A Arábia Saudita e o Irão possuem um passado conjunto conturbado, tendo rompido relações em 2016. Na passada sexta-feira, os dois países colocaram as divergências de lado, reaproximarando-se diplomaticamente. Riade e Teerão vão reabrir as embaixadas em ambas as capitais daqui a dois meses e um acordo que incidia em áreas como o combate ao terrorismo, à lavagem de dinheiro e ao tráfico de droga vai voltar a vigorar. Para chegarem a acordo, contaram com a mediação de um Estado que não costuma espalhar a sua influência geopolítica no Médio Oriente: a China.  

“Vamos continuar a desempenhar um papel construtivo a resolver adequadamente de questões críticas no mundo”, afirmou o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, assegurando que a China vai continuar a “demonstrar a sua responsabilidade”, já que é um país que desempenha um “papel importante” no seio da comunidade internacional. Citado pela CNN internacional, o responsável diplomático de Pequim sublinhou que o “mundo não está limitado à questão ucraniana”.

Com esta movimentação diplomática, a China ganha relevo enquanto “ator diplomático e estratégico” no Médio Oriente. À CNN Internacional, Hussein Ibish, analista no Instituto dos Países do Golfo Pérsico, considera que esta ação concede a Pequim um “papel único” ao ser capaz de “reatar as relações entre Teerão e Riade, ocupando uma posição que previamente era ocupada pelos países europeus e pelos Estados Unidos”. 

O aumento da influência chinesa no Médio Oriente “não será particularmente agradável para Washington”, constata Hussein Ibish. Contudo, os Estados Unidos dificilmente conseguiriam participar num encontro diplomático destes, uma vez que estão de relações cortadas com o Irão. Ciente disto, Pequim decidiu intervir para que os dois países reatassem relações. “O papel da China é impressionante”, caracteriza  Sanam Vakil, analista do think tank Chatham House, à CNN internacional, ressalvando, no entanto, que os interesses económicos “da China na região” também pesaram na mediação.

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Por sua parte, os Estados Unidos saudaram o acordo diplomático, se conseguir, principalmente, pôr termo ao conflito no Iémen, país em que a Arábia Saudita e o Irão apoiam lados opostos. No entanto, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, tem dúvidas de que os “iranianos honrem a sua parte do acordo”. “O regime [do Irão] normalmente não honra a palavra.”

“Os sauditas mantiveram-nos informados dessas conversas que estavam a ter [com o Irão e com a China], mas não nos envolvemos diretamente”, indicou também John Kirby, realçando que Washignton apoia os esforços para “desescalar as tensões” no Médio Oriente. “É do nosso interesse é algo em que nós continuamos a trabalhar através de uma combinação entre dissuasão e diplomacia.” 

Irão isolado, Arábia Saudita sonha com acordo com Israel

Nos últimos meses, a Arábia Saudita e o Irão já se vinham reaproximando. A alteração da conjuntura internacional levou a que os dois países percebessem que tinham mais a ganhar se reatassem relações diplomáticas.

Pela parte do Teerão, o objetivo passa por tentar terminar com o isolamento internacional. Após os protestos pelos direitos das mulheres e o fornecimento de armamento à Rússia na guerra da Ucrânia, os Estados Unidos e mais recentemente a Europa têm vindo a pressionar o regime iraniano e a aplicar sanções económicas contra o país. Ora, com o restabelecimento de relações com a Arábia Saudita, o Irão ganha mais um parceiro económico.

De acordo com a Al Jazeera, o acordo com a Arábia Saudita está a ser bem visto pelos dirigentes iranianos. A imprensa local destaca que este é um passo para reduzir as tensões regionais, assim como se trata de uma derrota para os dois maiores inimigos do Irão: os Estados Unidos e Israel.

Já para a Arábia Saudita, de acordo com Hussein Ibish, a aproximação ao Irão faz parte de uma “ofensiva diplomática com várias frentes“. “Assim que a Arábia Saudita normalizar relações com o Irão, produz-se um potencial cenário de, eventualmente, normalizar as relações com Israel”, aponta o especialista.