É uma reação de peso à crescente pressão do Governo sobre o setor da distribuição. A CEO da Sonae, Cláudia Azevedo, enviou esta quinta-feira uma carta aos colaboradores do grupo, à qual o Observador teve acesso, na qual contesta a ideia de que o aumento dos preços dos alimentos está relacionado com uma apropriação das margens por parte da distribuição.
“Nos últimos tempos, temos assistido, em Portugal, a uma campanha de desinformação sobre as causas da inflação alimentar, com danos gravosos para a reputação do setor da distribuição alimentar”, começa por escrever a líder da dona do Continente.
Para Cláudia Azevedo, “sendo certo que o nível de inflação dos produtos alimentares tem sido mais elevado do que a inflação média geral, a verdade é que se trata de um fenómeno global e com causas bem identificadas e associadas às cadeias de produção”. Tem sido esta, aliás, a posição do setor desde que o aumento dos preços começou a acentuar-se.
A líder sublinha que “os culpados da inflação não são os hipermercados/ supermercados”. Tal como já tinha sido avançado pelo grupo na última apresentação de resultados, Cláudia Azevedo volta a ressalvar que o grupo baixou as suas margens “para acomodar o aumento dos custos, que também nós sofremos”. Diz ainda que o grupo desenvolveu “soluções para ajudar os clientes a mitigar os efeitos do aumento do custo de vida”.
Cláudia Azevedo agradece aos colaboradores do Continente “numa altura em que a sua reputação está a ser atacada”, e nota que as decisões do grupo são orientadas “pelos valores”.
Esta quinta-feira o ministro da Economia e a ASAE realizaram uma conferência de imprensa para divulgar uma estratégia com a qual pretende aferir as causas pelas quais a inflação alimentar está acima dos 20%, quando a inflação geral está nos 8,4% e tem caído nos últimos meses. A ASAE tem estado a fiscalizar os supermercados e encontrou casos em que as margens brutas dos produtos chegam aos 50%. O Governo está a estudar, como o Observador avançou, medidas de outros países para lidar com a subida dos preços dos alimentos. O Executivo diz que será “inflexível com situações anómalas”.