O CNRT, o partido mais votado nas legislativas timorenses de 21 de maio, considera haver indícios de fraude eleitoral, incluindo na atribuição de votos errados a partidos, mas reiterou que respeita o resultado.

Responsáveis do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) referem ter recolhido mais de 70 irregularidades na tabulação em vários pontos do país, explicando que vão encaminhar as queixas para o Ministério Público (MP) para investigação

“Detetámos cerca de 70 irregularidades na introdução de números na base de dados entre as atas dos centros de votação e da tabulação municipal”, explicaram aos jornalistas o porta do CNRT, Tomás Cabral, e uma deputada do partido, Carmelita Moniz.

“Respeitamos o resultado validado pelo Tribunal [de Recurso], respeitamos a decisão, mas estamos a dizer que isto não fica por aqui. A investigação do MP tem que andar e as violações, se foram um crime, têm que ser punidas por lei“, afirmou Tomás Cabral.

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Carmelita Moniz disse que, se houve questão de erro humano, “isso tem que ser investigado”, explicando que o partido fez a reconciliação da sua própria tabulação com a ata preparada em cada centro de votação e assinada pelos fiscais dos partidos e, finalmente, com a ata de apuramento municipal.

Nessas comparações e análises, referiu, foram detetados várias “inconsistências” na introdução de dados de votos atribuídos aos partidos políticos.

O CNRT quer que seja investigada uma eventual ingerência política do Ministério da Administração Estatal (MAE) no processo, apontando o que considera ser a contratação “de pessoas com cartão” partidário como oficiais eleitorais.

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Problemas na divulgação das tabulações municipais pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral foram outras das questões levantadas esta terça-feira, com um documento detalhado a ser entregue ainda esta terça-feira ao MP.

“Queremos que tudo isto seja investigado para melhorar o processo para futuras eleições, para que tudo corra bem”, afirmou Tomás Cabral, referindo, por exemplo, que os boletins de voto acabaram em vários locais do país e os eleitores estiveram que esperar “uma ou duas horas” para poder votar.

“A implementação dos procedimentos depende dos quadros. Há capacidade interna, funcionários bem treinados. A preocupação do CNRT é de investigar o envolvimento do MAE neste processo, perceber se houve intervenção política”, considerou.

Cabral escusou-se a entregar aos jornalistas uma cópia da queixa apresentada pelo CNRT ao MP, alegando segredo de justiça, mas Carmelita Moniz deu um exemplo de um centro de votação na zona de Taibessi, na capital, Díli.

Nesse centro, disse Moniz, a ata assinada depois da contagem dava ao CNRT 463 votos, à Fretilin 163 e à União Nacional Democrática de Resistência Timorense (UNDERTIM) zero votos, mas quando os dados foram inseridos na ata de tabulação municipal “o CNRT ficou com zero votos, os 463 foram para a Fretilin e os 163 para a UNDERTIM”.

“Foi feita uma análise detalhada das atas e quando fizemos isso, detetámos inconsistências no preenchimento do total de votos para os partidos”, afirmou Moniz.

Em termos gerais, referiram os responsáveis do CNRT, a votação atribuída em termos oficiais ao partido é mais reduzida do que os valores corretos.