Já é oficial: Mariana Mortágua anunciou, esta segunda-feira, que será candidata à liderança do Bloco de Esquerda na convenção do partido, marcada para 27 e 28 de maio, em que se fechará o ciclo de Catarina Martins.

Em conferência de imprensa na sede do Bloco, Mortágua confirmou assim o segredo mais mal guardado no seio do partido, elogiando o ciclo de Catarina Martins e atirando críticas contra o Governo, que diz ter “desistido” de governar.

À atual coordenadora do Bloco, deixou agradecimentos por “abrir novos caminhos” e ter sido “a melhor porta-voz em tempos tumultuosos”. “A Catarina vai continuar a marcar-nos. Contamos com ela”, garantiu, sem esclarecer que papel poderá agora ter a líder cessante e se continuará no Parlamento, decisões que deixou para a própria. Minutos depois, Catarina Martins devolvia os elogios no Twitter, garantindo que “não há quem duvide da preparação, capacidade de trabalho e competência” da deputada.

Não seria a única: nos minutos seguintes multiplicaram-se as mensagens de “força” nas redes sociais dos dirigentes do Bloco; alguns, como Marisa Matias, Luís Fazenda, Jorge Costa ou Fabian Figueiredo, estavam presentes na sala e trocaram abraços apertados e cumprimentos com Mortágua assim que saiu da frente do microfone.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De resto, a nova candidata dedicou os minutos em que falou a explicar a posição do Bloco para os tempos que aí vêm, de crítica absoluta à maioria absoluta e oposição feita a partir das ruas, para não “dar sossego” a quem “ganha com a crise”.

Ao Governo de António Costa, deixou as mais variadas acusações, começando pela ideia de que a maioria absoluta não está a servir para trazer nem mais diálogo, nem mais estabilidade, nem nenhuma correção das desigualdades.

E é isso que leva o Bloco — e a linha da direção, a que Mortágua pertence e que obteve pesadas derrotas no último ciclo eleitoral — a estar convencido de que, apesar das “perdas brutais”, as “razões” do seu caminho se confirmam: “É por elas que crescemos ao lado da força das mobilizações que se levantam”. Ou seja, dos protestos na rua.

Tímida, carismática, colecionou inimigos. Agora, Mortágua prepara-se para a missão mais difícil da sua vida política

Já o PS, acusou, tem a “tranquilidade” de quem sabe que pode usar o “espantalho” do Chega e a política do medo como seguro de vida para a sua maioria: “Dedica-se a promover o despique, mesmo sabendo que está a alimentar a extrema-direita”, atirou.

Pelo Bloco, a garantia é uma: só à esquerda pode haver uma alternativa que responda a quem está “exasperado com a inflação” e com problemas nos serviços públicos. “Mostraremos que política do medo não pode vencer e que não basta pôr o espantalho à porta”, defendeu Mortágua, dizendo que a alternativa não é entre crises na habitação ou precariedade “que o PS mantém e a direita promove”, encostando assim António Costa à direita.

O Bloco quer assim, na provável era Mortágua (se vencer a eleição interna), mostrar-se como alternativa a um Executivo “arrogante e promíscuo” e um incómodo para quem “ganha com a crise”: “Não estamos aqui para vos agradar e dar sossego. O compromisso do BE não é convosco”.

O caminho não será totalmente pacífico no seio do partido, uma vez que os críticos internos olham para a candidata como o rosto da continuidade da linha de Catarina Martins. Questionada sobre potenciais divisões na convenção bloquista, Mortágua respondeu que o encontro será de “debate político, e isso é bom. Ainda bem” — esta segunda-feira também será apresentada a moção dos críticos internos do partido.

Quanto ao futuro, agradeceu a “simpatia” de Pedro Nuno Santos, que em declarações ao Observador lhe deixou rasgados elogios de olhos postos no futuro, e recusou especular sobre futuras geringonças 2.0 — “Neste momento estou concentrada na convenção do BE. A política é sempre o mais importante, as ideias são o mais importante”. E, por agora, o Bloco não quer nenhuma ideia de colagem ao PS: “Cabe-nos responder ao momento em que vivemos. A maioria tem-se degradado”, reforçou.

No futuro (com este PS ou outro?) logo se verá. Por agora, Mortágua confirmou a notícia, distribuiu abraços pelos dirigentes que estavam na sala e parte assim para uma nova etapa na sua vida política.