Em atualização

João Salgueiro, economista, banqueiro e político, morreu esta sexta-feira, aos 88 anos. A notícia já foi lamentada por Marcelo Rebelo de Sousa que, numa nota de pesar, assinalou que “Portugal perdeu hoje um dos seus mais brilhantes economistas da segunda metade do século XX”.

No mesmo texto, o Presidente da República recordou ainda o percurso de João Salgueiro, que agraciou em 2021 com a Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

“Formou-se no ISCEF, hoje ISEG, onde ensinou, teve um papel particularmente importante no planeamento económico, no nascimento das regiões plano, que viriam a dar origem às CCDR, na tentativa, falhada, de modernização no tempo de Marcello Caetano, no setor bancário público nos anos 70 e 80, no Ministério das Finanças, na liderança de uma das mais importantes sensibilidades dentro do PPD-PSD e, durante 50 anos, na SEDES, de que foi inspirador, presidente e figura tutelar, na transição para a a Democracia e até ao século XXI.”

O antigo Presidente Aníbal Cavaco Silva recebeu a notícia “com tristeza” e lembrou, em nota enviada às redações, a altura em que o seu “destino, algo inesperadamente”, se cruzou com o de João Salgueiro, quando se enfrentaram no Congresso da Figueira da Foz, pela liderança do PSD.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Depois disso, manteve sempre “uma boa relação com o Dr. João Salgueiro, beneficiando em diferentes momentos dos seus conselhos alicerçados num sólido pensamento económico”, recordou Cavaco Silva, lembrando o papel de Salgueiro enquanto membro fundador da SEDES e o seu contributo para “ajudar o nosso país a encontrar o rumo certo”.

“A condecoração com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, que, enquanto Presidente da República, lhe conferi no 10 de Junho de 2010, constituiu um reconhecimento do contributo que deu ao nosso País enquanto governante e enquanto cidadão e que quero agora, na hora da sua partida, reiterar”, acrescentou Cavaco Silva, enviando condolências à família em seu nome e da mulher, Maria Cavaco Silva.

Ao Observador, o antigo líder do PSD Pedro Passos Coelho disse ouvir a notícia com “pena”. “Foi uma personalidade muito ilustre e uma pessoa de grande craveira que muito admirei, um homem com grande sentido de dever público e um inconformista preocupado com o futuro do nosso país”, recordou.

Através do Twitter, o eurodeputado Paulo Rangel, Vice-Presidente da Comissão Política Nacional do PSD, também já lamentou a morte de João Salgueiro, a que se referiu como “um homem culto, inteligente e patriota”.

Já o presidente do PSD lembrou um homem “com invulgar inteligência” e “dedicação à causa pública”. “Em meu nome e do PPD-PSD apresento a consternação por ver partir um dos nossos, um homem com invulgar inteligência, liberdade e dedicação à causa pública”, escreveu Luís Montenegro na sua conta do Twitter. O líder social-democrata lembrou ainda que João Salgueiro “pensou e fez pensar Portugal”.

Nascido em 1934 em São Paio de Merelim, Braga, João Maurício Fernandes Salgueiro licenciou-se em economia no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, em Lisboa, e em 1959, entrou no Banco de Fomento Nacional, como economista, onde se manteve até 1963.

Professor, membro da Juventude Universitária Católica, a que chegou a presidir, e fundador da SEDES, a Associação Para o Desenvolvimento Social e Económico, João Salgueiro fez parte de vários governos, antes e depois do 25 de Abril.

A convite de Marcello Caetano, foi subsecretário de Estado do Planeamento Económico e diretor do Planeamento do Quadro do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho.

Depois, entre 1981 e 1983, era Francisco Pinto Balsemão primeiro-ministro, foi ministro de Estado e das Finanças e do Plano — isto depois de entre agosto de 1974 e março de 1975 ter sido vice-governador do Banco de Portugal.

Deputado entre 1983 e 1985 — período em que foi presidente da Comissão Parlamentar de Economia e Finanças —,  João Salgueiro esteve ainda na presidência do Instituto de Investimento Estrangeiro (1981) e passou nove anos à frente do Banco de Fomento Exterior, entre 1983 e 1992.

A 19 de maio de 1985 foi ele o candidato derrotado no célebre congresso do PSD na Figueira da Foz a que Cavaco Silva compareceu para “fazer a rodagem do Citroën” que tinha acabado de comprar — mas de que acabou por sair vencedor.

Na altura, tudo apontava para que João Salgueiro saísse vencedor. Acabou por ser derrotado por apenas 57 votos.