Um estudo do Instituto Ricardo Jorge conclui que em Portugal o risco de morrer é maior agora do que antes da pandemia, o que não é apenas explicado pelo envelhecimento da população.
No Relatório de Monitorização da Mortalidade de 2022, divulgado esta terça-feira, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) diz que o aumento do risco de morrer relativamente aos anos pré-pandemia “não parece explicado pelo envelhecimento populacional, que até 2019 parecia ser o principal fator associado ao aumento da taxa bruta de mortalidade”.
Os peritos do INSA referem que, com os dados disponíveis, não é possível saber se o aumento do risco de morte é totalmente explicado por eventos como os picos de gripe, Covid-19 e períodos de calor e frio extremos ou se “outros fatores associados à pandemia” poderão ter contribuído indiretamente para o aumento da mortalidade ou para potenciar o efeito dos restantes fatores.
Para responder a estas questões, o INSA diz que é necessário conhecer as causas de morte específicas durante o período da pandemia, “identificando potenciais diferenças em relação ao período pré-pandemia”, de modo a que seja possível “identificar os fatores determinantes associados às potenciais variações encontradas nas principais causas de morte”.
Os autores do relatório dizem ainda que, ao contrário do que se observava antes da pandemia, “a taxa de mortalidade padronizada aumentou a partir de 2020 e ainda não regressou aos valores pré-pandemia“.
O documento diz que foram observados períodos de excesso de mortalidade por todas as causas, “de duração e magnitude variável”, em todas as regiões de saúde, sendo que os períodos ocorridos no verão foram os que atingiram um maior número de regiões.
A região Norte foi aquela na qual se observou um maior número de semanas com excesso de mortalidade, distribuídas por quatro períodos ao longo do ano 2022.
O Alentejo, Algarve e Açores foram as regiões nas quais se observou um menor número de semanas com excesso de mortalidade, refere o INSA, que salienta que as regiões autónomas apresentam geralmente um menor número de períodos de excesso de mortalidade relativamente às regiões de Portugal Continental, “provavelmente pelo menor efeito dos fenómenos climáticos extremos“, pelo que — sublinha — “o padrão de mortalidade deste ano é distinto do habitualmente observado nas Regiões Autónomas”.
Em todas as regiões de saúde, comparando a mortalidade por todas as causas e a mortalidade por todas as causas excluindo os óbitos por Covid-19, verifica-se que na primeira metade do ano vários dos períodos de excesso de mortalidade “não teriam sido identificados ao excluir a mortalidade por Covid-19”, o que indica que a Covid-19 terá sido um dos principais fatores a contribuir para o excesso de mortalidade até julho.
No entanto, no segundo semestre de 2022, o relatório indica que os excessos de mortalidade se mantêm, mesmo excluindo os óbitos por Covid-19. Esta situação — refere o INSA — “sugere a existência de outros fatores responsáveis pelos excessos de mortalidade observados” na segunda metade do ano.
O relatório de monitorização da mortalidade, que analisou o período 03 de janeiro de 2022 e 01 de janeiro deste ano, aponta para 124.602 óbitos em Portugal (124.909, considerando o ano civil de 2022) e um excesso de 6.135 mortes.
Do total de óbitos, 42.790 foram registados na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e 55.368 no grupo etário com 85 e mais anos de idade.
A semana do ano em que menos se morreu (1.919 óbitos) foi entre 26 de setembro e 02 de outubro. Ao contrário, aquela com valor máximo de mortos foi a de 12 a 18 de dezembro (2.919).