Meia centena de manifestantes reuniram-se, este domingo, em Lisboa para homenagear as mais de 50 mil pessoas que morreram nos últimos 30 anos a tentar chegar à Europa ou em campos de refugiados.
“Cada um de nós, em qualquer local do mundo, tem de dizer “não”, dizer “basta” e dizer que mais nenhuma morte é admissível”, defendeu Joana Ribeiro, que respondeu ao apelo que leu nas redes sociais de uma concentração em Lisboa para lutar contra o “tratamento desumano e ilegal de migrantes e refugiados na Europa”.
A iniciativa partiu da HuBB — Humans Before Borders, uma organização sem fins lucrativos que surgiu em 2018, em Lisboa.
Miguel Duarte, co-fundador da HuBB, disse à Lusa que nos últimos cinco anos houve mudanças, “mas foi para pior”.
O jovem ativista apontou “a taxa de mortalidade que está a aumentar de ano para ano” e o recente naufrágio na costa grega, que poderá ter sido “a maior tragédia de sempre no mediterrâneo”.
Estima-se que terão morrido cerca de 600 pessoas, das quais mais de cem crianças, a tentar chegar à Europa, lamentou.
Hoje, essas pessoas foram recordadas na Praça Europa, em Lisboa, assim como as mais de 50 mil pessoas que morreram nos últimos 30 anos a tentar atravessar o mediterrâneo em embarcações frágeis e sobrelotadas.
Com a ajuda de um megafone, ativistas da HuBB leram os nomes de algumas vítimas: “São apenas algumas das 52.760 pessoas que perderam a vida nos últimos 30 anos, segundo dados recolhidos até junho”, contou à Lusa Madalena Wolf, uma das ativistas da HuBB.
Madalena Wolf explicou que a ideia é mostrar que “não são apenas um número e nunca serão esquecidas” e, por isso, o mote da iniciativa de hoje, que se realizou também no Porto, era “we won’t forget you” (“nós não vos iremos esquecer”).
Para a Hubb, a solução para acabar com a atual tragédia era criar “passagens legais e seguras, porque enquanto não houver maneiras seguras de migrar, as pessoas serão sempre obrigadas a pagar a traficantes e a meter-se nestes barcos com uma probabilidade altíssima de perder a sua vida”, defendeu Miguel Duarte.
Para o co-fundador da organização “só com a força da opinião pública será possível mudar”.
Hoje à tarde, cerca de meia centena de pessoas aderiu ao apelo, depois de ler nas redes sociais ou atraído pela presença de um pequeno barco insuflável velho, “meio cheio, meio vazio”, poisado na calçada portuguesa.
“É o barco semelhante ao que muitos dos migrantes usam para procurar uma vida mais digna”, explicou Madalena Wolf, lembrando que as embarcações atravessam o mediterrâneo sempre sobrelotados.
A ação de hoje condenou também os campos de refugiados europeus e serviu para exigir da União Europeia a criação de políticas migratórias que assegurem passagens seguras, o direito à migração e a proteção da vida humana.
“É preciso agir e não esperar para que haja novas vítimas mortais”, defendeu Joana Silva Ribeiro, investigadora na área dos migrantes que também esteve no protesto.
Os ativistas da HuBB prometem não desistir, apesar de reconhecerem que têm sido dados muito poucos passos: “Infelizmente, temos a necessidade de todos os anos repetir este protesto, porque todos os anos morrem milhares de pessoas no mediterrâneo à procura de um local digno e seguro para viver”, lamentou Madalena Wolf.