Em seis minutos o secretário de Estado do primeiro-ministro conseguiu oito formas de se esquivar à pergunta que vinha de todos os jornalistas à sua frente, à saída da Convenção do Bloco de Esquerda: afinal falou ou não com João Galamba sobre a intervenção do SIS, na noite de 26 de abril? Tudo serviu a António Mendonça Mendes para não responder.

Na primeira tentativa, o governante foi confrontado com a referência de Mariana Mortágua, na intervenção final, ao “dramalhão do quarto andar do Ministério”. Mendonça Mendes traçou logo a linha: não estava ali para falar desse peso que Galamba lhe pôs nos ombros ao revelar um telefonema cuja existência ninguém confirma além de Galamba — que diz mesmo onde estava e a que horas. “O Governo está focado nas respostas para o país“, disse enumerando feitos: “A taxa de abandono escolar desceu”, as “creches gratuitas vão alargar”.

[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador]

As 8 tentativas de não resposta de Mendonça Mendes

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Mas os jornalistas concentrados à porta do Complexo Desportivo do Casal Vistoso — já tinham tentado uma primeira abordagem à entrada, que Mendonça Mendes remeteu para o fim — insistiram com o telefonema. A segunda reposta continuou, ostensivamente, ao lado: “Hoje no encerramento da Convenção Nacional do BE, a coordenadora nacional disse uma frase com que não podia concordar mais: temos de nos concentrar no essencial. As respostas que os portugueses exigem são aos seus problemas do dia a dia. Acho muito importante, quando há aumento do custo de vida, tomarmos muitas decisões.”

Nova insistência dos jornalistas e… “há tempo para tudo. O que é importante é que o Governo possa continuar… as respostas que são importantes é como resolvemos os problemas das pessoas. Como é que, perante a necessidade de aumentar e proteger os rendimentos, nós respondemos”.

A única resposta que, ainda assim, foi mais à pergunta foi quando Mendonça Mendes usou o argumento já alinhado pelo primeiro.ministro para esta mesma situação. “Da parte do Governo temos vindo sempre a dizer o mesmo: não vamos comentar a atividade da comissão de inquérito e do que a cada dia se diz na comissão de inquérito”.

Mas também não falava em concreto do tal telefonema, daí a insistência. A resposta, desta vez, foi para o Bloco: “Neste momento estou no encerramento da Convenção do BE e o momento é de responder às necessidades do país“.

Chegado à sexta resposta, Mendonça Mendes disse que “o que é muito importante é contribuir para a tranquilidade do debate democrático. Não vale a pena estarmos sempre a fazer as mesmas perguntas e a dar as mesmas respostas”.

Mas elas continuaram mais duas vezes. Na penúltima, Mendonça Mendes já só tinha que não tinha mais nada a dizer. E na última, mesmo antes de declarar que estava de saída e perante a pergunta sobre se não temia ser mal interpretado atirou: “Não, o que temo é que não possamos responder à necessidade dos portugueses. O governo deve estar concentrado em resolver os problema de acesso à saúde, educação e dos custos de vida”.

Depois de o tema ter sido disparado das bancadas da direita em direção ao primeiro-ministro, ficando sempre sem resposta, e do próprio secretário de Estado Adjunto ter já fugido a uma resposta direta (no final do congresso do PAN há uma semana), Mendonça Mendes continua sem confirmar Galamba.