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No domingo à noite, a Interfax já tinha avançado que Daria Trepova, uma conhecida ativista anti-guerra, que já em fevereiro do ano passado tinha estado alguns dias presa por participar numa manifestação contra a invasão da Ucrânia, tinha sido detida pelo alegado envolvimento na explosão que vitimou o blogger pró-Kremlin Vladlen Tatarsky e provocou mais de 30 feridos, dez deles em estado grave.

Esta segunda-feira de manhã, a Rússia confirmou oficialmente, através da principal agência de investigação criminal do estado, a detenção de Trepova, de 26 anos. “Oficiais do Comité Investigativo da Rússia, em cooperação com agentes, detiveram Daria Trepova por suspeita de ela estar por trás da explosão num café em São Petersburgo”, cita a Tass.

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De acordo com a agência russa, tudo aponta para que tenha sido Daria Trepova a entregar a Tatarsky (cujo verdadeiro nome era Maxim Fomin) o artefacto explosivo com mais de 200 gramas de TNT que lhe provocou a morte.

São Petersburgo. O que se sabe (e o que falta saber) da explosão em café que matou o comandante militar russo Vladlen Tatarsky

Entretanto, no Twitter circulam vídeos do momento da chegada de Trepova ao café Street Food Bar No. 1, com uma caixa de grandes dimensões nas mãos, e também da explosão.

A bomba estaria dissimulada no interior de uma estatueta que foi entregue em mãos a Vladlen Tatarsky, que tinha 560 mil seguidores na rede social Telegram e que na altura participava num debate num café em São Petersburgo.

Ainda de acordo com a TASS, a casa de Daria Trepova foi revistada durante a noite de domingo. A mãe e a irmã da ativista foram interrogadas na ocasião pelas autoridades.

Entretanto Alisa Smotrova, uma mulher que diz ter testemunhado a explosão, revelou à imprensa tudo o que aconteceu antes de o caos se instalar no café, junto às margens do rio Neiva.

De acordo com Smotrova, Daria Trepova terá participado ativamente no debate e trocado mesmo algumas palavras com Vladlen Tatarsky.

Apresentando-se como “Nastya”, a ativista terá dito ao conhecido blogger que tinha levado um busto dele próprio, feito em gesso, para lhe entregar, mas que a segurança não lhe teria permitido entrar no café com ela — por receios de que pudesse ser uma bomba.

Segundo Alisa Smotrova, “Nastya” e Tatarsky ter-se-ão rido dessa possibilidade e, ato contínuo, a mulher foi até à porta, recuperou a estatueta, e colocou-a na mesa a que o blogger estava sentado. A explosão ter-se-á dado pouco depois — não sem antes Trepova ter abandonado o café.

Daria Trepova, nascida em São Petersburgo a 16 de fevereiro de 1997, está, de acordo com as autoridades russas, sob investigação pelo alegado envolvimento num “assassinato de alto perfil”. Segundo o site independente russo de notícias Meduza, também o seu marido, Dmitry Rylov, estará a ser procurado pelas autoridades, informação que o Partido Libertário, de que faz parte, já veio desmentir.

De acordo com o partido, Rylov, que está neste momento no exílio, não estará relacionado com o atentado — que o partido fez, aliás, questão de condenar. Daria Trepova, esclareceu ainda a mesma fonte, não tem qualquer vínculo com o Partido Libertário.

Ambos, marido e mulher, foram detidos numa manifestação a 24 de fevereiro de 2022, o dia em que começou a guerra na Ucrânia. Na altura, estiveram dez dias em “prisão administrativa”. Entretanto, Rylov abandonou o país.

Em declarações já esta segunda-feira ao portal SVTV News, Dmitry Rylov defendeu a mulher: “Acredito que a minha esposa foi incriminada. Tenho certeza de que ela nunca seria capaz de fazer algo assim sozinha. Sim, eu e a Daria realmente não apoiamos a guerra na Ucrânia, mas acreditamos que tais ações são inaceitáveis. Tenho 100% de certeza de que ela nunca teria concordado com isto se soubesse ”.

Noutra entrevista, citada pelo Novaya Gazeta, Dmitry Rylov revelou que, além da mulher, também Dmitriy Kasintsev, o proprietário do apartamento onde ela estava escondida, terá sido detido pelas autoridades. E voltou a reiterar a inocência da jovem, com quem terá estado em contacto ao longo das últimas horas: “A Daria tinha de entregar um presente qualquer numa espécie de missão. Há um ponto muito importante, que ela me disse repetidamente por mensagem: ela achava que esta coisa ia fazer com que se tivesse acesso à pessoa, isto é, não que fosse algo que era suposto explodir”.

Esta teoria, diz a russa RBC, estará a ser equacionada pelas próprias autoridades. Citando fonte do Ministério do Interior, o jornal diz que a jovem pode “ter sido usada” e ter entregado efetivamente a estátua-bomba sem saber o que ela continha. Para consubstanciar a tese, esta fonte terá revelado que Daria Trepova já se teria “correspondido” com Tatarsky antes e também coincidido com ele noutros eventos — resta saber por que motivo uma ativista anti-guerra manteria contacto com uma das principais vozes públicas pró-Kremlin.

Entretanto, ao fim da manhã, o Ministério do Interior da Rússia revelou um vídeo do primeiro interrogatório de Daria Trepova, que até há pouco tempo terá trabalhado como vendedora numa loja de roupas vintage.

Nas imagens, traduzem os media russos, pode ver-se e ouvir-se a jovem, de 26 anos, a responder a várias perguntas. Questionada sobre se sabe por que foi detida, Trepova terá respondido que acha que foi por “estar no local do assassinato de Vladlen Tatarsky”.

Depois de admitir ter entregue ao blogger o objeto que viria a explodir, Daria Trepova ter-se-á escusado a denunciar a proveniência da estátua. “Posso dizer-lhe mais tarde?”, terá perguntado.

Escreve também o Meduza, a partir das informações publicadas noutros jornais russos, Daria Trepova, que se terá mudado de São Petersburgo para Moscovo “há algum tempo”, terá voltado à segunda maior cidade da Rússia na véspera da explosão — de onde deveria voar, para fora do país, justamente na noite deste domingo, dia 2 de abril.

Conhecida no meio feminista e pacifista de São Petersburgo como “Dasha Tykovka”, pseudónimo que utilizava no Twitter, acabou por não conseguir fugir e foi, mais uma vez, detida, agora na cidade onde nasceu.

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