dela, o Vaticano quer perceber que papel teve o incidente na decisão que o então bispo veio depois a tomar. Até porque, a certa altura, revelaram várias fontes não identificadas ao Daily Mail, a história começou a correr e “a catedral tornou-se motivo de chacota”.

“Foram feitas várias queixas por indivíduos dentro da diocese depois de ter surgido informação sobre uma festa de sexo a ter lugar nos aposentos dos padres ligados à catedral de Newcastle’, disse um dos entrevistados àquele jornal.

Ao Sunday Times, uma fonte próxima da investigação revelou que o então reitor, Michael McCoy, terá abordado vários fiéis da congregação, perguntando-lhes se gostariam de assistir a “uma festa” na catedral.

Para a investigação de Malcolm McMahon não será de somenos importância o facto de ter sido o próprio Robert Byrne, em 2019, meses depois de ser consagrado bispo de Hexham e Newcastle, a indicar McCoy para o lugar de reitor da catedral. Na altura, o caso foi razoavelmente falado na imprensa britânica porque o pároco que então ocupava o cargo, Dermott Donnelly, era o irmão mais velho de Declan Donelly, famoso apresentador de televisão britânico conhecido, por exemplo, por Britain’s Got Talent.

O caso que, em abril do ano passado, terá levado o então reitor da Catedral de Newcastle a pôr termo à vida seria antigo, não atual. Apesar de o pároco, de 57 anos, não ter deixado qualquer registo escrito a relacionar os factos, suicidou-se apenas quatro dias depois de ser abordado pelo departamento de proteção de crianças e adultos da polícia de Northumbria, a investigar uma denúncia de um caso antigo de abuso sexual de menores.

Para além da investigação que o arcebispo de Liverpool está a conduzir, a pedido do Vaticano, há ainda outra em curso, também relacionada com esta diocese que Robert Byrne tinha a cargo, realça o Sunday Times. A cargo da Agência Católica de Normas de Salvaguarda (CSSA na sigla original), diz respeito ao relacionamento mantido entre a diocese e Tim Gardner, um padre que em 2014 foi condenado por crimes sexuais a oito meses de prisão, com pena suspensa durante dois anos.

“Depravado” foi o que o juiz que o condenou chamou ao padre, então com 42 anos e conselheiro religioso numa escola no norte de Londres, que foi apanhado com mais de 500 fotografias impressas de crianças e outras cinco mil imagens proibidas arquivadas no computador.

No final do julgamento, Tim Gardner declarou-se culpado de dez acusações de fotografar crianças em situações de indecência e de uma acusação de posse de imagens proibidas. Terá sido nessa altura que alguém, na cúpula da diocese de Newcastle, ofereceu as instalações para o alojar, situação que só não se consumou porque “figuras superiores” intervieram para o impedir.

Nessa altura, Robert Byrne ainda não era bispo de Hexham e Newcastle. Na carta que enviou aos padres da diocese, o arcebispo Malcom McMahon explicou que vão ser ouvidos “antigos e atuais clérigos, antigos e atuais funcionários, antigos e atuais voluntários leigos, antigos e atuais, e vítimas conforme o caso” e que o inquérito “vai centrar-se na cultura e nas disposições de governação em torno do processo de salvaguarda”.