Mais de 600 pessoas foram mortas no Haiti em abril, numa “nova vaga de violência extrema” em Port-au-Prince, alertou hoje a ONU, reiterando um apelo para o envio urgente de uma força internacional.

Num relatório trimestral, a ONU disse que pelo menos 846 pessoas já tinham sido mortas entre janeiro e março, elevando para mais de 1.400 o número de vítimas desde o início do ano.

O balanço “representa um aumento de 28 por cento da violência em relação ao trimestre anterior”, segundo o relatório da ONU.

O Haiti vive “um ciclo interminável de violência”, disse o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, num comunicado citado pela agência francesa AFP.

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Turk defendeu que “a emergência em matéria de direitos humanos exige uma resposta forte e urgente”.

“Reitero o meu apelo à comunidade internacional para que envie uma força de apoio dedicada, em conformidade com os direitos humanos e por um período limitado, com um plano de ação abrangente para ajudar as instituições haitianas”, disse.

O Conselho de Segurança da ONU manifestou, na segunda-feira, “profunda preocupação” com a situação no Haiti, mas nada disse sobre o envio de uma força, que já tinha sido pedida pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, em outubro.

Apesar dos vários apelos que se têm sucedido, nenhum membro do Conselho de Segurança mostrou interesse em liderar essa força internacional.

A violência dos gangues armados aumentou consideravelmente no Haiti desde o assassinato do Presidente Jovenel Moise, em 7 de julho de 2021.

Em dezembro, a ONU calculou que os grupos armados organizados controlavam 60% de Port-au-Prince, mas a maioria dos residentes na capital tem dito que esse controlo está próximo dos 100%.

Turk defendeu que a população deve poder contar com a polícia e as autoridades judiciais para combater a violência dos bandos.

“Mas a realidade é que o Estado não tem capacidade de resposta. Por isso, a população faz justiça pelas próprias mãos, mas isso só vai alimentar a espiral de violência”, alertou.

No relatório, a ONU disse que a violência está a tornar-se mais extrema e mais frequente no país do Caribe.

Os raptos (395 no primeiro trimestre de 2023) aumentaram 12% em relação ao trimestre anterior, e a violência sexual continua a ser utilizada como arma pelos bandos para impor o terror à população.

Entre o modo de atuação dos grupos armados, a ONU assinalou que atiradores furtivos disparam indiscriminadamente contra transeuntes ou casas.

Foram também registados incidentes em que pessoas foram queimadas vivas nos transportes públicos.

A ONU registou ainda o aparecimento de grupos de autodefesa, conhecidos como “brigadas de vigilantes”, na sequência de apelos de políticos e jornalistas para que os cidadãos se organizassem para combater a violência dos gangues.

Esses grupos foram responsáveis por linchamentos em massa e pela morte de pelo menos 75 pessoas, incluindo 66 membros de gangues, no primeiro trimestre, segundo o relatório da ONU.