Uma ligeira diferença mas com algum simbolismo para o núcleo duro do PSD. Depois de uma semana particularmente tensa entre Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro, mais uma numa coabitação que tem sido tudo menos pacífica, o Presidente da República fez questão de se referir oficialmente ao presidente social-democrata como “líder da oposição” na nota que anuncia a audiência entre os dois em Belém. Até aqui, Marcelo referia-se sempre a Montenegro como “presidente do PSD”.
A alteração na forma de tratamento foi devidamente notada no núcleo duro de Luís Montenegro, que regista nesta nova nomenclatura um reconhecimento reforçado por parte do Presidente da República. E surge depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dito — em repetidos momentos e em várias circunstâncias — que a alternativa a António Costa ainda não tinha força suficiente para ser verdadeiramente considerada.
Nas quatro vezes que recebeu Montenegro em Belém, Marcelo tratou-o como “Dr. Luís Montenegro” (em abril de 2022, quando este não era formalmente líder socia-democrata) e, daí em diante, em julho, outubro e dezembro, sempre como “presidente do PSD”. Desta vez, no entanto, o Presidente da República regista que a audiência com o “líder da oposição” acontece a “pedido deste”.
Ainda na segunda-feira, 10 de abril, na primeira vez que falou sobre o momento difícil que o Governo atravessa à boleia da comissão parlamentar de inquérito à TAP, Marcelo defendeu que ainda não existia uma “alternativa óbvia” aos socialistas. Montenegro não deixaria o Presidente da República sem resposta. “O PSD assegura aos portugueses e também ao Presidente da República que é a alternativa ao Governo e ao PS e está pronto para assumir todas as consequências da alternativa quando for oportuno”, atirou o líder social-democrata.
Aliás, numa referência ao facto de o Presidente da República ter dito que não “estava no bolso de ninguém”, Governo ou oposição, o presidente social-democrata deixou outro recado: “O PSD e o seu líder não estão no bolso de ninguém, têm total independência na sua ação política”. Na resposta à resposta, já na quinta-feira, 13 de abril, Marcelo cortaria o assunto. “Disse o que tinha a dizer na segunda-feira. Opiniões há muitas“, despachou o Presidente da República.
Como explicava aqui o Observador, Marcelo Rebelo de Sousa já têm dado alguns sinais de reconhecer neste PSD uma estratégia renovada para afirmar o espaço de centro-direita como alternativa ao PS. A 29 de março, num jantar à porta fechada organizado pelo Harvard Club of Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa terá deixado três ideias essenciais: que agora estava mais otimista em relação ao sistema político-partidário português; que no passado achava que o centro-direita se estava a diluir e não construia alternativa; e que o ciclo estava a mudar — a “mexicanização” do regime não tinha de ser uma fatalidade e via finalmente emergir uma solução no centro-direita.
Sem nunca nomear os protagonistas, o alcance das palavras de Marcelo Rebelo de Sousa é óbvio: Luís Montenegro percebeu o que Rui Rio não percebera — o centro-direita tinha de se mobilizar para constituir uma verdadeira alternativa.
À porta fechada, Marcelo elogia alternativa a Costa e regista novo fôlego do centro-direita