As forças armadas russas não têm orçamento para equipar os seus soldados com óculos de visão noturna, equipamentos dispendiosos, e a Ucrânia está a aproveitar a vantagem de ter esses equipamentos fornecidos pelo Ocidente para fazer ataques noturnos. A descrição é feita por um especialista ligado ao Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla original).

“As forças armadas russas são conhecidas por não terem algumas destas ferramentas sofisticadas, mesmo antes da guerra e mesmo antes de as forças armadas estarem tensas e degradadas”, disse George Barros, chefe de uma equipa de informações geoespaciais e analista da Rússia no Instituto para o Estudo da Guerra, ao Business Insider.

“Estes equipamentos são bastante caros”, acrescentou o especialista, notando que “alguns desses óculos de visão noturna que estão montados em capacetes individuais custam dezenas de milhares de dólares por uma única unidade”.

Mas não é apenas no combate noturno que as forças russas têm insuficiências de equipamento, diz o especialista do ISW. Os soldados estão mal equipados em armas, armaduras e tecnologia de combate e alguns combatentes descrevem que são enviados para a guerra com armas enferrujadas da época soviética que encravam muitas vezes.

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É difícil imaginar como é que o Ministério da Defesa russo pode ter meios para equipar regularmente a sua infantaria com óculos de visão noturna muito caros ou outros tipos de óticas semelhantes, quando não tem dinheiro para comprar óticas normais para a maior parte destas tropas, além de um colete à prova de bala e uma formação adequada”, disse George Barros.

O analista indicou ao Insider que alguma tecnologia de visão noturna foi “distribuída por algumas unidades russas especializadas” mas os soldados não conseguem ferramentas que sejam similares às cobiçadas miras telescópicas e aos óculos de proteção. Devido à corrupção que existe nas forças armadas, alguns grupos que têm acesso aos equipamentos mais dispendiosos, como os óculos de visão noturna, ficam com eles, indicou o analista.

Financiamento coletivo para comprar equipamento militar

Para colmatar as falhas nos equipamentos e nas tecnologias, a Rússia recorre, às vezes, a campanhas de financiamento coletivo, ou seja, os Milbloggers (bloggers militares que escrevem sobre a guerra) e os grupos nacionalistas recolhem o dinheiro dado pelos civis e investem-no em bens importantes para o campo de batalha. Nestas campanhas, segundo George Barros, raramente se veem óculos de visão noturna a serem comprados.

“Estão a angariar fundos para drones e equipamentos médicos”, explicou o especialista. Em vez dos desejados óculos de visão noturna, conseguem apenas a “ótica básica” como miras telescópicas e telémetros.

Ao contrário da Rússia, a Ucrânia tem acesso a uma grande variedade de sistemas de visão noturna, incluindo tecnologia de visão térmica e de infravermelhos e meios de combate noturnos, graças aos fornecimentos do Ocidente. Os tanques, como os Leopard da Alemanha que Kiev tem utilizado na contraofensiva, têm óticas de visão térmica que ajudam as forças ucranianas a lançar ataques noturnos.

Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, fontes russas informaram que se registou um aumento no número de ataques noturnos das forças ucranianas durante os primeiros dias da contraofensiva.

George Barros disse ao Insider que a Ucrânia está a usar essa vantagem tática para o seu benefício. “Há imagens de combate e relatórios sobre ataques noturnos ucranianos que foram bem sucedidos devido a essas ferramentas.”

A incapacidade atual da Rússia para responder eficazmente aos ataques leva a uma dificuldade das tropas de trazer apoios aéreos ou manterem as suas defesas, enquanto a Ucrânia pode aproveitar a oportunidade e passar despercebida, enquanto ataca e avança na escuridão.

“Sempre que permitimos que os ucranianos explorem uma vantagem tática ou operacional, eles são realmente bons nisso”, disse George. “Fazem sempre bom uso de todos os sistemas que lhes enviamos”.

George Barros ainda acrescentou que as situações como esta apenas demonstram a necessidade do Ocidente continuar a investir na Ucrânia. O especialista diz que “se queremos que os ucranianos se saiam bem, temos de lhes dar os sistemas e as ferramentas que os podem ajudar a fazê-lo”.