Uma exposição que propunha uma reflexão sobre o ódio em torno da comunidade LGBT+, em Évora, foi esta quinta-feira vandalizada por três homens, que se colocaram em fuga, revelaram fontes da organização, da câmara e da polícia.

A mostra integrava o programa da 1.ª Évora Pride, que está a decorrer, até domingo, na cidade alentejana, organizada em parceria pela Sociedade Harmonia Eborense, Núcleo Feminista de Évora e Associação Évora Queer.

Em declarações à agência Lusa, Rolando Galhardas, da Comissão Organizadora da Évora Pride, indicou que três homens entraram na Igreja de São Vicente, propriedade do município e onde se encontrava exposta a mostra, e vandalizaram os trabalhos.

“Fizeram ainda refém o funcionário da câmara que se encontrava no local. Foi agredido verbalmente, coagido e ameaçado”, referiu.

Também em declarações à agência Lusa, o vice-presidente da Câmara de Évora, Alexandre Varela, condenou o que considerou a “tentativa de sobreposição, dominação e intolerância” em relação à comunidade LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e outros).

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“Foi um ato absolutamente condenável relacionado com intolerância, neste caso, aparentemente, de natureza sexual, que é, obviamente, abominável. Num Estado de Direito, não podemos tolerar situações destas”, afirmou.

O autarca realçou que o caso “foi entregue às autoridades policiais e judiciárias”, salientando que, apesar de a PSP já ter estado no local, “é provável” que a Polícia Judiciária assuma a investigação, “tendo em conta a natureza dos ilícitos criminais”.

Contactada pela Lusa, uma fonte do Comando Distrital de Évora da PSP limitou-se a adiantar que a exposição foi vandalizada e que a Polícia está a investigar o caso.

Nas declarações à Lusa, Rolando Galhardas, da Comissão Organizadora da Évora Pride, disse que a exposição se intitulava “Missiva de amor e ódio” e reunia trabalhos de pintura, fotografia, escultura e gravura da autoria de vários artistas.

“Ficou praticamente tudo destruído. Sobreviveram poucas peças. Foi uma tentativa declarada de nos assustar e causar medo através do ódio”, lamentou.

A Évora Pride começou na terça-feira e, até domingo, estão exposições, concertos, performances, conversas, ações de sensibilização e uma marcha do orgulho.

Bloco de Esquerda questiona Governo sobre “ataque de ódio”

O BE questionou o Governo se teve conhecimento do ato de vandalismo numa exposição integrada na primeira edição do Évora Pride, e que medidas tomará para garantir a segurança da marcha que se realiza na sexta-feira. Num requerimento dirigido à ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, o Bloco de Esquerda classifica como “um ataque de ódio” a vandalização da exposição.

“Estes homens entraram na Igreja de São Vicente, propriedade do município, e destruíram os trabalhos que aí estavam expostos. A roda de conversa prevista para hoje para o espaço da exposição teve de mudar de local. Existem legítimas razões para preocupação sobre a segurança da 1.ª Marcha LGBTIQA+ de Évora, que se realiza amanhã [sexta-feira]”, alertam os bloquistas.

O BE questiona a ministra Ana Catarina Mendes se o Governo tem conhecimento desta situação e que medidas irá tomar “para promover a segurança da comunidade LGBTQ+ de Évora e para enfrentar os discursos e atos de ódio homofóbico e transfóbico”, nomeadamente a segurança da primeira marcha deste movimento a realizar em Évora.

No requerimento, o BE salienta que “a organização de momentos comunitários e de manifestação política faz parte da história de resistência da população Lésbica, Gay, Bissexual, Trans, Queer e de todas as demais pessoas com sexualidades e identidades de género divergentes da norma hetero-patriarcal”.

“Foi nesse contexto que surgiram o Arraial Pride, em 1997, e a Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa, em 2000. Depois da Marcha do Orgulho do Porto (2006) e da Marcha contra a Homofobia e a Transfobia de Coimbra (2010), foram surgindo diversas marchas e momentos de encontro de norte a sul do país e nas regiões autónomas”, afirmam, acrescentando que “este ano, foi a vez de Évora organizar pela primeira vez o seu grande evento de visibilidade e de orgulho”.

“Infelizmente, esta iniciativa (…) foi hoje alvo de um ataque de um ódio”, lamenta o partido, no requerimento assinado pela deputada Joana Mortágua.

*Notícia atualizada às 19h07 de 15 de junho de 2023 com o requerimento do Bloco de Esquerda