A Nissan foi sempre uma referência nos tempos em que os SUV eram jipes e as pick-ups tinham um peso determinante no mercado português. Agora, com os motores eléctricos a começarem a impor-se aos concorrentes a combustão, a marca japonesa aproveita para esgrimir os seus pergaminhos e recordar que quatro rodas motrizes continuam a ser melhor do que duas, nos novos Ariya e X-Trail, modelos que usufruem do sistema de tracção integral que os japoneses denominam e-4ORCE.

Para tornar evidente as vantagens em termos de comportamento e de segurança dos modelos equipados com o e-4ORCE, a Nissan propôs-nos ligar Toulouse a Andorra, em que era possível colocar à prova o Ariya e o X-Trail em auto-estrada, em retorcidas estradas de montanha e depois numa pista desenhada no gelo, já no principado. Seria precisamente aí que o sistema 4×4 japonês iria demonstrar todo o seu potencial, importante num momento em que a tracção integral em veículos equipados com motores eléctricos é sinónimo de maior potência, mais tracção e mais diversão, uma vez que permite propor modos de condução mais desportivos e até de drift.

X-Trail e-4ORCE: espaço para 7 mas consumo elevado

O primeiro dos Nissan e-4ORCE que conduzimos foi o X-Trail e-Power e-4ORCE, uma versão mais comprida do Qashqai com esta motorização híbrida, para assim oferecer espaço para sete ocupantes. Com mais 4 cm na distância entre eixos e mais 25,5 cm no comprimento total, o X-Trail possui uma zona posterior onde é possível alojar mais dois assentos rebatíveis para uso ocasional, em alternativa a mais 96 litros na bagageira.

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Os sete lugares ou o espaço adicional na mala são argumentos que vão agradar a alguns utilizadores, especialmente aqueles com famílias mais numerosas, ou que por vezes tenham de acomodar um maior número de crianças. É certo que as maiores dimensões elevam o peso do conjunto em cerca de 231 kg, mas o facto de dispor de 231 cv e 525 Nm – em vez dos 190 cv e 330 Nm do Qashqai – acaba por conferir ao X-Trail uma melhor relação peso/potência (8,3 kg/cv em vez de 8,9).

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Em auto-estrada aproveitámos para estabelecer os consumos, em plano e primeiro a 90 km/h, situação em que o X-Trail e-4ORCE registou 7,3 l/100 km, um valor muito elevado para uma mecânica híbrida, especialmente a uma velocidade em que ainda há uma percentagem importante do percurso exclusivamente em modo eléctrico. Com o incremento de velocidade nos 120 km/h, o consumo aumentou para 10,1 l/100 km, de novo um consumo bastante acima do esperado para um híbrido. Basta recordar que já aqui testámos outros híbridos, como o Renault Austral (com a mesma plataforma, mas apenas 4×2), em que registámos 4,3 litros a 90 km/h e 5,7 litros a 120 km/h, mas mesmas condições.

Confrontámos o engenheiro responsável pelo X-Trail em relação aos consumos elevados, que admitiu perante uma mesa de jornalistas de várias origens que “o SUV de sete lugares revela um apetite generoso”, avançando ainda que estão “a trabalhar para reduzir o consumo com a introdução de novas soluções”, que pretendem vir a disponibilizar, mas sem compromisso em matéria de datas.

Em tudo o resto, o X-Trail revelou-se um SUV sólido, agradável de conduzir e silencioso se em ritmo de passeio, quando os dois motores eléctricos – um de 204 cv à frente e outro de 128 cv atrás – exigem menos energia do 1.5 a gasolina sobrealimentado com três cilindros e 158 cv, que serve apenas para gerar energia para alimentar as unidades eléctricas, com uma bateria com cerca de 2 kWh a armazenar o excedente.

Na pista gelada de Andorra, o X-Trail e-Power e-4ORCE tentou extrair todas as vantagens de estar equipado com pneus de pregos, ainda que curtos, daqueles com que é permitido circular na via pública. O sistema e-4ORCE consegue ser, segundo o construtor, 10.000 mais rápido do que um controlo de tracção e de estabilidade convencional, como os que serviam os motores a combustão, por ser mais fácil modular um motor eléctrico, bem como aplicar pressão em cada uma das rodas para que o condutor recupere o controlo sobre o veículo. Ainda assim, pareceu-nos que o e-4ORCE assumia uma postura demasiado defensiva, talvez porque a Nissan não permitia sair do modo de condução Snow e optar pelo Sport. Mas já nas zonas sinuosas da estrada de montanha nos tínhamos apercebido que o e-4ORCE está mais orientado para segurança do que para a eficiência propriamente dita, ou o prazer de condução.

O X-Trail e-Power e-4ORCE já está disponível no nosso mercado, com a versão mais acessível, a N-Connecta, a arrancar nos 51.250€, um valor que nos parece competitivo para um SUV híbrido com quatro rodas motrizes e um habitáculo para sete ocupantes.

 Ariya com sistema e-4ORCE e bateria de 87 kWh

O contacto com o Ariya teve lugar nas mesmas condições do X-Trail, mas por ordem inversa, o que nos colocou primeiro no circuito gelado de Andorra, onde habitualmente se disputa o Troféu Andros. Com os mesmos pneus de pregos do Nissan de sete lugares, o SUV eléctrico japonês enfrentou sem problemas os arranques em subida, o slalom e as travagens sobre um piso que tinha mais gelo do que neve. Na pista propriamente dita, o Ariya impressionou mais pela segurança e pela facilidade com que se deixava conduzir, do que pela capacidade de lidar com o gelo reluzente de tão duro que estava.

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A descida de Andorra rumo a França permitiu-nos chegar lá abaixo com mais carga na bateria do que com que começámos, com o Ariya e-4ORCE a mostrar que privilegia mais o conforto o que a velocidade em curva, ou uma condução mais rápida. Mesmo quando acelerávamos com vigor, o SUV a bateria compensava o peso superior motivado pelo segundo motor e a bateria de maiores dimensões (91 kWh brutos e 87 úteis) com os 306 cv e 600 Nm que coloca à disposição do condutor, mais do que os 242 cv que possui nas versões com a mesma bateria mas apenas duas rodas motrizes, e os 218 cv da versão igualmente só com um motor, mas bateria de 63 kWh (66 kWh brutos).

No percurso em auto-estrada aproveitámos para medir os consumos a 90 e a 120 km/h, com o Ariya a registar no primeiro caso 15,0 kWh/100 km e no segundo caso 22,3 kWh/100 km. Não sendo valores de referência – o responsável técnico presente admitiu que os valores de consumo figuram no meio da tabela –, não destoam tanto da concorrência como os do X-Trail híbrido, sendo que este SUV nos cativou sobretudo pelo conforto, qualidade de construção e pela funcionalidade do interface com os smartphones.

O Ariya e-4ORCE tem a chegada a Portugal agendada para o Verão, com a versão Evolve, a mais simples com bateria de 87 kWh, a ser proposta por 66.000€, mais 3500€ do que a versão equivalente com apenas um motor. Valor elevado se tivermos em conta o actual líder das vendas, o Model Y da Tesla, que na versão Long Range exige menos 12 mil euros de investimento e ainda oferece mais potência, menos consumo e maior autonomia, apesar de montar uma bateria 13,8% mais pequena. Seria óptimo para os clientes nacionais que a guerra de preços a que a Nissan já aderiu na China, chegasse à Europa (e a Portugal) tão rapidamente quanto possível.