O Presidente colombiano, Gustavo Petro, suspendeu a trégua com o principal grupo dissidente da antiga guerrilha FARC em quatro regiões do país, depois de os rebeldes terem assassinado quatro menores indígenas.
“Fazemos saber que o cessar-fogo bilateral atualmente em curso com este grupo armado [que não assinou o acordo de paz de 2016 que levou ao desarmamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)] nos departamentos de Meta, Caquetá, Guaviare e Putumayo (sul) está suspenso e todas as operações ofensivas estão reativadas”, escreveu o Presidente colombiano na rede social Twitter. Os quatro departamentos no sul do país são um reduto dos rebeldes.
Domingo, o gabinete do Provedor de Justiça colombiano revelou que quatro menores membros da comunidade indígena Murui foram mortos na Amazónia por ex-dissidentes das FARC.
Reunión del PMU en San José del Guaviare. Matar niños indígenas es un delito de lesa humanidad inadmisible. Reclutar forzadamente menores de edad lo mismo.
Un cese al fuego implica cese de hostilidades a la población civil. Esperamos que los diferentes frentes de la EMC en las… pic.twitter.com/nnZfufhi6v
— Gustavo Petro (@petrogustavo) May 22, 2023
As quatro “crianças e adolescentes” foram mortas na fronteira entre os departamentos de Caquetá e Amazonas por membros da Frente Carolina Ramirez, pertencente ao principal grupo dissidente das antigas FARC, o “Estado-Maior Central-FARC” (EMC-FARC), segundo a mesma fonte.
Os menores, cujas idades não foram avançadas, tinham sido recrutados à força pelos rebeldes, segundo um relatório das comunidades indígenas da região.
Trata-se, afirmou Petro, de um “ato atroz que põe em causa a vontade de construir um país pacífico” e “nada pode justificar este tipo de crime”.
No âmbito de um ambicioso plano de “paz total” para a Colômbia, Petro tenta há vários meses negociar com as guerrilhas e outros grupos armados ativos no país, frequentemente associados ao tráfico de droga, sobretudo dissidentes das ex-FARC, mas também do Exército de Libertação Nacional (ELN), de grupos paramilitares e de grupos criminosos, como o Clã do Golfo.
Em abril, o CEM-FARC tinha-se declarado pronto para iniciar conversações em maio.
A 31 de dezembro, Petro declarou um cessar-fogo bilateral com este grupo dissidente e quatro outras das principais estruturas armadas que operam na Colômbia.
Outras tréguas já fracassaram: com o ELN, que se recusou a cessar as hostilidades apesar das conversações de paz desde novembro, e com o cartel Clã do Golfo, que atacou as forças de segurança e a população civil no âmbito das manifestações ilegais de menores.
“Se o cessar-fogo não é eficaz em alguns territórios para proteger a vida e a integridade da população, não faz sentido mantê-lo”, argumentou o Presidente colombiano.
Num comunicado, a EMC-FARC criticou fortemente o governo, sem mencionar o assassínio de menores indígenas.
“A rotura unilateral desencadeará a guerra e o número de mortos, feridos e prisioneiros multiplicar-se-á”, declarou o grupo rebelde.
“Do nosso ponto de vista, este governo tem sido o menos sério nas conversações“, acrescentaram os rebeldes, apelando ao Presidente para que desenvolva uma política de paz “sem improvisações, sem pressões e sem quebrar as regras”.
A estratégia de paz de Gustavo Petro, o primeiro chefe de Estado de esquerda do país, é cada vez mais criticada pela oposição, que questiona a capacidade dos militares e do Presidente de não cederem às pressões dos grupos ilegais.
Com esta nova suspensão de tréguas, permanecem de pé acordos de cessar-fogo com a Segunda Marquetalia, outra fação dissidente liderada pelo antigo “número dois” das FARC, Ivan Marquez, e com as Autodefesas Conquistadoras da Serra Nevada, um grupo paramilitar de Santa Marta (norte).