Ganhou duas vezes o Tour, ganhou duas vezes o Giro, ganhou três vezes a Vuelta. Alberto Contador é um dos corredores com mais vitórias em grandes voltas de ciclismo, sendo apenas superado no número de vitórias por Eddy Merckx (11), Bernard Hinault (dez) e Jacques Anquetil (oito) e sendo o único da lista dos maiores entre os maiores a par de Hinault a ganhar pelo menos duas vezes cada uma das principais competições. Por isso, ou a par disso, quando sobe a uma bicicleta tem uma aura diferente. Também cai como os outros, como aconteceu no recente Desafio China by Vuelta onde acabou com a cara cheia de sangue por cortes no queixo, no lábio e na sobrancelha que obrigaram a alguns pontos de sutura, mas a forma como fazia a antevisão das etapas do Giro mostrava bem que quem sabe nunca esquece. E é isso que vai continuar a fazer no Tour.

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Aos 40 anos, o espanhol que deixou a modalidade mais a sério em 2017 quando passou pela Trek é um dos maiores especialistas da atualidade e vai seguir a Volta a França em bicicleta para o Eurosport, não só em estúdio mas também na estrada. E é aí que, olhando para o atual cenário de 2023, tem duas certezas: há dois favoritos claros à vitória final, por sinal aqueles que ganharam as duas últimas edições, mas não existe uma etapa em específico que se possa apontar como o momento chave da decisão. “Uma corrida como o Tour pode ser decidida em qualquer dia, sabendo da tensão, das quedas e de tudo o que acontece”, frisa.

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“No final, todos querem ganhar a corrida mais importante do mundo e este ano tínhamos a particularidade de haver logo uma etapa muito dura no primeiro dia, com um muro perto da meta acima de 3.000 metros de desnível. No segundo dia também havia Jaizibel, depois no quinto e sexto dia estamos a subir Marie-Blanque e Tourmalet. Vai ser um Tour em que ninguém pode falhar, em que vai haver gente em grande forma desde o início e tentar depois aguentar até ao final, antes da etapa que antecede a chegada aos Campos Elísios”, salienta, antes de colocar a prova entre Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar sem espaço para surpresas.

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“Acredito que este ano a situação é mais simples. O Tour vai ter dois nomes inevitáveis: Jonas Vingegaard, o último vencedor, e Tadej Pogacar, bicampeão no passado que tem arrasado em todas as provas por onde tem andado. Espaço para um terceiro favorito? Sinceramente, não acredito. Acho que todos os outros corredores vão pensar mais numa posição no pódio do que na vitória. Ainda assim, numa corrida podem sempre passar-se muitas coisas, pode haver quedas, pode haver dias maus e em algum momento essa vigilância que vai haver pode favorecer outros corredores. Se a lesão que sofreu pode afetar Pogacar? Só ele e a equipa podem saber. Creio que essa incerteza leva às perguntas que todos fazemos. Estará nas melhores condições para ganhar o Tour? Tentará Vingegaard fazer a primeira parte do Tour no máximo?”, comenta Contador.

“Acredito que o Vingegaard está muito forte, tem mostrado uma forma impressionante como se viu agora no recente Critério du Dauphiné mas estamos a falar de alguém que terá pela frente também um Tadej Pogacar. É verdade que vai chegar com alguma incerteza, pelo menos para nós, e é verdade que dominou agora os seus Campeonatos Nacionais mas também não são um barómetro para analisar o seu estado real. Não sabemos até que ponto a queda em Liège interferiu com a preparação mas a ideia que fica é que Vingegaard não é imbatível para Pogacar assim como Pogacar não é imbatível para Vingegaard”, acrescenta o espanhol.

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Em paralelo, nas respostas ao Observador, Alberto Contador falou ainda de Rúben Guerreiro, português que faz parte da equipa da Movistar tal como Nelson Oliveira, e de João Almeida, que conseguiu o seu primeiro pódio numa grande volta com o terceiro lugar no recente Giro atrás de Roglic e Geraint Thomas. “O Rúben chegou a ser meu companheiro, sei como é duro. Tem uma boa ponta de velocidade, sabe colocar-se nas fugas e sair nas fugas com maior qualidade. Sem dúvida que é um grande candidato para conseguir uma vitória em etapa. Se o Tour é uma corrida que assenta melhor nas características do João Almeida? Pode ser que sim porque estamos a falar de chegadas que apelam mais à regularidade, não são tão explosivas. Mas sobretudo vai estar hipotecado pelos interesses de Pogacar”, conclui o antigo corredor.

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