A coleta a favor da família do polícia que matou Nahel — chamada de “jackpot da vergonha” pela esquerda política — alcançou 1.635.380 euros em menos de uma semana, antes de ser encerrada. A forma como a família a vai usar ditará se pode ficar com os donativos ou não e também ainda não se sabe se o Estado cobrará impostos sobre o valor.

Fundo criado para polícia que matou jovem de 17 anos em França ultrapassa um milhão de euros

Nahel Merzouk, de 17 anos, foi morto nos subúrbios de Paris no dia 27 de junho, durante uma operação stop. O jovem de origem argelina conduzia sem documentos e, quando tentou fugir, um dos polícias disparou um tiro fatal sobre o seu peito. O polícia de 38 anos, indiciado por homicídio voluntário, encontra-se em prisão preventiva, em isolamento, conforme decretado pelo tribunal. A libertação do polícia foi negada e o isolamento instaurado em nome da sua própria segurança, explica o jornal El Mundo.

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Dois dias depois do incidente — que provocou violentas ondas de protesto em França —, o economista Jean Messiha criou uma angariação de fundos na plataforma GoFundMe para “apoio à família do polícia de Nanterre, Florian, que fez o seu trabalho e agora está a pagar um alto preço”. O antigo conselheiro de Marine Le Pen (do partido de extrema-direira Reagrupamento Nacional) tem origem egípcia, mas apoia “o fim total da imigração”, segundo o jornal El Mundo.

Fundo para a família do polícia que disparou contra Nahel já ultrapassou um milhão de euros. Emmanuel Macron faz visita surpresa à polícia em Paris

A angariação de fundos foi encerrada no dia 4 de julho por indicação do beneficiário, informou a plataforma GoFundMe ao jornal Le Parisien. Mas não sem antes ter recebido alguns donativos mais avultados: um de 3.000 euros, 13 de 1.000 a 1.110 euros e 46 entre 500 e 999 euros, num total de 85.077 contribuições.

A família de Nahel e alguns políticos (mais à esquerda do espetro político) pediram que a angariação de fundos fosse suspensa porque estaria a justificar a violência policial e a incitar mais manifestações. Em causa pode estar também uma violação da lei francesa que impede a recolha de fundos para a ajudar a pagar as despesas ou compensar as perdas financeiras devido a uma ordem judicial, escreve o jornal Le Parisien.

A beneficiária, nomeada como Jen Fleur na plataforma, já terá recebido o valor da coleta e, de acordo com a plataforma, comprometeu-se a cumprir os fins a que se destinava: apoiar a família, mas não para suportar as custas judiciais do marido ou qualquer valor que venha a ser obrigado a pagar. Caso viole esta lei, a família poderá ter de devolver o dinheiro.

Entretanto, estão em curso várias queixas contra esta angariação de fundos. Dependendo do resultado, e mesmo sem uso indevido, a família pode ser obrigada a devolver o valor.

Há um outro caso que abriu um precedente em França, recorda o jornal Libération. No dia 6 de janeiro de 2019 foi lançada uma campanha de angariação de fundos a favor do “colete amarelo” Christophe Dettinger, que estava sob custódia policial depois de ter sido filmado a agredir dois agentes da guarda francesa em Paris. Dois anos depois, o tribunal de Paris ordenou que o valor dos donativos fosse devolvido aos contribuintes.

A GoFundMe confirmou ao Le Parisien que já tinha entregue o dinheiro à beneficiária, mas não disse quando nem quanto. Não se sabe, portanto, se o Estado cobrou impostos sobre o valor doado. Na verdade, existe uma lacuna na lei em relação à angariação de fundos online e, mesmo em situações pontuais de doações, podem nem ser cobrados impostos. No entanto, se for seguida outra regra, de presentes entregues a pessoas não aparentadas, o imposto cobrado pode chegar aos 60%, de acordo com o jornal Le Parisien e o Projeto Arcadie. Isto significaria que o Estado ainda beneficiaria de 981.228 euros.