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Após meses de tensão com o Ministério da Defesa russo, o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, anunciou, na sexta-feira, que as suas milícias deverão sair a 10 de maio de Bakhmut, cidade que defendem desde o final do ano passado. Num vídeo publicado nas redes sociais, o mercenário queixou-se da falta de munições e criticou duramente as ações dos “gatos gordos em escritórios de luxo”, isto é, os governantes, que ignoram os sacrifícios dos “voluntários” no terreno.
Em resposta, o Kremlin já veio anunciar que enviará mais tropas para Bakhmut. E não foi o único. Logo após as críticas do grupo Wagner, o líder da Chechénia, Ramzan Kadyrov, mostrou a sua disponbilidade para auxiliar a Rússia. “Se o irmão mais velho Prigozhin e Grupo Wagner partirem, o Estado-Maior perderá uma unidade experiente, mas o irmão mais novo Kadyrov e [a unidade especial] Akhmat virão em seu lugar”, escreveu no Telegram.
Wagner PMC's Prigozhin has lost it. Hard not to interpret this as a declaration of war against Russia's Defence Minister Shoigu and Armed Forces Chief Gerasimov. Yesterday, Wind of Change mentioned that FSB resources are being diverted to prevent a coup. pic.twitter.com/MvMs3el5YG
— Igor Sushko (@igorsushko) May 4, 2023
Para o relatório deste sábado do Instituto da Guerra, um think tank norte-americano que se dedica ao estudo do conflito, esta atitude do líder checheno não é de estranhar. “Continua os seus esforços para garantir favores do Presidente russo”, lê-se do documento, que também realça que Vladimir Putin terá pressionado Ramzan Kadyrov, em meados de março, para que haja uma maior intervenção dos militares chechenos na Ucrânia.
À semelhança do que aconteceu o líder do grupo Wagner no início do ano, Ramzan Kadyrov deseja ganhar relevo mediático e político para, de acordo com o relatório do Instituto para a Guerra, “recuperar a atenção nacional”. Com as tropas em Bakhmut, essa será a oportunidade ideal do responsável checheno para conseguir aparecer frequentemente nos meios de comunicação sociais russos, mais que não seja para comentar o desenrolar das operações militares.
Se mediaticamente o efeito pode ser mesmo, em termos militares as tarefas poderão ser distintas. Segundo o documento do think tank norte-americano, a Rússia está a diminuir a intensidade das “operações defensivas na Ucrânia” com as “tropas russas a prepararem-se para a contraofensiva ucraniana”. “As forças russas abandonaram as operações ofensivas no teatro de operações, numa transição provável para [uma postura] defensiva.”
Isto significa que as milícias chechenas adotarão, em teoria, uma postura mais defensiva. Segundo o Instituto para a Guerra, a decisão de poupar munições, de que o líder do grupo Wagner se queixa, pode estar relacionado com as “ações de contraofensiva ucraniana”. “Com as perdas sofridas pelos Wagner, aliado à menos importância concedida ao esforço em Bakhmut, o Ministério da Defesa pode ter deixado Prigozhin e Wagner numa posição desfavorável.”
“Prigozhin mostrou que não tem vontade de mudar para uma [postura] defensiva dentro da cidade”, lê-se no relatório deste sábado do Instituto da Guerra, o que poderá ter justificado a “fúria” do líder do grupo Wagner no vídeo. “A sua fúria visível e visceral sugere que o Ministério da Defesa mudou o foco operacional para outros pontos no teatro de operações, numa maneira que pode seriamente comprometer as habilidades dos Wagner em atacar eficazmente.”
Assim, a persistência ofensiva dentro de Bakhmut pela milícia Wagner é “incongruente” com a “desaceleração das operações ofensivas russas na Ucrânia”. Mas o líder checheno parece não importar-se com esse pormenor, tendo, este sábado, enviado uma carta para Vladimir Putin, em que reitera a disponibilidade para apoiar as tropas russas na cidade que é fustigada por combates há meses.