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“Estou chocado com os ataques em Mariupol. O inimigo definitivamente começou algo novo.” As palavras, ouvidas em vídeo, são de Ivan Utenkov, um dos mais conhecidos milblogger russos (bloggers que escrevem sobre a guerra). Nos últimos dias, e no domingo em especial, Mariupol, cidade tomada pelos russos, tem sofrido diversos ataques das forças ucranianas. Nada de estranho, não fosse a cidade estar a 80 quilómetros da linha da frente e a munição que Kiev tem disponível ter um alcance máximo de 70 quilómetros. 

No fim de semana passado, e não sendo claro o que está a acontecer em Mariupol, a imprensa ucraniana falava de “munições mistério” a atingir a cidade ocupada pelos russos. Esta segunda-feira, foi o Ministério da Defesa do Reino Unido, no seu relatório diário, a alertar para as explosões.

Mariupol deveria estar inacessível a ataques do exército ucraniano, lê-se no relatório. “A Rússia provavelmente ficará preocupada com a ocorrência de explosões inexplicáveis ​​numa zona que provavelmente havia avaliado como estando além do alcance das capacidades de ataque ucranianas”, lê-se na nota enviada à imprensa. Os mísseis que a Ucrânia usa, por exemplo, com o HIMARS e o M270, têm um alcance de aproximadamente 70 km.

Ivan Utenkov refere isso no seu vídeo. Considerava que Mariupol, onde os russos “investiram tanto dinheiro”, estava fora de tudo o que se passa no resto do conflito.

“A inacessibilidade é um conceito muito relativo”, diz porta-voz das Forças Armadas

Certo é que foram ouvidas explosões na cidade do sul da Ucrânia, no domingo, de acordo com Petro Andriushchenko, um conselheiro do autarca da cidade ocupada — e, segundo o seu relato no Telegram, foram próximas de um grande aglomerado de militares russos. Já o Kyiv Independent escreve que as explosões foram próximas de um armazém de munição.

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“A inacessibilidade é um conceito muito relativo. O que é considerado inalcançável, nem sempre o é. Mariupol já não é completamente inalcançável para nós”, disse, na quinta-feira, Nataliya Humeniuk, porta-voz das forças armadas da Ucrânia.

Depois de um cerco de três meses, a cidade localizada à beira do Mar de Azov (Donetsk) está desde maio de 2022 sob controlo russo. A maior parte da cidade foi destruída, mas os russos começaram o trabalho de reconstrução.

Chegaram as bombas de pequeno diâmetro lançada no solo?

Entre as várias hipóteses apresentadas pela imprensa, a mais fácil é a de que as forças ucranianas tenham conseguido mudar de posição um sistema HIMARS ou M270, aproximando-o de Mariupol e conseguindo alcançar a cidade. Por outro lado, a ideia de haver no terreno armas ou munições novas tem mais adeptos.

O site especializado The Drive aposta numa das promessas dos Estados Unidos que, porém, ainda não deveriam ter sido entregues: as bombas de pequeno diâmetro lançada no solo (GLSDB) que têm um alcance de 150 quilómetros. O canal pró-russo Rybar, no Telegram, apontava nesse sentido. Sem citar fontes, afirmava saber que à cidade de Bogatyr, Donetsk, chegou uma dessas munições.

Na terça-feira passado, questionado sobre estas munições, o Pentágono escusou-se a comentar. A data prevista de entrega é junho. Outra hipótese, que não é de excluir, é que a própria Ucrânia esteja a desenvolver os seus mísseis balísticos, capazes de percorrer a distância necessária para atingir Mariupol, ou que tenha recorrido a drones kamikaze.

O New Voice of Ukraine cita fontes russas para avançar com uma outra possibilidade: “A arma usada pode ter sido o sistema de foguetes de lançamento múltiplo pesado Vilkha-M da Ucrânia (baseado no sistema soviético Smerch), que teria um alcance de 130 quilómetros.”

O que quer que seja pode ser o primeiro indício de que os ucranianos vão pôr-se a caminho da Crimeia, região anexada em 2014, e que Zelensky não desiste de recuperar.