Mais de 1.200 militares oriundos de quatro países da NATO estão envolvidos até sexta-feira em Santa Margarida (Constância) no exercício Orion23, conduzido pelo Exército português, e que testou esta quinta-feira a capacidade de domínio do espaço aéreo, terrestre e ciberespaço.

“Este exercício decorreu sob um cenário de intervenção ao abrigo do artigo 5º [do Tratado do Atlântico Norte] e como coordenaríamos com os nossos aliados a deslocação e projeção de uma força capaz de comunicar, agir, defender e de interromper as operações adversárias”, disse à Lusa o secretário de Estado da Defesa Nacional, Marco Capitão Ferreira, presente no exercício de fogos reais que reuniu no Campo Militar de Santa Margarida, no distrito de Santarém, forças militares de quatro países da NATO, a par de observadores norte-americanos.

O cenário em utilização neste exercício “assentou no mais recente e realista cenário da NATO, baseado em operações correntes e futuras da Aliança”, numa situação de “defesa de uma localidade ameaçada de invasão, seguida de bloqueio do inimigo e contra-ataque”, tendo sido testada a “capacidade para dominar o espaço aéreo, terrestre e o ciberespaço”, disse à Lusa fonte oficial do Exército, no âmbito de um exercício centrado na componente terrestre mas que contou também com a participação de dois F16 da Força Aérea Portuguesa.

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“Estes exercícios cumprem sempre um papel insubstituível na garantia que o treino se vai evidenciar de uma forma colaborativa, num exercício internacional, como é o caso, com equipamentos e munições diversificados, e é uma oportunidade de ouro para ver no terreno as capacidades para cumprir os compromissos, quer no âmbito da União Europeia, quer da NATO”, frisou Marco Capitão Ferreira, tendo assegurado ter saído “mais descansado” depois do exercício.

“Como cidadão e europeu vou mais descansado para casa, a capacidade de resposta do Exército é enorme, e acabámos de a ver, e a nossa capacidade de nos integrarmos com os aliados é enorme”, afirmou, tendo feito notar ser este o “novo normal: treinamos juntos e temos responsabilidades conjuntas na segurança e defesa da Europa e no âmbito da NATO”.

Treinar a interoperabilidade entre militares de vários países em operações táticas ofensivas, defensivas, e em operações de retardamento e de reconhecimento, no âmbito do planeamento, coordenação e execução para missões da NATO ao abrigo do Artigo 5º, foram alguns dos objetivos do Orion 23, que esta quinta-feira culminou com um exercício multinacional com fogos reais envolvendo 132 viaturas blindadas e tiros de carros de combate e de metralhadoras pesadas, num “ambiente volátil, incerto, complexo, ambíguo e urbano, dentro de um ambiente conjunto de alta intensidade, em conformidade com os critérios NATO”.

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No artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte, que vincula as partes envolvidas, pode ler-se que “um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas, e, consequentemente, concordam em que, se um tal ataque armado se verificar, cada uma, no exercício do direito de legítima defesa, individual ou coletiva, reconhecido pelo artigo 51.° da Carta das Nações Unidas, prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas, praticando sem demora, individualmente e de acordo com as restantes Partes, a ação que considerar necessária, inclusive o emprego da força armada, para restaurar e garantir a segurança na região do Atlântico Norte”.

Presente no exercício, que envolve até sexta-feira 1.209 militares e 319 viaturas em território português, o Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), General Eduardo Mendes Ferrão, disse à Lusa que o exercício “visa treinar a interoperabilidade e as componentes do Exército para situações de conflitualidade mais elevada”, e que o cenário criado “replica a possibilidade de uma ação ofensiva” que as forças da NATO têm de “deter para repor a integridade daquele território”, tendo destacado a importância do “saber combater juntos”.

Segundo o General CEME, que lembrou ser este “o maior exercício anual conduzido pelo Exército” português, o Orion 23 serviu também já para “preparar um compromisso que Portugal irá assumir em 2025, que é um comando de Battle Group europeu”, e que pode ser definido como uma unidade de escalão Batalhão com capacidades reforçadas para poder operar de forma autónoma e prolongada.

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O último dia da fase de execução do Orion 23 foi dedicado à execução de fogos reais, cuja finalidade era a sincronização do fogo, o movimento e manobra tática das forças terrestres, num exercício caracterizado pela sua matriz combinada e onde as múltiplas capacidades e valências do Exército português treinaram de forma conjunta com militares de Exércitos de países aliados, nomeadamente de Espanha, França e Roménia, e com a presença de observadores norte americanos.