A Nio tem sido uma espécie de caixinha de surpresas entre os construtores de modelos puramente eléctricos. Fundada em 2014, a marca chinesa de carros eléctricos rapidamente saltou para a ribalta. Bastaram-lhe apenas três anos para começar a coleccionar recordes com o seu superdesportivo EP9, esmagando tempos por todos os traçados por onde passava, do mítico Nürburgring ao Circuito das Américas. E não mais parou de surpreender, construindo um modelo de negócio ímpar no mercado, que vai de soluções de carregamento próprias (Nio Power) a estações para trocas de baterias, com estas a serem oferecidas como um serviço que é cobrado à parte, tal como a mudança do acumulador vazio por um recarregado. A vantagem é que o cliente não suporta o custo da bateria e, logo, não tem de lidar com o “prejuízo” quando esta atingir o limite da sua vida útil. O cliente poupa ainda tempo, pois a operação de troca de bateria é incomparavelmente mais rápida do que o carregamento.
A surpresa, agora, está associada à bateria de 150 kWh, que promete 1000 km de alcance com uma só carga. Isto porque só essa bateria custa à volta de 328.000 Yuan Renminbi, cerca de 45.000€. Ou seja, quase o preço com que é comercializado na Alemanha o modelo mais barato da Nio, a berlina ET5, que por lá custa 49.900€ (mas sem bateria).
Chineses da Nio vêm com tudo para a Europa. A estratégia é esta
É comum dizer-se que a bateria é o componente mais caro de um veículo eléctrico, mas neste caso a Nio terá considerado que o valor é de tal forma proibitivo que a própria empresa assume que este acumulador, ao contrário dos packs de 75 ou 100 kWh, nem sequer vai estar à venda numa fase inicial. Quem quiser usufruir de uma autonomia mais folgada, só possível com a bateria de 150 kWh, vai ter que a alugar. A notícia é avançada pela imprensa local, merecendo a clarificação da questão da autonomia anunciada com uma só carga.
Importa recordar que o mágico número de 1000 km começou a ser falado com o ET7, o porta-estandarte da Nio, cuja versão mais potente monta dois motores, um por eixo, que somam 480 kW/653 cv e 850 Nm de binário. O ET7 foi revelado em 2021 e começou a desembarcar na Europa no Verão passado, para fazer companhia ao SUV ES8. Mas a berlina eléctrica chinesa do segmento E começou por estar disponível apenas com os packs de 75 e 100 kWh, com uma autonomia mais limitada, e é neste ponto que reside o devido esclarecimento: a marca comunica estimativas de alcance baseadas no China Light-Duty Vehicle Test Cycle (CLTC), o equivalente ao antigo e muito optimista NEDC, como pode ver abaixo na informação disponível no site oficial da marca.
Mas, recorrendo ao configurador do ET7 na Alemanha, apuramos que com a bateria standard (75 kWh), o eléctrico chinês não fará os anunciados mais de 500 km, mas sim 445 km de acordo com o protocolo europeu WLTP. Do mesmo modo, com o acumulador de 100 kWh, que promete acima de 700 km entre recargas, acaba por homologar 580 km com o método europeu de medição de consumos e de emissões. Por isso, com a bateria de 150 kWh que vai ser introduzida este ano assegurará, de forma mais realista, possivelmente 750 km entre paragens com uma carga completa e não os tais 1000 km, estimados de acordo com o protocolo chinês CLTC.
Conforme o CnEVPost, o pack de 150 kWh tem uma densidade de energia de 360 Wh/kg, sendo fornecido pela Beijing WeLion New Energy Technology. É esperado que esteja disponível no 1.º semestre deste ano, inicialmente apenas na modalidade de aluguer. O preço, próximo dos 328.000 Yuan Renminbi, terá sido avançado pelo cofundador e presidente da Nio, Qin Lihong, num evento para clientes em Changzhou, na província chinesa de Jiangsu. Actualmente, a marca cobra na Europa 12.000€ pela compra da bateria standard e 21.000€ pela aquisição do acumulador de 100 kWh, pelo que o elevado valor do pack semi-sólido de 150 kWh pode indiciar dificuldades em produzi-lo em larga escala. Seja como for, a aquisição da bateria, nem que seja a mais pequena e barata, leva a que o mais acessível dos Nio (o ET5) salte dos 49.900€ sem o acumulador para 61.900€. O aluguer implica o desembolso mensal de 169€, no caso da bateria standard, subindo para os 289€/mês com o pack de 100 kWh. O preço a cobrar pela locação da nova bateria de 150 kWh ainda não foi anunciado.