A Alpine revelou o seu primeiro desportivo eléctrico e aquele que será o seu modelo mais pequeno e acessível, o denominado A290_β (da letra grega Beta, sinónimo de versão de testes para a indústria automóvel). Definido como o show car que visa antecipar o A290 que começará a ser vendido a partir de Outubro de 2024, este pequeno desportivo destinado a testar soluções e a desenvolver tecnologias, que recorre a um chassi tubular e não à nova plataforma para eléctricos CMF-B EV, surpreendeu pelo que mostrou, deixando contudo no ar a questão de saber quantos dos seus trunfos serão utilizados na versão de série que surgirá já no próximo ano.

A apresentação teve lugar em Bristol, no Reino Unido, no mesmo hangar que até há pouco tempo era utilizado para fabricar o Concorde, o avião comercial mais veloz do mundo. O evento contou com a presença do director da equipa de Fórmula 1 da Alpine, Otmar Szafnauer, bem como dos dois pilotos oficiais do team, Esteban Ocon e Pierre Gasly, o que permitiu ver o A290_β a evoluir numa pista improvisada, desenhada sobre o pavimento escorregadio (e aqui e ali esburacado) das imponentes instalações.

Mas mais importante do que a festa organizada por este construtor francês do Grupo Renault foram as novidades introduzidas pelo utilitário desportivo, que parece estar em vias de ocupar o lugar do histórico Renault 5 GT Turbo, fabricado entre 1985 e 1991 e que durante anos apaixonou os amantes desta classe de veículos. Particularmente em Portugal, onde era difícil de bater em Grupo N em ralis de asfalto, rampas e circuitos.

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Pequeno desportivo com três bancos e volante ao centro

A primeira surpresa revelada pelo pequeno Alpine está ali bem à frente de todos os convidados. O habitáculo que no Renault 5 eléctrico irá acomodar cinco pessoas, no A290_β está resumido a apenas três. E como se isto não bastasse, o posto de condução está instalado ao centro, com os dois bancos laterais para passageiros a ficarem um pouco (cerca de dois palmos) mais recuados.

Desportivos com volante (e pedais) ao centro não é coisa inédita, mas é um “luxo” que poucos construtores optam por oferecer aos seus clientes. Basta recordar que um dos últimos dos que há memória foi o deslumbrante McLaren F1, de que apenas 106 unidades (equipadas com um motor V12 da BMW com 635 cv) foram produzidas entre 1992 e 1998, comercializadas por um preço próximo dos 800.000€ à época, mas que em 2021 viu um dos exemplares ser transaccionado por 20 milhões de euros.

As desvantagens desta solução prendem-se com o acesso ao assento e o momento de pagar portagens ou encomendar qualquer coisa para comer no drive-thru de restaurantes como o McDonald’s. Já as vantagens são substancialmente mais sumarentas para modelos desportivos, uma vez que a distribuição de massas é mais correcta, tal como a visibilidade é melhor, permitindo igualmente a dois passageiros partilharem a “vista” que só é possível com um lugar na primeira fila.

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Mas é provável que o maior trunfo assegurado pelo volante central, que se prende com a imagem de exclusividade que transmite ao utilizador, não chegue a ser oferecido ao cliente, pelo menos na versão mais acessível do A290, que será mais convencional, com assentos para quatro adultos. Segundo os responsáveis pela Alpine revelaram ao Observador, não será impossível que “se venha a pensar numa solução mais radical, idealizada para track days”. E se tivermos em conta as inúmeras versões especiais que a marca francesa já produziu do A110, não é despropositado alimentar a esperança…

Desportivo da Alpine monta dois motores… à frente

Outra novidade que, à semelhança dos três lugares e da posição de condução central, colocaria o utilitário desportivo da Alpine nos píncaros, entre os fãs desta classe de modelos, é o facto de o A290_β montar dois motores eléctricos, mas ambos à frente. Com 4,05 m de comprimento, 1,85 m de largura e 1,48 m de altura, a plataforma do R5 EV que serve o futuro A290 não pode montar um motor eléctrico atrás, pois não só isso obrigaria a generosos investimentos adicionais, como limitaria o espaço para bagagens.

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A impossibilidade de montar um motor atrás, para melhorar o comportamento, levou os técnicos da marca francesa a optar por instalar dois motores na dianteira, cada um associado à sua roda. O objectivo não foi incrementar a potência, mas sim controlar cada um deles em separado para optimizar a eficiência do comportamento através da vectorização do binário.

Mais uma vez, é uma solução técnica muito interessante, especialmente num desportivo desta bitola. Mas a Alpine assume que não pretende utilizá-la no A290 de série, o qual montará apenas um motor à frente. Contudo, os responsáveis do construtor com quem falámos admitiram estar a desenvolver a mecânica com os dois motores frontais, recusando-se a confirmar se virá a ser utilizada posteriormente numa versão de série do A290 mais agressiva.

Afinal, o que sabemos do que o A290 vai oferecer?

A versão inicial do Alpine A290, que surgirá em Outubro do próximo ano, incluirá 85% das peças exteriores do A290_β que aqui mostramos. Ou seja, praticamente tudo o se pode ver nas imagens que publicamos, excepção feita para o splitter frontal, que não deverá ser tão proeminente e em fibra de carbono, para resistir melhor às esfregadelas nos passeios. Os retrovisores exteriores também devem assumir uma construção menos exuberante, bem como o para-brisas com o prolongamento central, concebido para a posição de condução ao meio.

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Por dentro, o pequeno desportivo da Alpine oferecerá quatro lugares e volante à esquerda – excepção feita para os britânicos –, instalando apenas um motor à frente que, segundo a imprensa francesa, será precisamente o utilizado pelo MeganeE-Tech com 218 cv, valor que é muito fácil de elevar para 250 cv (ou um pouco mais), praticamente sem custos adicionais. E se pensarmos que um dos potenciais rivais do A290 será o Mini Cooper SE, também ele com um motor de 218 cv, o Alpine será competitivo.

Potencialmente, o mini desportivo será proposto com mais do que um nível de potência, sempre alimentado pela bateria maior ao serviço do R5 EV, com 52 kWh, cuja autonomia não deverá andar longe dos 454 km do Megane E-Tech, que monta um acumulador com 60 kWh, mas que é maior e mais pesado. Para travar, o A290 recorrerá aos discos de travão da versão base do actual Alpine A110, com pinças de quatro êmbolos, montando pneus Michelin Super Sport S5 especificamente desenvolvidos para o pequeno desportivo.

Em termos de preço, se a Renault sempre conseguir comercializar o R5 EV por valores entre 25.000 e 30.000€, consoante as versões (potência e capacidade de bateria), o Alpine A290 pode ambicionar um valor bem abaixo dos 40.000€. Abaixo pois dos 41 mil euros do Mini Cooper SE a bateria, sendo que ambos os desportivos vão estar sob pressão do Tesla Model 3 RWD, um modelo do segmento D (4,7 metros de comprimento) que nem se assume como desportivo (apesar de oferecer 283 cv, 225 km/h de velocidade, 0-100 km/h em 6,1 segundos e 491 km de autonomia), e que agora é proposto por 39.990€.