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O jornalista de investigação norte-americano Seymour Hersh apontou a marinha dos Estados Unidos como a responsável pelas explosões nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, em setembro do ano passado. Num artigo publicado esta quarta-feira na plataforma Substack e citado pelo jornal britânico The Times, o repórter adiantou que a missão avançou sob a direção do Presidente Joe Biden.

Segundo Seymour Hersh, em junho passado mergulhadores especializados da marinha norte-americana usaram como disfarce os exercícios navais da NATO — os BALTOPS 22 — para colocar explosivos C4 de detonação remota no Nord Stream 1 e 2, no Mar Báltico. Três meses depois um avião da marinha norueguesa terá lançado uma boia hidroacústica que, horas depois, provocou a detonação dos explosivos.

A informação foi divulgada com base no relato de uma fonte com conhecimento direto do planeamento da missão, que falou ao jornalista na condição de anonimato. A mesma fonte adiantou que a missão começou a ser desenhada a partir do final de dezembro de 2021, quando os EUA já previam o avanço da invasão russa da Ucrânia.

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Seymour Hersh é um conceituado jornalista, vencedor de vários prémios como o Pulitzer, que denunciou histórias como o massacre de 500 pessoas no Vietname ou a tortura de prisioneiros em Abu Ghraib no Iraque. Nos últimos anos, publicou uma série de investigações com conclusões polémicas, como a de que o governo de Barack Obama terá mentido sobre a operação da morte de Osama Bin Laden ou de que o regime de Bashar al-Assad não terá usado armas químicas no conflito da Síria.

Tudo terá começado com uma reunião organizada pelo Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, sobre como responder à invasão iminente. Esta terá sido o primeiro de uma série de encontros secretos onde, segundo a fonte, se viria a tornar claro que Sullivan, que estaria agir com base nos desejos do presidente norte-americano, queria um plano para atingir os gasodutos russo.

A administração Biden fez todos os possíveis para evitar fugas [de informação] enquanto o planeamento aconteceu no final de 2021 e nos primeiros meses de 2022.”

A decisão de avançar terá sido tomada após nove meses de discussões secretas em Washington sobre a melhor forma de atingir o objetivo. “Durante muito desse tempo, a discussão foi não sobre se deviam realizar ou não a missão, mas como fazê-lo sem deixar pistas claras sobre quem foi o responsável“, escreveu Hersh.

Imagens captadas a 80 metros de profundidade mostram cratera de 50 metros no Nord Stream

A 26 de setembro quatro explosões na estrutura do Nord Stream — duas no gasoduto número 1 e outras duas no gasoduto número 2 — provocaram fugas de gás natural no Mar Báltico. As explosões ocorreram na zona económica da Suécia e a Dinamarca, que concluíram que se tratou de um ato deliberado, mas não sugeriram responsáveis. Os Estados Unidos e a NATO foram rápidos a descrever o caso como um ato de sabotagem, enquanto a Rússia culpou o Ocidente.

Em resposta às acusações, a Casa Branca negou. “Isto é falso e completamente fictício”, disse a porta-voz norte-americana Adrienne Watson, comentários reforçados pelos porta-voz da CIA,  Tammy Thorp, citados pela Reuters. A Noruega também reagiu às notícias: “Estas alegações são absurdas”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país ao Business Insider.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, liderado por Sergei Lavrov, também já se manifestou. A porta-voz Maria Zakharova pediu à Casa Branca que comente os “factos” apresentados esta quarta-feira. “Expressamos repetidamente a posição da Rússia sobre o envolvimento dos EUA e da NATO [uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes], observando que eles esconderam isso, gabando-se perante o mundo inteiro sobre a sua intenção de destruir a infraestrutura civil através da qual a Europa recebeu recursos energéticos russos”, escreveu na conta oficial de Telegram.

E já esta quinta-feira o porta-voz do Kremlin veio dizer que o “mundo precisa de saber a verdade” sobre quem foi o responsável pelas explosões nos gasodutos Nord Stream. Dmitry Peskov disse que devia ser feita uma investigação internacional àquilo que “considera ser uma sabotagem”.

A Rússia já tinha sugerido que os EUA poderiam estar ligados à explosão, mas sempre sem apresentar provas. Ainda assim, Peskov transmitiu que “considera errado tratar um blogue como um fonte primária de informação sobre o que aconteceu”.

O autor do trabalho é um conhecido repórter de investigação e vencedor de um prémio Pulitzer por uma reportagem que escreveu em 1969. O massacre de My Lay, no Vietname, quando soldados norte-americanos atacaram uma pequena localidade, foi denunciado por este jornalista veterano e a história foi replicada por diversos jornais norte-americanos.

(Atualizado às 13h01 de 9 de fevereiro com mais informação)