No final das declarações sobre o assunto, António Costa Silva terminou a lembrar que a privatização da TAP não é um dossiê sob sua tutela. “O dossiê não é gerido por mim, não gostaria de fazer muitos comentários sobre a TAP”. Mas já tinha falado do dossier em Espanha. Numa entrevista a um jornal espanhol, puxou a Iberia para o processo e agora explica que o seu propósito foi o de chamar o maior número de possíveis candidatos ao processo de venda.
“A Iberia e outros operadores internacionais interessados podem participar na mesma”, afirmou o ministro da Economia ao jornal espanhol, acrescentando que a “conectividade com o hub do aeroporto de Barajas impulsionaria tanto o turismo como a economia do país e nesta matéria tanto a TAP, como a Iberia, jogam um papel importante”.
Costa Silva sobre a privatização da TAP. “Nesta fase todos são bem vindos”, incluindo a Ibéria
A TAP já tinha estado na troca de palavras entre André Ventura, do Chega, e Costa Silva e voltou com Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda. Ventura acusou o ministro de “incompetência”, dizendo que leu nas palavras de Costa Silva em Espanha como um apoio à Iberia no processo. “Temos um ministro da Economia que em vez de colocar o vermelho e o verde põe o amarelo e diz que é boa ideia vender à Iberia. É pura e profunda incompetência”, acusou André Ventura, para ouvir Costa Silva responder que a incompetência em relação à gestão e transações de empresas é do deputado do Chega. Porque o que pretendeu, na entrevista em Espanha, e o seu objetivo é o de “atrair o maior número de empresas. Precisamos de uma proposta da Iberia, da Lufthansa. O maior número de propostas torna o processo competitivo, com benefício para o país. O senhor deputado não compreende como se fazem vendas de empresas”.
Oiça o Explicador sobre a privatização da TAP
O assunto voltou com Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, que, sem surpresas, mostrou oposição à privatização da TAP, mas quis também reforçar as declarações em Espanha de Costa Silva. “Dois ministros [Costa Silva e Fernando Medina] vão a Espanha comunicar à imprensa espanhola que é positivo que a Iberia comprasse a TAP”, com o risco de desaparecimento do hub em Lisboa. “Depois do Estado ter injetado 3,2 mil milhões acha que entregar a TAP à Iberia protege o interesse nacional?”
António Costa Silva, que tinha dito que o Estado não era um bom acionista na Efacec — e acrescentando na resposta que provavelmente também não era no caso da TAP — (“são as minhas opiniões”) –, acabou por dar a sua opinião: “Particularmente penso que não é uma boa solução a Iberia”, reforçando a pretensão de “tentar atrair o máximo de interessados”, assumindo que o “processo de privatização está em curso”, e, por isso, “compete-me atrair o maior número de interessados. Se tivermos proposta da Iberia, da Lufthansa muito provavelmente podemos ter uma saída mais benéfica para o dossiê”. “Temos todas a confiança nos ministros que estão a gerir esse dossiê”, disse mais à frente, explicando que o interesse é conectividade e isso vai além da TAP. A conectividade aérea ainda está abaixo de 2019 e o hub de Lisboa é “essencial”. Sobre o processo de venda, Costa Silva ainda disse que “vai ser desenhado, espero, um conjunto de critérios que defensam os interesses do país e a escolha final vai ser feita pelo Governo e pelo Conselho de Ministros, sob proposta do ministro das Infraestruturas”.
Mais à frente no debate, o PSD, através de Paulo Moniz, insistiu em saber se Costa Silva apoia uma TAP pública e se essa seria a sua opção caso estivesse na sua mão, na altura, a nacionalização. O ministro, depois de ter dito que pessoalmente considerava que a Iberia não é uma boa solução, optou nesta questão por dizer que “os meus estados de alma não são para aqui chamados”, lembrando que a situação da TAP “vem de trás, e agora temos de encontrar uma boa solução para o futuro”. E devolveu a pergunta ao deputado social-democrata: “gostaria de saber a sua opinião de como resolver o problema. É fácil questionar tudo, mas é importante para construção do debate que exprimisse a sua opinião”.
Carlos Pereira, do PS, aproveitou s TAP no debate para se virar para o PSD e questionar a venda a David Neeleman e a notícia do Eco de que este teria comprado a TAP com o dinheiro da transportadora.