Centenas de estudantes estiveram esta quinta-feira em protesto contra aquilo que dizem ser “barreiras ao ensino superior” antigas, mas que afetam cada vez mais jovens e levam muitos a desistir.

“Bolsas sim, propinas não”, “Dói a propina, dói” ou “Educação é um direito, sem ela nada feito” são palavras de ordem que se escutam há vários anos em manifestações estudantis. No protesto que percorreu esta quinta-feira as ruas de Lisboa, da Faculdade de Belas Artes a São Bento, também fizeram parte do reportório.

Sob o mote “Até quando o muro vai aumentar? Fim às barreiras no ensino superior”, a manifestação, organizada por associações de estudantes de dez instituições de ensino superior juntou centenas de universitários, com reivindicações comuns.

“Este muro não aparece por acaso, é fruto de opções políticas de há muitas décadas para cá e é composto por vários tijolos”, sublinhou Mafalda Borges, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

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As propinas são, desde logo, a primeira barreira à entrada dos estudantes, refere Mafalda, enquanto um colega da Faculdade de Ciências acrescenta que “a única coisa que a propina faz é seriar aqueles que conseguem entrar no ensino superior dependendo das suas condições sócioeconómicas”.

Quando Duarte Carvalho entrou na universidade viu colegas desistirem pouco tempo depois porque não conseguiram suportar todos os custos associados. A propina é apenas um entre muitos outros, sobretudo para estudantes deslocados.

Cada vez temos recebido mais queixas, mais denúncias de estudantes que não conseguem pagar propinas, o passe, alimentação e ainda terem que estar a pagar uma renda no mercado privado. É muito preocupante”, relatou também Mafalda.

Os problemas agravam-se no atual contexto, marcado pela inflação, o aumento do custo de vida e, sobretudo, a crise na habitação. E, apesar de o Governo ter reforçado e alargado a ação social escolas, os apoios continuam a ser insuficientes, dizem os estudantes.

“Num momento em que a inflação aumenta, o custo de vida aumenta e tudo o resto não é atualizado, claro que os estudantes vão perder poder de compra, não conseguem pagar um quarto, não conseguem pagar três euros todos os dias por uma refeição escolar. As ajudas que estão a ser dadas são claramente insuficientes, ainda que positivas”, sublinhou Mariana Metelo.

Para a presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a esmagadora maioria dos problemas daquilo que considera ser o subfinanciamento crónico do ensino superior, com repercussões na ação social escolar que diz ser insuficiente.

Duarte Carvalho concorda e quando descreve a ação social escolar como um “penso rápido para os problemas dos estudantes” acrescenta que não pode ser vista dessa forma e que as verbas destinadas às instituições no Orçamento do Estado “não fazem jus às necessidades”.

Na véspera do Dia Nacional do Estudante, as duas dirigentes estudantis sublinharam que a adesão à manifestação não surpreendeu porque “todos os estudantes sentem os problemas na pele”.

Mafalda ainda acrescentou: “Mas podia ser só um estudante, que nós estaríamos sempre aqui, a lutar por um ensino superior ao acesso de todos”.