Passaram exatamente dez anos desde que Oscar Pistorius, a 14 de fevereiro de 2013, matou a namorada, Reeva Steenkamp, com quatro tiros na casa em que viviam, em Pretória, na África do Sul. Muito se falou do caso, poucos se foi dizendo a partir daí. Agora, no próximo mês de março, o antigo campeão paralímpico passa a poder ser ouvido pelo tribunal tendo em vista a aplicação de liberdade condicional. Para atingir esse objetivo, em junho do ano passado, Pistorius encontrou-se com os pais de Reeva de modo a cumprir um dos requisitos para fazer o apelo que o pode fazer deixar a prisão de Atteridgeville.
O diálogo entre o condenado e os familiares da vítima foi uma obrigação para o processo de libertação de Pistorius prosseguir. Nesse encontro com Barry e June, pai e mãe de Reeva, respetivamente, os familiares revelaram ao Daily Mail que o recluso manteve a mesma versão que tem assumido ao longo dos anos, ou seja, que não matou deliberadamente a namorada, uma vez que achava que estava na presença de um intruso no momento em que alvejou a porta da casa de banho com quatro tiros, acabando por vitimar a mulher de 29 anos que achava que estava na cama.
O pai da vítima foi o único a visitar Pistorius, dado que a mãe considerou não ter condições emocionais para o fazer. “Disse ao Oscar de forma direta que ele tinha dado deliberadamente um tiro à minha filha e ele negou. Manteve-se com a sua história de que pensava que tinha sido um intruso. Depois de todos estes anos, ainda estamos à espera que diga que matou porque estava furioso. É tudo o que queremos”, disse Barry ao jornal inglês sobre o diálogo com o homem que matou a filha que decorreu em Gqeberha, cidade de onde é natural a família Steenkamp e onde Pistorius esteve propositadamente para a conversa.
A família de Reeva Steenkamp reforça assim a posição contra a libertação do antigo atleta paralímpico. “Se ele me dissesse a verdade, seria um homem livre e deixaria a lei seguir o seu curso para a liberdade condicional. Estou a perder o meu tempo. Ele é um assassino. Deve permanecer na prisão”. Mesmo não tendo ido ao encontro, June escreveu uma carta que o marido leu a Pistorius. “Oscar, levaste-a para longe de nós”, dizia o texto entretanto contexto. “Ela era uma mulher inteligente, não era apenas uma cara bonita. Tu tiraste-lhe tudo o que ela podia ter e tudo o que teria daqui para a frente”, acusava.
Família de Oscar Pistorius recorre à justiça contra filme sobre morte de Reeva Steenkamp
A advogada, Julian Knight, contou à Associated Press que durante o período na prisão de Atteridgeville, adaptada a pessoas com deficiência, em Pretória, o ex-corredor foi um “modelo de prisioneiro”, justificando a liberdade condicional. Na África do Sul, as pessoas condenadas a prisão efetiva são obrigadas a cumprir pelo menos metade da pena antes de pedirem uma audição tendo em vista o apelo à liberdade condicional. Caso seja libertado no próximo mês, revela também o Daily Mail, Oscar Pistorius vai ter vigilância policial 24 horas por dia por existirem gangs que podem querer vingar a morte da mulher.
Oscar Pistorius está debaixo de custódia policial desde o dia seguinte ao homicídio de Reeva Steenkamp. Inicialmente, em 2014, o homem, hoje com 36 anos, foi considerado culpado por matar a namorada –embora, de acordo com a sentença, sem saber que estava a fazê-lo – e por comportamento irresponsável, tendo sido condenado a cinco anos de pena efetiva e três anos de pena suspensa por cada um dos respetivos crimes. Saiu da prisão em 2015, ficando em prisão domiciliária, mas no final do mesmo ano a pena foi agravada para seis anos por se considerar que Pistorius sabia que ia matar a pessoa que estava do outro lado da porta da casa de banho, independentemente de ser a namorada ou não. Mais tarde, em 2016, o Supremo Tribunal da África do Sul, devido a um recurso do Ministério Público do país, aumentou ainda mais o número de anos de prisão de Pistorius para 15 anos, aos quais subtraiu o tempo que o já tinha sido cumprido, estabelecendo 13 anos e cinco meses de prisão efetiva como medida de coação final.
Oscar Pistorius vê a pena agravada para 13 anos e cinco meses
O antigo atleta, que tem as duas pernas amputadas do joelho para baixo desde os 11 meses por ter nascido sem o osso do perónio, destacou-se nas provas de velocidade onde ficou conhecido como Blade Runner (corredor de lâmina) devido às próteses que usava para correr e que retirou a meio de uma sessão de julgamento para justificar o pânico que sentiu quando achou que a sua casa estava a ser invadida por um intruso. Oscar Pistorius foi o primeiro amputado a correr nos Jogos Olímpicos, em Londres-2012.