O Presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, apelaram esta sexta-feira ao apoio da comunidade internacional à Tunísia, confrontada com uma grave crise financeira, para “conter a pressão migratória” que o país representa para a Europa.

“Na Tunísia, a fortíssima tensão política, a crise económica e social que se alastra na ausência de um acordo com o Fundo Monetário Internacional [FMI], [são] muito preocupantes”, declarou Macron, numa conferência de imprensa no encerramento de uma reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas.

“[A crise tunisina] leva a uma desestabilização muito grande do país e da região e a um aumento da pressão migratória sobre a Itália e sobre a União Europeia [UE]”, disse Macron, apelando a uma “atuação conjunta” a nível europeu para ajudar a Tunísia e permitir o “controlo da emigração” .

O Presidente francês insistiu na importância de se conseguir “travar, a muito curto prazo, os fluxos migratórios que saem da Tunísia” e disse ter falado sobre o assunto com a chefe do Governo italiano durante um encontro bilateral.

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Meloni, referindo-se aos receios de mais uma “onda migratória”, considerou “ter tratado” do assunto durante a reunião de Bruxelas, sublinhando que “talvez nem todos os países estejam cientes dos riscos criados pela situação na Tunísia“.

Questionada sobre uma possível missão ítalo-francesa à Tunísia com a comissária europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, a chefe do executivo italiano respondeu que tudo isso está previsto.

“Sim, há uma missão a nível de ministros dos Negócios Estrangeiros, há várias neste momento que vão à Tunísia. Se não enfrentarmos os problemas adequadamente, corremos o risco de ver uma onda de migração objetivamente sem precedentes“, disse Meloni, cujo Governo de extrema-direita está a seguir uma linha anti-imigração.

Os apelos de Macron e de Meloni acontecem também um dia depois de mais um naufrágio na costa tunisina no mar Mediterrâneo de uma embarcação precária com 38 migrantes oriundos da África Subsaariana a bordo, em que apenas se conseguiram salvar quatro. Os restantes 34 estão dados como desaparecidos.

“Um barco com migrantes afundou-se na costa de Al Lauza [na província de Sfax, leste] com 38 migrantes a bordo”, afirmou Romdhane ben Amor, membro do Fórum Tunisino para os Direitos Sociais e Económicos (FTDES), numa publicação na rede social Facebook.

Esta sexta-feira, Meloni disse ter também discutido a situação na Tunísia com o comissário europeu para a Economia, Paolo Gentiloni, que estará em Tunes nos próximos dias.

“É preciso trabalhar a nível diplomático para convencer as duas partes, o FMI e o Governo tunisino, a concluírem um acordo para estabilizar financeiramente a região”, sublinhou.

A Tunísia está há vários meses a negociar com o Fundo Monetário Internacional um empréstimo de quase 2.000 milhões de dólares ( milhões de euros), mas as discussões entre as duas partes parecem ter parado desde que, em meados de outubro, foi previsto um acordo de princípio.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, por seu lado, alertou segunda-feira que a situação na Tunísia é “muito perigosa”, evocando mesmo um risco de “colapso” do Estado suscetível de “provocar fluxos migratórios para a UE e causar instabilidade na região MENA” (Oriente Médio e Norte da África), análise descrita como “desproporcional” e rejeitada por Tunis.

A Tunísia tornou-se nos últimos anos um dos principais pontos de partida de barcos com migrantes de vários países de África, nomeadamente da região subsaariana, que tentam atravessar o mar Mediterrâneo para chegar à Europa.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) divulgou no seu portal oficial na internet que, só este ano, mais de 430 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas ao tentar cruzar o Mediterrâneo, número que chegou quase a 2.400 em 2022, o maior desde 2017.