Os reservatórios de recarga natural das águas subterrâneas em Cabo Verde estão no “limite mínimo” das suas capacidades, devido à falta de chuva nos últimos anos, disse esta quinta-feira o presidente da Agência Nacional de Água e Saneamento (ANAS).

“Devido à falta de precipitação registada nos últimos anos, não tem havido a recuperação dos volumes de água nos principais reservatórios de recarga natural das águas subterrâneas, estando estes no limite mínimo das suas capacidades”, afirmou Cláudio Santos, na Praia, numa conferência de imprensa sobre a campanha agrícola 2022/2023.

O presidente da ANAS disse que a maior parte das bacias hidrográficas de Cabo Verde são caracterizadas pela ausência de cursos de água permanentes e que só é possível garantir uma oferta contínua de água para o abastecimento público e para rega, com recurso ao lençol subterrâneo, durante os meses de seca.

Este responsável disse que as barragens e as principais rochas que alimentam os furos, poços e nascentes estão nos seus “mínimos”, em comparação com os volumes historicamente medidos, apresentando um “acentuado decréscimo” na capacidade de armazenamento de água subterrânea.

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“O decréscimo na disponibilidade de água subterrânea resulta na redução da capacidade de produção dos furos, nascentes e poços, sentida através da redução do seu caudal de exploração, assim como na evolução ou no aumento da condutividade elétrica, ou salinidade da água mobilizada”, apontou.

O presidente disse ainda que a ANAS tem verificado que os caudais afluentes dos principais pontos de água permaneceram próximas aos caudais mínimos historicamente medidos, com decréscimo na capacidade de armazenamento, ou seja, que as principais bacias hidrográficas de Cabo Verde apresentam uma tendência na redução do caudal de produção.

“Em síntese, podemos dizer que a condutividade elétrica da maioria dos pontos de água tende a aumentar nos últimos anos e os caudais dos principais furos, poços e nascentes tendem diminuir”, referiu, dando conta que a instituição que dirige está empenhada no controlo e gestão hidrológica no todo do arquipélago.

“No sentido de garantir o necessário equilíbrio na exploração das águas subterrâneas e na gestão adequada dos pontos de água, principalmente dos poções e dos furos, cuja tendência devido aos anos de seca, tem sido de uma sobre exploração”, acrescentou.

Em janeiro de 2020, a ANAS apresentou um relatório anual, dando conta que o país registou durante todo o ano de 2017 perdas físicas de água de mais de seis milhões de metros cúbicos, com as autoridades a prometerem ultrapassar esse desafio com investimentos.

Segundo o documento, nesse ano o país registou 17.378.471 metros cúbicos de água entrados no sistema de abastecimento, mas no mesmo período faturou 10.983.368 metros cúbicos desse total, o que equivale a perdas físicas de 6.395.103 metros cúbicos de água por ano, num país em que as chuvas são irregulares e que enfrenta anos de seca.

Em 2018, o então presidente da agência, Miguel Moura, avançou que as barragens do país estavam com menos de 3,6% da sua capacidade de água, devido à falta de chuva nesse ano e o Governo voltou a apelar a população para “comportamentos sustentáveis” e “uso racional” da água.