A Ucrânia será o tema em grande destaque na cimeira do G7, que arrancou oficialmente esta sexta-feira com uma fotografia de grupo dos líderes no Parque Memorial da Paz de Hiroshima, no Japão. Até domingo, espera-se que os países endureçam as suas posições em relação à Rússia e à condenação da invasão em larga escala que começou há mais de um ano.
Após a colocação de coroas de flores no parque e a plantação simbólica de árvores, uma nova ronda de sanções contra Moscovo foi anunciada com a intenção de acabar com o esforço de guerra russo. A Rússia é, segundo a Associated Press, o país mais sancionado do mundo. Apesar de a agência noticiosa indicar que mais detalhes só surgiriam no fim de semana, já se sabe que “os diamantes russos não são para sempre”.
A frase, com tom irónico, é de Charles Michel que anunciou que a UE vai “limitar o comércio de diamantes russos”, uma medida que visa “desligar a Rússia dos seus financiadores”. O presidente do Conselho Europeu afirmou que a União pretende “fechar a porta às lacunas legais” de que o Kremlin se aproveita para “continuar a atiçar a chama da guerra na Ucrânia”.
“Diamantes não são para sempre”. União Europeia revela nova sanção contra Moscovo
De seguida, também Londres divulgou novas medidas que proíbem exportações de produtos de origem russa, como cobre, alumínio, níquel e diamantes. O comércio de diamantes para o estrangeiro rendeu, em 2021, a Moscovo quatro mil milhões de dólares. O primeiro-ministro britânico, que falou à BBC, almeja que a “Rússia pague o preço” pela guerra na Ucrânia e mostra-se “esperançoso” e “confiante” que os outros países sigam o exemplo do Reino Unido e apliquem mais sanções.
Os Estados Unidos também anunciaram que vão impedir “aproximadamente 70 entidades na Rússia e em outros países recebam mercadorias exportadas dos EUA, adicionando-as à lista negra do Departamento de Comércio”. São, no total, mais de 300 novas sanções contra “indivíduos, organizações, navios e aviões” em toda a Europa, Médio Oriente e Ásia.
Estados Unidos da América e Reino Unido anunciam novas sanções contra a Rússia
Por sua vez, a Austrália anunciou que vai impor sanções económicas contra a economia russa, sendo o ouro, o petróleo e a energia nuclear os principais setores afetados pelo pacote de medidas anunciado pelo primeiro-ministro Anthony Albanese. De acordo com o The Guardian, o executivo australiano colocou na lista de entidades sancionadas cinco bancos e três indivíduos, que se juntam aos mais de 1000 que já foram alvos de restrições por parte do país desde o início da guerra.
Em comunicado conjunto, citado pela BBC, os líderes do G7 — o grupo de sete países mais industrializados que reúne Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, bem como a União Europeia — disseram que vão privar a Rússia de “receber tecnologia, equipamento industrial e serviços do G7 que apoiam a sua máquina de guerra”. Para isso, passam a restringir a exportação de itens “críticos para a Rússia no campo de batalha”. As sanções vão também ter como alvo grupos que são acusados de transportar material para a linha da frente da batalha de Moscovo.
Zelensky deverá viajar para Hiroshima no domingo
“Nós, os líderes do G7, reafirmamos o nosso compromisso de nos unirmos contra a guerra de agressão ilegal, injustificável e não provocada da Rússia contra a Ucrânia”. Em Hiroshima são lembrados e condenados os “15 meses de agressão” que custaram “milhares de vidas, infligiram imenso sofrimento ao povo da Ucrânia e colocaram em risco o acesso a alimentos e energia para muitas das pessoas mais vulneráveis do mundo”.
Os líderes do G7, escreve o The Guardian, expressam “total solidariedade e condolência ao povo ucraniano pela sua perda e sofrimento” e saudaram a sua “corajosa resistência”. “O nosso apoio à Ucrânia não vacilará”, disseram. Poderá ter sido para reiterar o significado dessa frase que, depois, exigiram a Moscovo que retire “imediatamente, completamente e incondicionalmente as suas tropas e equipamentos militares de todo o território reconhecido internacionalmente” como sendo de Kiev.
Uma paz justa não pode ser alcançada sem a retirada completa e incondicional das tropas russas”, avisaram os sete países.
Com a Ucrânia a dominar grande parte da agenda da cimeira, Zelensky vai deslocar-se até ao Japão após ter sido convidado pelo primeiro-ministro japonês a participar no encontro. Fumio Kishida aproveitou a sua visita a Kiev, em março, para endereçar o convite ao Presidente ucraniano.
Há assuntos muito importantes que serão decididos lá e, portanto, a presença do nosso Presidente é absolutamente essencial para defender os nossos interesses”, afirmou Oleksiy Danilov, secretário de Segurança Nacional e do Conselho de Defesa da Ucrânia, ao confirmar a participação presencial de Zelensky.
Como esta sexta-feira se encontra na Arábia Saudita, a participar na cimeira da Liga Árabe, o Presidente ucraniano deverá dirigir-se aos líderes do G7 apenas virtualmente onde os deverá atualizar acerca das condições no campo de batalha e acordar os esforços necessários para restringir o esforço de guerra da Rússia. Desta forma, Zelensky deverá chegar a Hiroshima apenas no domingo, cerca de uma semana depois de ter visitado quatro países europeus do G7 (Itália, Alemanha, França e Reino Unido), além do Vaticano.
Na cimeira do G7 que se realiza entre esta sexta-feira e domingo, Zelensky não é o único convidado especial. O primeiro-ministro japonês decidiu ‘ampliar a mesa’ para acomodar também líderes de países como Austrália, Índia, Brasil, Indonésia, Coreia do Sul e Vietname.
No primeiro dia em Horishima expressaram-se preocupações nucleares
A cimeira do G7 decorre em Hiroshima, que simboliza os efeitos de uma guerra por ter sido destruída por uma bomba atómica norte-americana em agosto de 1945. Numa cidade simbólica, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, quererá que o desarmamento nuclear seja um dos focos principais das conversações, onde chamará a atenção para os riscos da proliferação desse tipo de armas.
Uma das preocupações do G7, no documento de seis páginas que foi divulgado, é a segurança nuclear, pelo que expressam a “mais grave preocupação com a a apreensão e militarização grosseiramente irresponsável por parte da Rússia da central nuclear de Zaporíjia”. Para os líderes, a “retórica nuclear irresponsável da Rússia, o enfraquecimento dos regimes de controlo de armas e a intenção declarada de estacionar armas nucleares na Bielorrússia são perigosas e inaceitáveis”.
Para o jornal Politico, além das preocupações nucleares e a guerra da Ucrânia, há um potencial conflito que vai marcar as conversações: a possibilidade de a China invadir Taiwan, uma situação que, a acontecer, poderia desencadear uma guerra nuclear e destruir a economia global. Note-se que a ilha, que Pequim reivindica como sua, é o maior fornecedor de chips do mundo — semicondutores que são importantes para as indústrias da tecnologia, mas também da defesa.
Preocupada com a segurança económica, a cimeira deverá ainda abordar a influência chinesa nas cadeias de abastecimento cruciais. Ainda antes do encontro começar, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que a UE procura uma “abordagem multidimensional” nas suas relações económicas com a China, que se caracteriza pela “redução dos riscos e não pela dissociação”. Desta forma, o Politico acredita que tanto a União como os EUA, Canadá e Japão se vão unir para apelar para que seja combatida a possibilidade de Pequim utilizar o seu poderio económico para intimidar economias mais pequenas que não tenham os mesmos interesses políticos.
Para terminar o dia, uma vez que no Japão já é quase de noite e já se encontram a jantar, os líderes visitaram o santuário de Itsukushima, na ilha de Miyajima, que fica perto da costa de Hiroshima. A BBC descreveu-o como um dos pontos turísticos mais famosos do Japão. Para conseguirem chegar ao local onde se encontra o santuário xintoísta com 900 anos, os sete foram transportados de barco. Enquanto caminhavam nessa zona ouvia-se gagku, um tipo de música clássica japonesa que, por norma, é tocada durante cerimónias especiais.