O diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS) português assegurou esta terça-feira que a Europa está atualmente “melhor preparada” para combater o terrorismo, mas continua um passo atrás dos acontecimentos face a às novas tecnologias utilizadas pelos grupos terroristas.
Adélio Neiva da Cruz discursava na conferência “Estará a Europa Mais Preparada Perante a Ameaça Terrorista?”, promovida pelo Observatório do Mundo Islâmico (OMI), pela Autónoma Academy, em que participou também o diretor da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves.
“Sim [está mais bem preparada], uma vez que há uma experiência acumulada pelos serviços de informações e pelas forças de segurança relativamente à prevenção e ao combate ao terrorismo. Sim, também, porque há uma consciência do caráter transnacional desta ameaça que resultou numa intensificação da cooperação internacional, nestes planos”, afirmou Neiva da Cruz.
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O diretor do SIS destacou que, tanto a nível nacional como europeu, foram desenvolvidas e implementadas medidas, mesmo no plano legislativo, para prevenir a radicalização para o extremismo violento e terrorismo, que contaram com o envolvimento da sociedade civil e de entidades com responsabilidade por conteúdos online.
“Mas, sem querer ser pessimista, há outros aspetos que nos levam a responder o contrário. Por exemplo, a exploração de novas tecnologias e ambientes é sempre mais célere por parte de extremistas e terroristas do que por parte das entidades que lhe devem dar resposta, mesmo que estas últimas tenham antecipado o potencial dessas tecnologias para o terrorismo”, sustentou.
Para Neiva da Cruz, as entidades que se dedicam à prevenção e combate ao terrorismo “estão sempre dependentes de ‘inputs’ legislativos, financeiros, tecnológicos e de recursos humanos”, que “têm os seus timings próprios”.
“Neste contexto, devemos estar já particularmente atentos à exploração do ‘metaverso’ e de ferramentas de Inteligência Artificial por agentes de ameaça terrorista, visto que oferecem possibilidades de atividade mais amplas e sofisticadas”, sublinhou.
Por outro lado, acrescentou, o fenómeno dos “lone actors”, radicalizados ou auto-radicalizados ‘online’, “continua a colocar desafios enormes”, sobretudo “quando se diversificam as matrizes do terrorismo (islamista, de extrema-direita, anarquista, antissistema, etc) e se agravam as fragilidades nas democracias”.
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“É inquestionável que nos encontramos perante uma evidente migração de todas as ameaças convencionais à segurança e defesa dos Estados e dos seus cidadãos para o universo digital”, argumentou.
“Aí, a criminalidade, o terrorismo, a subversão e a espionagem convivem e encetam um diálogo cooperativo com ameaças autóctones, promovendo a criação de novos universos de risco, agora adstritos a originais quadrantes de anonimato, de impacto e de disrupção, maioritariamente conduzidos mediante a original superação do histórico pressuposto da proximidade física à vítima”, acrescentou Neiva da Cruz.
Por seu lado, o diretor da PJ portuguesa salientou a importância de uma cada vez maior interação entre as diferentes forças de segurança para prevenir o terrorismo, frisando, tal como Neiva da Cruz, que a Europa está agora melhor preparada para se defender de atos terroristas.
Para Luís Neves, e a título de exemplo, a partilha de informações entre a Europol e a Interpol permitiu reconstituir, 24 horas depois, os passos dos autores dos atentados terroristas de 2005 em Londres.
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O diretor da PJ lamentou, nesse sentido, que, apesar da partilha de dados entre as diferentes instituições de segurança internacionais, os autores e/ou grupos de terrorismo se aproveitarem também da Internet para promover outro tipo de ações que ajudam a fomentar o fenómeno, como os populismos, as “fake news” e os ódios de todos os tipos (racial, religioso, etc).