O secretário-geral do PCP criticou este domingo a “conversa cínica” do Governo de que “não há dinheiro para tudo” e que “a culpa é da guerra” na Ucrânia, aconselhando o primeiro-ministro a empenhar-se “mais no processo da paz”.

“Se o dinheiro é público, públicas devem ser as funções e os serviços que presta e financia. E não é isto que temos visto e ainda temos de ouvir a conversa cínica de que não há dinheiro para tudo, não há dinheiro para nada”, criticou o líder do PCP, Paulo Raimundo, em Monforte (Portalegre).

Na sua intervenção, no encerramento da X Assembleia da Organização Regional de Portalegre do partido, sob o lema “Reforçar, intervir, lutar, avançar, por um distrito com futuro”, o secretário-geral comunista insistiu que só não há dinheiro para aquilo que o Governo não quer.

“Não há dinheiro para tudo, mas há 6.000 milhões de euros do orçamento da saúde a serem transferidos para o setor privado da saúde” e “lá se arranjaram 3.000 milhões de euros dos nossos bolsos para as empresas do setor energético”, acusou.

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Paulo Raimundo argumentou que “não adianta o primeiro-ministro [António Costa]vir dizer que não pode acabar com esta situação e que a culpa é da guerra” na Ucrânia. “Porque o que está na sua mão poder fazer não o faz e não o faz por opção”, argumentou.

E, “se o problema é a guerra, então o primeiro-ministro que se empenhe no processo da paz, que é isso que os povos precisam, e deixe de meter ‘gasolina na fogueira’ que está instalada”, desafiou o líder comunista.

“Aquilo que nós precisamos são de respostas para os problemas que o país [e] que cada um de nós enfrenta”, defendeu o secretário-geral do PCP.

No seu discurso, perante militantes e simpatizantes do partido, na Sala Polivalente de Monforte, na zona desportiva local, o líder comunista argumentou também que “de nada” valem “lágrimas derramadas sobre a generalização do empobrecimento”.

“Nós não precisamos de lágrimas, muito menos dessas lágrimas de crocodilo”, afirmou, defendendo o aumento de salários, das prestações sociais, a fixação de preços dos bens essenciais e a necessidade de travar o aumento do custo de vida” e da “profunda injustiça” em que se vive hoje em Portugal.

Atualmente, “os 5% mais ricos” de Portugal “concentram nas suas mãos 42% de toda a riqueza criada por todos nós”, criticou o líder do PCP, comparando que, “enquanto isso, três milhões de trabalhadores ganham menos de 1.000 brutos mensais, mais de dois milhões de pessoas vivem na pobreza, entre as quais 385 mil crianças”.

“É disto que nós estamos falar. Por isso, engulam as vossas lágrimas sobre o empobrecimento e a injustiça”, acusou. Os “lamentos” não são necessários, porque o que é preciso são “vínculos efetivos” de trabalho, “horários regulados” e “das 35 horas rapidamente para todos os trabalhadores”, exigiu.