O caminho até Paris divide-se em 21 etapas. Olhando para o percurso, é daqueles casos que o esforço vai ser tanto que é preciso começar por algum lado para ver a tarefa, progressivamente, a diminuir de dimensão, mas transformar-se em peso nas pernas dos ciclistas a cada dia que passa. A Volta a França começou em Bilbao, País Basco, Espanha, e reservou para os participantes 182 km em que os últimos 40 concentravam três subidas.

Apesar do Tour só agora começar, há quem não esteja a 100%. Tadej Pogacar, duas vezes vencedor da prova e um dos grandes favoritos à vitória final, chega ainda a contas com uma lesão no pulso esquerdo que, admite o esloveno, tem a mobilidade reduzida a 70%. Como grande concorrente do corredor da UAE Emirates, o vencedor do ano passado, Jonas Vingegaard, chega em grande forma depois da vitória no Critérium du Dauphiné no mês passado.

“Jonas é a figura principal do Tour. Ele dominou o Dauphiné e disse que não estava na sua melhor forma, então mal posso esperar para ver o que ele fará no Tour”, apontou Pogacar. “Aprendemos com cada corrida e especialmente com cada Tour. O ano passado foi uma grande experiência. Vamos tentar fazer melhor este ano e tentar vencer. Eu era forte o suficiente para vencer, mas o Jonas foi mais forte”, acrescentou o ciclista que terminou no segundo lugar da geral em 2022. “Temos que nos focar na nossa corrida e fazer o nosso trabalho. Existem muitas outras equipas no Tour, não é apenas a Jumbo-Visma. No ciclismo precisas de te concentrar em ti mesmo”.

Vingegaard respondeu ao favoritismo que Pogacar lhe atribuiu. “Estou focado em mim próprio. Não tenho problema com os mind games da UAE Emirates. Fiz o que pude para estar pronto para o Tour”, descartou o dinamarquês da Jumbo-Visma. “Espero um ataque do Tadej no sábado. Eu tenho que estar pronto. Ainda sou o caçador e quero a vitória na geral. Não mudou muito desde o ano passado. A forma é boa. Cheguei ao nível que queria”.

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Quanto a portugueses, a edição 110 do Tour conta com três. Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) é o mais cotado uma vez que conta já com três etapas Volta a França no currículo ao longo das suas 10 participações anteriores. “O sonho seria voltar a ganhar uma etapa, não posso negar. Mentiria se dissesse que não. Qual o ciclista que alinha no Tour que não gostaria de assinar uma etapa?”, disse ao jornal O Jogo. “A minha equipa sonha em estrear-se numa vitória neste Tour e com um lugar no top-10. Para isso, trouxe uma equipa forte cujas estrelas são o Biniam Girmay, que pode muito bem vencer uma etapa, e o Louis Meintjes, capaz de um lugar entre os dez primeiros. Tudo faremos para que este objetivo se concretize”.

Na Movistar, Rúben Guerreiro e Nélson Oliveira também vão estar na sombra de um candidato ao lugares do topo da geral como Enric Mas. “Conheço bem a missão que me espera: apoiar o nosso líder, um dos candidatos aos primeiros lugares”, explicou Nélson ao jornal A Bola. “A equipa confia em mim para essa função e dá-me a possibilidade de correr o Tour. É uma missão de sacrifício, nem sempre valorizada e sem grande visibilidade, mas faz parte do trabalho. Para um gregário, como é o meu caso, a classificação é sempre secundária e nem sequer pensamos se estamos dez lugares mais acima ou mais abaixo, o importante é não falharmos na missão”, referiu admitindo a possibilidade de entrar numa fuga e estipulando como objetivo chegar a Paris sem acidentes.

A primeira etapa do Tour não era a ideal para Mark Cavendish (Astana Qazaqstan) chegar, no seu último Tour, à vitória que, aos 38 anos, o tornaria no ciclista com mais triunfos na Volta a França, pois o dia podia ser seletivo. Só na etapa 4 é que se espera que os corredores rodem em terreno plano.

A corrida inaugural era uma boa oportunidade para os homens da geral começarem já a marcar diferenças. Lilian Calméjane (Intermarché-Circus-Wanty), Simon Guglielmi (Arkea-Samsic), Pascal Eenkhorn (Lotto-Dstny), Jonas Gregaard (Uno-X) e Valentin Ferron (TotalEnergies) integraram a primeira fuga do Tour não conseguindo, no entanto, fugir muito mais de dois minutos e meio do pelotão.

Simon Guglielmi e Pascal Eenkhorn amealharam, dois pontos cada por terem sido os primeiros dois a chegarem ao topo das duas primeiras subidas de terceira categoria. À passagem por Guernica-Lumo, Pascal Eenkhorn somou também os 20 pontos do sprint intermédio. Ao nível das quedas, Torstein Traaen (Uno-X) foi o primeiro a ir ao chão por volta do quilómetro 80.

A Jumba-Visma comandava o pelotão. Ainda assim, a fuga continuava resiliente mesmo que a distância continuasse muito curta. A 50 quilómetros da meta, o grupo da frente foi anulado. Na subida mais difícil do dia, Neilson Powless passou em primeiro num duelo ao sprint com Georg Zimmermann.

Quando a corrida se aproximava no fim e se imaginava que não se verificassem incidentes, Enric Mas e Richard Carapaz (EF Education-EasyPost) caíram com o líder da Movistar a abandonar e o equatoriano a seguir com ferimentos. Ambos tinham aspirações a conquistarem uma boa posição na geral.

Tal como Vingegaard tinha previsto, Pogacar tentou atacar na parte final. Os dois irmãos Yates, Adam (UAE Emirates) e Simon (Team Jayco-AlUla) seguiam mais adiante. Adam teve autorização da equipa para seguir para a vitória e acabou mesmo por se tornar no primeiro camisola amarela do Tour. Apesar de não se ter conseguido distanciar substancialmente de Vingegaard, Pogacar chegou em terceiro lugar e conseguiu quatro segundos de bonificação.