O Grupo Toyota, que na última década se bateu taco a taco com o Grupo Volkswagen pela liderança global na produção de veículos, passou a estar sozinho desde que a pandemia se impôs nas nossas vidas, a partir do final de 2019. Mas se lidera o mercado nas vendas, está algo atrasado na concepção e produção de modelos eléctricos a bateria, o que já motivou o afastamento do antigo CEO e neto do fundador, Akio Toyoda. O seu sucessor à frente dos destinos do construtor, Koji Sato, tem outra atitude e novas prioridades, o que já levou o gigante japonês a adquirir um Tesla Model Y e a desmontá-lo para conhecer os seus segredos. E as declarações dos responsáveis pela marca são, no mínimo, surpreendentes.

Os comentários da Toyota foram tornados públicos pelo Automotive News, a quem um executivo da empresa admitiu que a marca desmontou um Tesla Model Y para perceber o que este fabricante faz de diferente. Este tipo de análise dos veículos da concorrência não é propriamente uma novidade no sector, com a Tesla a ter já merecido anteriormente a atenção dos seus rivais, seja como acção de benchmarking ou para realizar estudos de reverse engineering e assim ficar a conhecer os seus truques. Recorde aqui os episódios que envolveram a BMW, Audi, Mercedes, Volvo e Porsche.

“Retirar a pele que reveste o Model Y permitiu-nos descobrir uma verdadeira obra de arte”, confessou o responsável pela Toyota que partilhou as conclusões da empresa com a referida publicação, para depois salientar que o novo modelo da Tesla os surpreendeu, ao “revelar uma filosofia de fabricação completamente diferente das primeiras unidades”. Esse trabalho de engenharia reversa terá servido de lição para o construtor nipónico, na medida em que a fonte citada pelo Automotive News acaba por admitir que a marca tem necessidade de fazer uma longa evolução face à base que serve o bZ4X: “isto leva-nos a ter de desenhar uma plataforma completamente nova, a partir de uma folha em branco.”

Os homens da marca japonesa estariam a referir-se às peças fabricadas pela Giga Press, as prensas assim denominadas e desenvolvidas pelos italianos da Idra, que na realidade realizam uma mistura de casting (forjar) e de moldagem, segundo uma nova tecnologia que utiliza alumínio macio, mas não líquido, que depois é introduzido no molde e pressionado sob pressão muito elevada. Esta técnica permite produzir numa só peça – por exemplo, toda a zona frontal de um Model Y – aquilo que, segundo a Tesla, necessitaria de 72 pequenas peças pelo método convencional, que depois tinham de ser soldadas ou aparafusadas entre si, poupando assim tempo e ganhando robustez e margem de tolerância.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O objectivo da marca norte-americana é construir toda a plataforma do Model Y com apenas três peças da Giga Press, uma para a zona frontal (que suporta motores, sistemas de deformação controlada para absorver energia dos embates e fixação de suspensões), outra para a zona posterior e uma terceira ao centro, para acolher o pack de baterias. Já Herbert Diess, o antigo CEO do Grupo Volkswagen tinha concluído que, com esta tecnologia, a Tesla conseguiria produzir um veículo em apenas 10 horas, contra as 30 horas que a VW necessitava para fabricar um ID.3.

“Os nossos eléctricos são lentos e caros de produzir”, afirma VW com medo da Tesla e dos chineses

Ainda segundo os responsáveis pela Toyota, “as Giga Press permitem eliminar centenas de peças do chassi e reduzir cerca de 100 kg ao peso total, incrementando a autonomia e cortando nos custos”. E é bom recordar que a Tesla pretende fabricar o seu próximo veículo, o Model 2 – se é que vai ser esta a denominação do modelo mais pequeno e acessível da gama – com a totalidade da plataforma produzida com apenas uma só peça, reduzindo ainda mais os custos e o tempo de produção.

Outra das vantagens descobertas pelos técnicos japoneses foram as tubagens de refrigeração das baterias e dos sistemas eléctricos, com 1,5 mm de diâmetro em vez dos habituais 3,5 mm. De acordo com os técnicos, esta opção leva a que os tubos aqueçam menos, não precisando por isso de ser tão pressurizados para evitar atingir o ponto de ebulição.