O Presidente colombiano, Gustavo Petro, suspendeu a trégua com o principal grupo dissidente da antiga guerrilha FARC em quatro regiões do país, depois de os rebeldes terem assassinado quatro menores indígenas.

“Fazemos saber que o cessar-fogo bilateral atualmente em curso com este grupo armado [que não assinou o acordo de paz de 2016 que levou ao desarmamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)] nos departamentos de Meta, Caquetá, Guaviare e Putumayo (sul) está suspenso e todas as operações ofensivas estão reativadas”, escreveu o Presidente colombiano na rede social Twitter. Os quatro departamentos no sul do país são um reduto dos rebeldes.

Domingo, o gabinete do Provedor de Justiça colombiano revelou que quatro menores membros da comunidade indígena Murui foram mortos na Amazónia por ex-dissidentes das FARC.

As quatro “crianças e adolescentes” foram mortas na fronteira entre os departamentos de Caquetá e Amazonas por membros da Frente Carolina Ramirez, pertencente ao principal grupo dissidente das antigas FARC, o “Estado-Maior Central-FARC” (EMC-FARC), segundo a mesma fonte.

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Os menores, cujas idades não foram avançadas, tinham sido recrutados à força pelos rebeldes, segundo um relatório das comunidades indígenas da região.

Trata-se, afirmou Petro, de um “ato atroz que põe em causa a vontade de construir um país pacífico” e “nada pode justificar este tipo de crime”.

No âmbito de um ambicioso plano de “paz total” para a Colômbia, Petro tenta há vários meses negociar com as guerrilhas e outros grupos armados ativos no país, frequentemente associados ao tráfico de droga, sobretudo dissidentes das ex-FARC, mas também do Exército de Libertação Nacional (ELN), de grupos paramilitares e de grupos criminosos, como o Clã do Golfo.

Em abril, o CEM-FARC tinha-se declarado pronto para iniciar conversações em maio.

A 31 de dezembro, Petro declarou um cessar-fogo bilateral com este grupo dissidente e quatro outras das principais estruturas armadas que operam na Colômbia.

Outras tréguas já fracassaram: com o ELN, que se recusou a cessar as hostilidades apesar das conversações de paz desde novembro, e com o cartel Clã do Golfo, que atacou as forças de segurança e a população civil no âmbito das manifestações ilegais de menores.

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“Se o cessar-fogo não é eficaz em alguns territórios para proteger a vida e a integridade da população, não faz sentido mantê-lo”, argumentou o Presidente colombiano.

Num comunicado, a EMC-FARC criticou fortemente o governo, sem mencionar o assassínio de menores indígenas.

“A rotura unilateral desencadeará a guerra e o número de mortos, feridos e prisioneiros multiplicar-se-á”, declarou o grupo rebelde.

“Do nosso ponto de vista, este governo tem sido o menos sério nas conversações“, acrescentaram os rebeldes, apelando ao Presidente para que desenvolva uma política de paz “sem improvisações, sem pressões e sem quebrar as regras”.

A estratégia de paz de Gustavo Petro, o primeiro chefe de Estado de esquerda do país, é cada vez mais criticada pela oposição, que questiona a capacidade dos militares e do Presidente de não cederem às pressões dos grupos ilegais.

Com esta nova suspensão de tréguas, permanecem de pé acordos de cessar-fogo com a Segunda Marquetalia, outra fação dissidente liderada pelo antigo “número dois” das FARC, Ivan Marquez, e com as Autodefesas Conquistadoras da Serra Nevada, um grupo paramilitar de Santa Marta (norte).