O bispo auxiliar de Lisboa, D. Américo Aguiar, diz que Lisboa conta “eventualmente amanhã”, ou seja, na sexta-feira, apresentar informações sobre a lista de alegados abusadores que recebeu por parte da comissão independente.
Em declarações aos jornalistas, o bispo auxiliar indicou que o “respeito pelas vítimas também significa fazermos tudo direitinho“, indicando que a diocese não quer “fazer juízos nem tomar decisões que não respeitem o Estado de direito”.
Várias dioceses estão a emitir comunicados sobre o que decidiram fazer com a informação que receberam por parte da comissão independente. Esta quinta-feira, a diocese do Algarve disse que recebeu da comissão uma lista com dois nomes — um deles era já um caso conhecido e o segundo é desconhecido, levando a diocese a pedir mais informações à comissão.
O bispo auxiliar de Lisboa diz que “cada bispo e cada diocese” fará o que entender com a lista que recebeu na passada sexta-feira.
E, nestas declarações, frisa que os bispos receberam “uma lista com nomes, ponto”, depois de o psiquiatra Daniel Sampaio ter declarado que a Igreja recebeu mais informação além dos nomes. D. José Ornelas disse na conferência de imprensa de 3 de março que os bispos tinham recebido apenas nomes, dificultando a investigação. “É uma lista de nomes. Sendo uma lista de nomes, sem outra caracterização, torna-se difícil essa investigação, exige redobrados esforços”, disse Ornelas.
Desta vez, D. Américo Aguiar quis evitar guerras com a comissão independente: “Tenho a fama de ser fazedor de pontes. E quando estamos do lado dos cacos, alguém tem de estar do lado da cola. Tenho muito respeito por todos os intervenientes e estou a entender as duas partes”, disse, antes de garantir que ambos os lados estão “a dizer a verdade”: “A comissão diz que aqueles nomes não caíram do céu por pozinhos de perlimpimpim. Se calhar muita dessa informação está no relatório e é uma questão de fazer o trabalho de casa. Ninguém está contra ninguém”.
E, nesta declaração, coube-lhe esclarecer várias das declarações que geraram polémica na conferência de imprensa de D. José Ornelas. Desde logo, sobre as indemnizações: se o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa tinha recusado a hipótese de a Igreja poder pagar às vítimas, D. Américo Aguiar defendeu que, por um lado, quando o criminoso não tiver possibilidade de pagar a indemnização, deve ser a Igreja a fazê-lo; mas a instituição também deve pagar se ficar provado que ajudou a encobrir um caso ou “assobiou para o ar” (“é o que sinto como cristão e como bispo”).
Por isso, disse “entender” que D. Manuel Clemente tenha dito que pagar indemnizações seria um insulto — porque, justificou, houve vítimas que rejeitaram essa hipótese — mas defendeu uma ideia diferente, sublinhando que a Igreja deve fazer o que puder, mesmo que seja apenas uma medida “paliativa” em comparação com o sofrimento das vítimas.
Na mesma linha, disse querer “esclarecer direitinho” o que D. Manuel Clemente quis dizer quando garantiu que só a Santa Fé poderia suspender os suspeitos: “A Santa Sé diz que não se deve utilizar a linguagem da suspensão, mas deve-se dizer proibição do exercício público do ministério. (…) Isto significa que se a comissão disser que as pessoas A, B e C devem ser afastadas do exercício público do ministério, elas serão. No café isto quer dizer o quê? Que foram suspensas.”
E, sobre as declarações do bispo de Beja, que sugeriu um perdão para padres que tenham cometido abusos e se tenham arrependido, também tentou corrigir: “Compreendo que os portugueses se possam sentir um bocadinho baralhados com alguns pronunciamentos que, à primeira partida, possam não vir ao encontro do que é a expectativa das pessoas. Porque se estamos nesta fase a falar de identificar possíveis criminosos, processos e condenações, quando alguém à partida está a falar do perdão pode fazer baralhação na cabeça e no coração“. Ou seja: o tempo não é para falar de perdão, mas para “a justiça, a verdade e a ação”.
“Acredito que todas as dioceses, bispos e comissões diocesanas estão a trabalhar”, foi garantindo, questionado sobre a razão para cada comissão diocesana decidir o que fazer em relação às listas que recebeu em vez de haver uma orientação geral — mesmo admitindo que por vezes essa organização por dioceses “nem sempre é favorável à sincronização dos processos”. Até porque cada uma precisa de um tempo diferente para fazer a sua análise, insistiu: “Fizemos uma viagem de 70 anos num ano e qualquer coisa. Aceito que cada comissão precise de timings diferentes“. Pela sua parte, D. Américo Aguiar disse também que já leu “várias vezes o relatório” feito pela comissão independente.