Terá sido sabotagem doméstica. O ataque à base aérea de Machulishchy, próxima da capital da Bielorrússia, onde a Rússia estaciona algumas das aeronaves que usa na guerra contra a Ucrânia, foi atacada no domingo de manhã. Os primeiros relatos apontavam para um atentado das forças ucranianas, mas o ataque — que destruiu um importante avião da Federação Russa — já foi reivindicado por forças domésticas. Foram opositores do regime Aleksandr Lukashenko, ligados ao plano Peramoga (vitória) e ao movimento BYPOL, que não reconhecem legitimidade ao atual Presidente bielorusso.

Em declarações à imprensa do país, Alexander Azarov, antigo investigador dos serviços de segurança, e hoje líder da BYPOL, confirmou que o ataque foi levado a cabo por dois ativistas, com o recurso a dois drones. A aeronave, garantiu, ficou danificada e incapaz de ser utilizada nos próximos tempos.

A BYPOL é a Associação das Forças de Segurança da Bielorrússia, uma estrutura organizada criada por elementos que estavam ligados às forças de segurança, mas que não reconhecem Lukashenko como Presidente legítimo e que dizem estar prontas para derrubar o atual governo. Para eles, Sviatlana Tsikhanouskaya, que foi candidata nas eleições, é a legítima chefe de Estado.

O plano Peramoga considera que os direitos humanos estão em causa na Bielorrússia e foi concebido para unir cidadãos com diferentes visões políticas e diferentes profissões. “O objetivo principal e decisivo do plano é a restauração da lei e da ordem no nosso país por meio de uma transferência de poder organizada e mantida para o povo. Além disso, o nosso objetivo é proteger a integridade territorial e a soberania da República da Bielorrússia”, lê-se no manifesto.

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Rússia tem falta de AWACS. Agora foi danificado um dos poucos que voavam

Os drones conseguiram atingir a fuselagem central e frontal do Beriev A-50, segundo as declarações de Alexander Azarov. Devido aos danos extensos, o antigo militar garante que a aeronave terá de ser retirada de serviço por tempo indeterminado.

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A aeronave atingida é um avião de vigilância russo, o Beriev A-50, um AWACS, ou seja, que está equipado com um Sistema Aéreo de Alerta e Controle. A grande altitude, o seu radar é bastante mais potente do que os radares terrestres semelhantes, distingue entre aeronaves aliadas e hostis, e, no ar, é menos vulnerável a contra-ataques.

Os AWACS mais modernos conseguem ter um alcance de 400 km e têm a capacidade de usar os sensores de aeronaves amigas, tornando-se invisíveis ao inimigo, já que não são os seus próprios radares que estão a ser usados.

O Beriev A-50, que tem um enorme radar na fuselagem, voou pela primeira vez em 1978 e a sua produção terminou em 1992, já depois da queda da URSS. No total, terão sido construídas 40 aeronaves. Atualmente, durante o conflito com a Ucrânia, as estimativas são de que a Rússia tenha 15 aviões de vigilância deste tipo, divididos em duas categorias, o A-50M atualizado e o A-50U modernizado.

Este último sofreu sérios melhoramentos, a nível de sensores de radar, de eletrónica e de sistema de voo, tornando-se ainda mais fiável.

Quanto aos homens que levaram a cabo o ataque, já estarão fora do país. “Os guerrilheiros confirmaram uma operação especial bem sucedida para explodir um raro avião russo no aeródromo de Machulishchy, perto de Minsk”, escreveu Franak Viacorka, político próximo de Svetlana Tikhanovskaya, no Twitter, avaliando o alvo em 330 milhões de euros.

A mesma fonte garantiu que os dois homens estão em segurança.

“Estou orgulhosa de todos os bielorrussos que continuam a resistir à ocupação híbrida russa da Bielorrússia e lutam pela liberdade da Ucrânia”, escreveu, por seu lado, Tikhanovskaya no Twitter.