O papa Francisco abordou as alegações de abuso sexual contra o bispo timorense Ximenes Belo, sugerindo numa entrevista que o vencedor do Prémio Nobel da Paz teve permissão para se aposentar mais cedo, ao invés de enfrentar um processo.
Depois de uma revista neerlandesa ter divulgado o caso em setembro, o Vaticano anunciou ter imposto sanções disciplinares ao bispo timorense Ximenes Belo nos últimos dois anos, após alegações de que o Nobel da Paz teria abusado sexualmente de menores no seu país nos anos 1990.
Estas sanções incluem limites aos movimentos do bispo e ao exercício do seu ministério, bem como a proibição de manter contactos voluntários com menores ou com Timor-Leste.
No entanto, o Vaticano não forneceu informações sobre se os superiores de Ximenes Belo sabiam de qualquer reclamação e não forneceu nenhuma explicação sobre a razão de João Paulo II ter permitido que o bispo timorense renunciasse duas décadas mais cedo, no início de 2002.
Em entrevista à Associated Press (AP), na terça-feira, Francisco sugeriu que foi esse o caso, argumentando que era assim que tais assuntos eram tratados no passado. “Isto é uma coisa muito antiga, onde não existia a consciência de hoje”, referiu Francisco.
“E quando foi divulgado [em setembro] sobre o bispo de Timor-Leste, eu disse: ‘Sim, deixem isso em aberto.’ (…) Não vou encobrir, mas foram decisões tomadas há 25 anos, quando não havia essa consciência”, acrescentou.
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O jornal neerlandês explicou que as primeiras investigações a este alegado abuso remontam a 2002, quando um timorense denunciou que o seu irmão era vítima de abusos.
Também em 2002, Ximenes afastou-se repentinamente do cargo de chefe da Igreja Católica em Timor-Leste, aos 54 anos, duas décadas antes da idade normal de reforma para os bispos, alegando motivos de saúde. Atualmente, Ximenes Belo está em Portugal, onde os salesianos disseram que o acolheram a pedido dos seus superiores.
Francisco reconheceu também, durante a entrevista, que a Igreja Católica ainda tem um longo caminho a percorrer para lidar com o problema, referindo que é necessária mais transparência e que os líderes da Igreja devem falar mais sobre o abuso de “adultos vulneráveis”.
O sumo pontífice confessou que teve uma curva de aprendizagem sobre os abusos, admitindo que o seu momento de “conversão” ocorreu durante uma viagem ao Chile em 2018, quando desacreditou as vítimas do padre predador mais notório daquele país.
Fazendo um gesto que indicava que sua cabeça havia explodido, o papa continuou: “Foi quando a bomba explodiu, quando vi a corrupção de muitos bispos”.
Mais recentemente, o papa tem lidado com casos de “adultos vulneráveis” que foram vítimas de abuso sexual e que o código legal do Vaticano considera menores em processos internos.
“Você pode ser vulnerável porque está doente, pode ser vulnerável porque tem incapacidades psicológicas e pode ser vulnerável por causa da dependência”, realçou.
“Às vezes há sedução. Uma personalidade que seduz, que maneja a sua consciência, isso cria uma relação de vulnerabilidade, e aí você fica preso”, acrescentou, agarrando os pulsos como se estivesse algemado.