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“Estou chocado com os ataques em Mariupol. O inimigo definitivamente começou algo novo.” As palavras, ouvidas em vídeo, são de Ivan Utenkov, um dos mais conhecidos milblogger russos (bloggers que escrevem sobre a guerra). Nos últimos dias, e no domingo em especial, Mariupol, cidade tomada pelos russos, tem sofrido diversos ataques das forças ucranianas. Nada de estranho, não fosse a cidade estar a 80 quilómetros da linha da frente e a munição que Kiev tem disponível ter um alcance máximo de 70 quilómetros.
No fim de semana passado, e não sendo claro o que está a acontecer em Mariupol, a imprensa ucraniana falava de “munições mistério” a atingir a cidade ocupada pelos russos. Esta segunda-feira, foi o Ministério da Defesa do Reino Unido, no seu relatório diário, a alertar para as explosões.
Mariupol deveria estar inacessível a ataques do exército ucraniano, lê-se no relatório. “A Rússia provavelmente ficará preocupada com a ocorrência de explosões inexplicáveis numa zona que provavelmente havia avaliado como estando além do alcance das capacidades de ataque ucranianas”, lê-se na nota enviada à imprensa. Os mísseis que a Ucrânia usa, por exemplo, com o HIMARS e o M270, têm um alcance de aproximadamente 70 km.
Ivan Utenkov refere isso no seu vídeo. Considerava que Mariupol, onde os russos “investiram tanto dinheiro”, estava fora de tudo o que se passa no resto do conflito.
Russian milblogger Ivan Utenkov is worried about the fate of Mariupol after yesterday's attack.
"I am shocked about yesterday's attacks. The enemy definitely started something." pic.twitter.com/223gAePbY3
— NOELREPORTS ???????? ???????? (@NOELreports) February 22, 2023
“A inacessibilidade é um conceito muito relativo”, diz porta-voz das Forças Armadas
Certo é que foram ouvidas explosões na cidade do sul da Ucrânia, no domingo, de acordo com Petro Andriushchenko, um conselheiro do autarca da cidade ocupada — e, segundo o seu relato no Telegram, foram próximas de um grande aglomerado de militares russos. Já o Kyiv Independent escreve que as explosões foram próximas de um armazém de munição.
“A inacessibilidade é um conceito muito relativo. O que é considerado inalcançável, nem sempre o é. Mariupol já não é completamente inalcançável para nós”, disse, na quinta-feira, Nataliya Humeniuk, porta-voz das forças armadas da Ucrânia.
Depois de um cerco de três meses, a cidade localizada à beira do Mar de Azov (Donetsk) está desde maio de 2022 sob controlo russo. A maior parte da cidade foi destruída, mas os russos começaram o trabalho de reconstrução.
⚡️Spokesperson of Operational Command "South" Nataliya Humeniuk stated that the direction of Mariupol is no longer completely unattainable for the Armed Forces of Ukraine.
— BLYSKAVKA (@blyskavka_ua) February 23, 2023
Chegaram as bombas de pequeno diâmetro lançada no solo?
Entre as várias hipóteses apresentadas pela imprensa, a mais fácil é a de que as forças ucranianas tenham conseguido mudar de posição um sistema HIMARS ou M270, aproximando-o de Mariupol e conseguindo alcançar a cidade. Por outro lado, a ideia de haver no terreno armas ou munições novas tem mais adeptos.
O site especializado The Drive aposta numa das promessas dos Estados Unidos que, porém, ainda não deveriam ter sido entregues: as bombas de pequeno diâmetro lançada no solo (GLSDB) que têm um alcance de 150 quilómetros. O canal pró-russo Rybar, no Telegram, apontava nesse sentido. Sem citar fontes, afirmava saber que à cidade de Bogatyr, Donetsk, chegou uma dessas munições.
Na terça-feira passado, questionado sobre estas munições, o Pentágono escusou-se a comentar. A data prevista de entrega é junho. Outra hipótese, que não é de excluir, é que a própria Ucrânia esteja a desenvolver os seus mísseis balísticos, capazes de percorrer a distância necessária para atingir Mariupol, ou que tenha recorrido a drones kamikaze.
Ukraine shaping the battlefield ahead of a fresh offensive. But what was it that hit Mariupol last night, deep in enemy-held territory, beyond HIMARS range? Are GLSMBs in play, or was it Ukraine's Vilkha-M heavy MLRS? https://t.co/xMcmGQG92u
— Euan MacDonald (@Euan_MacDonald) February 22, 2023
O New Voice of Ukraine cita fontes russas para avançar com uma outra possibilidade: “A arma usada pode ter sido o sistema de foguetes de lançamento múltiplo pesado Vilkha-M da Ucrânia (baseado no sistema soviético Smerch), que teria um alcance de 130 quilómetros.”
O que quer que seja pode ser o primeiro indício de que os ucranianos vão pôr-se a caminho da Crimeia, região anexada em 2014, e que Zelensky não desiste de recuperar.