A Organização Mundial de Saúde (OMS) lamentou esta sexta-feira que o mundo se tenha esquecido do povo sírio na mobilização para socorrer as vítimas dos sismos que abalaram a Síria e a Turquia.

“Hoje, um terramoto está de novo em foco, mas o mundo esqueceu-se da Síria”, disse Michael Ryan, gestor de emergência sanitária da OMS, numa conferência de imprensa no Dubai, de onde a ajuda humanitária será enviada para a Síria, citado pela agência francesa AFP.

Ryan disse que “constrangimentos muito significativos” estão a restringir a entrada de “enormes quantidades de fornecimentos” no noroeste da Síria, a zona do país mais afetada pelos sismos de segunda-feira, que ocorreram na vizinha Turquia.

O nordeste da Síria foi atingido pelos sismos de magnitude 7,8 e 7,5, além de fortes réplicas, que causaram mais de 21 mil mortos nos dois países, uma das piores catástrofes a atingir a região em um século.

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Com 3.377 mortos já confirmados na Síria, a catástrofe vem juntar-se à guerra civil que devastou o país nos últimos 12 anos.

Enquanto a ajuda humanitária flui para a Turquia, o mesmo não se passa do outro lado da fronteira, em particular nas áreas controladas pelos rebeldes no noroeste da Síria.

O Governo sírio anunciou esta sexta-feira que vai aceitar ajuda internacional que será enviada para zonas controladas por forças rebeldes a partir de áreas sob o seu controlo.

Essas operações serão supervisionadas pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho da Síria, com a ajuda da ONU.

Em 2014, a ajuda poderia chegar às zonas rebeldes através de quatro postos fronteiriços, mas sob pressão da China e da Rússia, apenas o posto Bab-al-Hawa, no norte do país, na fronteira com a Turquia, permaneceu operacional, segundo a AFP.

Um comboio de ajuda da ONU chegou esta sexta-feira através de Bab al-Hawa, o segundo em dois dias e uma “gota de água” tendo em conta as necessidades no terreno.

De acordo com a ONU, a entrega de ajuda através deste posto fronteiriço está a ser perturbada pelas estradas danificadas.

“Assim que estiver totalmente operacional, há enormes quantidades de fornecimentos prontos a entrar”, disse Michael Ryan, sem dar números devido a “constrangimentos muito significativos” por não haver qualquer outro ponto de passagem.

“Muitas agências, incluindo a nossa, tinham armazenado ajuda porque é inverno, e a necessidade era grande mesmo antes do terramoto”, afirmou.

À medida que as hipóteses de encontrar sobreviventes diminuem, a Síria enfrenta um “segundo desastre” devido à falta de material médico, advertiu Ryan.

O conflito na Síria já matou quase meio milhão de pessoas e devastou as infraestruturas do país.

O representante do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Sivanka Dhanapala, disse esta sexta-feira que mais de 5,3 milhões de pessoas poderão ter ficado sem casa na Síria, onde a guerra civil já tinha provocado 6,8 milhões de deslocados internos.

De acordo com a ONU, a população, mais de 90% da qual vive abaixo do limiar da pobreza, enfrenta múltiplas crises agudas como a fome e a cólera.