O socialista António José Seguro advertiu este sábado para que não se confundam ideologias com os partidos políticos que as dizem representar, considerando que a social-democracia continua a refletir “a força de uma ideia” da qual não se consegue afastar. É a segunda vez em pouco mais de um mês que o ex-líder do PS quebra o silêncio público a que tem estado recolhido desde 2014.

“Não confundamos ideologias com os partidos políticos que dizem representar essas ideologias”, afirmou o antigo secretário-geral do PS, António José Seguro, vincando: “Não basta batermos no peito para dizer que somos desta ou daquela ideologia. É importante que a prática esteja de acordo com os valores e princípios dessa ideologia e, sobretudo, com os resultados.”

Orador numa conferência sob o título “Da Ideia à ASP [Acção Socialista Portuguesa], da ASP ao PS — Nascimento de um partido na clandestinidade”, promovida pela Associação Tito de Morais (ATM), nas Caldas da Rainha, António José Seguro, lembrou os passos que levaram à criação do partido para questionar se hoje ainda “faz sentido falar de socialismo democrático e da social-democracia”.

Para responder remontou à memória “de uma frase de um cartaz no Largo do Rato [em Lisboa, sede do PS] com a pergunta: Há injustiças na sociedade”, explicando que se a reposta for não esta ideologia não é necessária, mas, se pelo contrário, a resposta for sim, então “precisamos da social-democracia mais do que nunca”.

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Tanto mais que, explicou, a social-democracia “persegue hoje os mesmos valores” que levaram à criação do Partido Socialista em 19 de abril de 1973, ou seja, “a construção de uma sociedade justa e fiel a valores como a liberdade, solidariedade, igualdade e equidade”.

Valores que, para Seguro, refletem “a força de uma ideia” que serviu de base ao “sonho” dos fundadores do PS, e da qual “apesar das circunstâncias” o antigo secretário-geral do PS admitiu não se conseguir “desligar”.

O ex-líder do PS voltou a estar público pouco mais de um mês desde a última vez — e quando foi questionado sobre um regresso à vida política, da qual tem estado afastado desde 2014, não fechou a porta: “Não sou hipócrita de dizer que jamais em tempo algum.” Nessa altura também deixou uma crítica à gestão governativa, em plena crise-João-Galamba. Desde que foi derrotado por António Costa, em 2014, António José Seguro tem feito raríssimas aparições públicas e ainda mais raras considerações sobre a política nacional.

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A conferência promovida pela Associação Tito de Morais decorreu no Centro Cultural e de Congressos (CCC) das Caldas da Rainha, onde foi inaugurada uma exposição documental de parte do espólio do arquivo de Manuel Tito de Morais que conta com mais de 10 mil documentos, seis mil dos quais disponibilizados na Torre do Tombo. A exposição pode ser visitada até ao final do mês.