João Gonzalez e a COLA Animation estiveram nos Óscares com o filme “Ice Merchants”. A primeira longa-metragem de Nuno Beato, “Os Demónios do meu Avô”, tem feito a rota de festivais, com presença nos prémios Goya de 2023 e estreia-se no início de maio em Portugal. Miguel Ribeiro, o primeiro português a vencer um Cartoon d’Or (“A Suspeita” em 1999), vai estrear “Nayola”, a sua primeira longa metragem, desta feita sobre o impacto da guerra civil em Angola, a 13 de abril. Está nomeado para os prémios anuais do Cartoon Movie, que decorre no próximo dia 7 e 9 de Março, em Bordéus. Muito prémio. Muita qualidade. A reboque deste bom momento Luís Chaby, presidente do Instituto de Cinema e Audiovisual, confirma que os apoios para a animação vão aumentar.
Mas este aumento não se deve ao recente percurso que João Gonzalez e o seu “Ice Merchants” tem tido rumo aos Óscares, diz o responsável: “Não somos cataventos, não atuamos ao sabor dos prémios. Estes aumentos já estavam pensados. Portanto, vai haver um aumento substancial na área da longa metragem e das séries televisivas”. Luís Chaby não revelou o valor em causa, por ainda não estar homologado.
Para se perceber o que está em causa, o melhor é olhar para o que cada animador português pode conseguir se for “ao grande financiador” desta área no país, o ICA, a par da RTP. De dois em dois anos, existem atualmente 350 mil euros para longas-metragens de animação. No que diz respeito às curtas-metragens — formato onde Portugal mais se tem destacado lá fora — o valor máximo por projeto é de 120 mil euros, 90 mil euros para primeiras-obras (“Ice Merchants” conseguiu este financiamento), num bolo total que vai aos 900 mil euros.
No entanto, para a produção de obras audiovisuais e multimédia de animação, esse valor é menor, tendo a dimensão dos projetos em causa: 600 mil euros no total, num máximo de 300 mil euros para uma série de animação e 100 mil euros para especiais de animação para televisão. Não chega. E Luís Chaby sabe disso. “Temos sido os principais financiadores desta área mas não deveria ser assim. O audiovisual deveria ser mais ativo. Lá fora os broadcasters investem”.
Luís Chaby explica que esta mudança se deve a outro aumento — neste caso, de receitas. “Sim, foi substancial e ocorreu graças às receitas da transposição da diretiva, onde novos operadores estão sujeitos a pagamentos de taxas de exibições e as plataformas de streaming têm de pagar uma taxa de subscrição”. Esse aumento, por outro lado, tem já um valor real: oito milhões de euros diretos para O ICA. “Não quer dizer que seja sempre assim”, esclarece o presidente daquele instituto. Ou seja, em 2023 será, depois, ninguém sabe. O que é certo é que, olhando para as produções portuguesas de maior envergadura, estão a sair para o mercado com uma posição maioritária, e isso, segundo Luís Chaby, é um sinal positivo do investimento feito até aqui.
A par disso, os custos de funcionamento do ICA passaram a constar do Orçamento do Estado, o que se torna, explica o responsável, outro fator importante para que haja mais financiamento nos apoios públicos. No fim de contas, e somando todas as obrigações de investimento, mais os apoios públicos do instituto e do Fundo de Apoio ao Turismo e ao Cinema, pode chegar-se aos 70 milhões de euros no mercado português. “Já é um número do qual não nos podemos envergonhar”, diz.