O anúncio da abertura da família Glazer a uma venda do Manchester United gerou grande alegria junto dos adeptos que contestavam há muito a gestão dos norte-americanos e pediam, em muitos casos, um regresso às origens. No entanto, havia o outro lado da questão: quem poderia assumir a propriedade dos red devils, tendo em conta o pedido acima de 4,5 mil milhões de euros como fasquia mínima para essa alienação? Não é propriamente a operação mais simples do mundo mas houve um primeiro interessado (e corajoso) a chegar-se à frente: Sir Jim Ratcliffe, um dos maiores bilionários ingleses aos 70 anos que tem interesses na Fórmula 1, no ciclismo e no futebol através do Nice. Até por ter sido sempre adepto do clube, tudo parecia fazer o seu sentido. Problema? Pode vir a ter concorrência. E uma concorrência forte a nível de oferta.
Após rumores de que alguns grupos provados norte-americanos poderiam estar interessados num possível investimento no United, fosse a nível maioritário ou via uma participação minoritária, não chegou a haver nenhum anúncio formal da concretização de qualquer proposta e tudo parecia encaminhar-se para uma corrida a solo de Sir Ratcliffe, como as que a Mercedes e a Ineos procuram em todas as competições em que participam. Todavia, há um novo player na equação de um país onde dinheiro não parece ser nunca um problema e, segundo avança o Telegraph, a Qatar Investment Authority (QIA) prepara-se para entregar até ao final da semana uma proposta aos norte-americanos do Raine Group de cinco mil milhões de euros.
Descrito como um fundo soberano com 450 mil milhões de dólares que detém o edifício Shard ou o popular Harrods em Londres, entre outras participações em diferentes companhias como Barclays, Volkswagen ou Sainbury’s, a QIA analisou as duas possibilidades existentes para entrar na Premier League, o Manchester United e o Liverpool, num processo que teve início ainda antes da fase final do Campeonato do Mundo do Qatar. A decisão acabou por recair sobre os red devils, sendo que o próprio emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al Thani, teve influência na escolha por tratar-se do seu clube preferido em Inglaterra.
De recordar que, como foi apresentado pelo próprio fundo soberano, a QIA e o seu chefe executivo, Mansoor Ebrahim Al-Mahmoud, têm por objetivo “garantir a prosperidade das futuras gerações de pessoas do Qatar através de uma instituição mundial de investimento que seja uma força boa para a economia global”.
Problema em tudo isto? O facto de a QIA ser afiliado do Qatar Sports Investment (QSI), que é desde 2011 o proprietário do PSG, algo que violaria as regras da UEFA (em específico o artigo número cinco) no que diz respeito a clubes que estejam presentes nas provas europeias. “Nenhuma pessoa física ou de ordem jurídica pode ter o controlo ou a influência sobre mais do que um clube que participe numa competição de clubes da UEFA”, especificam os regulamentos, sendo que também a Red Bull poderia ter esse problemas mas conseguiu “fintar” o mesmo com RB Leipzig e Salzburgo. Em relação à necessária aprovação por parte da Premier League, e ao contrário do que aconteceu com a entrada da Arábia Saudita na maioria do capital social do Newcastle, o Telegraph avança que não deverá haver qualquer tipo de problema.
Há ainda um dado importante nesta possível proposta e demais movimentações que se seguiriam a partir desta semana. A UEFA continua ainda a enfrentar o “fantasma” da Superliga Europeia, sendo que já existe uma nova versão de modelo competitivo apresentada pela A22 Sports Management, e ficará a saber este ano através de uma decisão do Tribunal Europeu de Justiça se tem ou não o monopólio das competições que sejam realizadas na Europa. E quem é nesta fase o principal aliado da UEFA e do seu presidente, Aleksander Ceferin? A Associação Europeia de Clubes (ECA) chefiada por Nasser Al-Khelaïfi, líder do QSI, do PSG e também do grupo beIN Media que comprou os direitos das provas europeias para variados países.