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“A Rússia não é o Putin”. Com estas palavras o ativista russo Dmitry Ivanov descrevia a oposição que se faz sentir no país contra a guerra na Ucrânia, horas antes de ser conhecido o veredito do tribunal de Moscovo que ditou o seu futuro: uma pena de oito anos e meio de prisão por disseminar informações falsas sobre o Exército russo.
“Nós não votámos nele e ele não nos perguntou [o que pensávamos] sobre começar esta guerra com os nossos vizinhos mais próximos”, disse à Sky News o estudante de 23 anos, descrevendo a invasão com uma “grande tragédia” para o povo ucraniano e para o russo e deixando um apelo à paz.
Sei que dezenas de milhares de pessoas aqui na Rússia são contra esta guerra criminosa. Muitos de nós têm amigos e familiares na Ucrânia e sentimos a sua dor”, disse antes de ser conhecida a sentença.
O veredito anunciado esta terça-feira não é uma surpresa. É o mais recente numa série de condenações desde que as autoridades russas apertaram o cerco de repressão em torno das manifestações públicas contra a invasão da Ucrânia. Desacreditar as Forças Armadas da Rússia pode significar uma pena de prisão de até cinco anos, enquanto disseminar informações falsas sobre o Exército pode chegar até aos 15 anos.
A condenação de Ivanov teve por base publicações anti-guerra que divulgava numa conta de Telegram que criou no ano passado. O canal de oposição, chamado Protest MSU (Moscow State University), era gerido pelo jovem e outros estudantes que frequentavam a mesma faculdade.
Segundo a AFP o estudante de matemática e cibernética partilhava frequentemente posts que criticavam a “operação especial militar”, termo utilizado pelo Kremlin para ser referir à guerra na Ucrânia. O canal do jovem começou a chamar a atenção das autoridades russas, o que lhe valeu duas detenções de curto prazo em 2022.
Em junho, quando estava prestes a cumprir os 35 dias de deteção administrativa, foi acusado e transferido para um centro de detenção enquanto aguardava julgamento. O processo culminou esta terça-feira numa sessão de tribunal em que declarou inocente, acabando por ser condenado a quase nove anos de prisão.
A Amnistia Internacional (AI) já reagiu à condenação, que descreveu como uma “nova demonstração da repressão brutal da dissidência anti-guerra levada a cabo pelas autoridades russas”. “Mostra que qualquer pessoa que alegue que as forças russas cometeram crimes de guerra vai pagar por isso atrás das grades”, afirmou Natalia Zviagina, da AI Rússia.
A responsável condenou o sistema judicial russo, que “já não mantém qualquer aparência de imparcialidade”, criticando os procuradores e o juiz por aceitarem como verdade factual as declarações dos oficiais russos, sem considerar uma verificação independente. “Tudo o que os contradizia foi descartado como falso”, afirmou.
O caso de Ivanov soma-se ao de 458 pessoas que, segundo a organização não-governamental OVD-Info, são suspeitas ou foram condenadas em processos criminais anti-guerra.