Sob a batuta de Luca de Meo, o Grupo Renault anunciou com pompa e circunstância a “Renaulution”, a estratégia que revolucionaria a marca do losango, apontando-a a uma gama 100% eléctrica. A revolução continua em marcha, mas parece que há que levar a transição com calma. É isso que se depreende das declarações do CEO do Grupo Renault, em entrevista à principal agência de notícias italiana, a Agenzia Nazionale Stampa Associata (ANSA), à margem da apresentação dos resultados financeiros do grupo.
À semelhança do que no passado fizeram CEO de outros grupos automóveis, como o português Carlos Tavares, à frente da Stellantis, Luca de Meo, que é também o presidente da Associação Europeia de Construtores de Automóveis (ACEA), defende agora que a proibição, a partir de 2035, de comercializar novos veículos ligeiros animados por motores a gasolina ou gasóleo, nos diferentes países que compõem a União Europeia, penaliza o sector e é uma opção prematura. “Proibir a venda de automóveis com motores térmicos é algo que deve mudar, passando para pelo menos 2040”, argumenta o gestor italiano. Tão ou mais surpreendente do que esta postura favorável a um adiamento por parte da Renault, é o período de prorrogação reivindicado. Para de Meo, cinco anos é o mínimo, ou seja, mais conveniente seria atirar a meta definida pelas instâncias europeias para lá de 2040.
Sustenta o CEO do Grupo Renault que esse seria o período necessário para implantar uma infra-estrutura sólida e com a necessária cobertura de estações de carregamento, permitindo ainda que, entretanto, o cliente saísse beneficiado com uma queda no preço dos veículos eléctricos. Mas isso já está a acontecer, pelo menos em alguns segmentos, fruto de um movimento iniciado pela Tesla e seguido por outros construtores. Por outro lado, num passado não muito distante, foi o próprio Luca de Meo quem voluntariamente estimou que a equiparação de preços entre veículos eléctricos e os seus rivais a combustão era algo que deveria começar a verificar-se a partir de 2025. Recorde-se que esse é o ano previsto para a chegada ao mercado dos “minis” do Grupo Volkswagen (ID.2All; Cupra Raval e seu equivalente na Skoda), mas também do muito falado R4 a bateria.
Também em declarações à ANSA, o dirigente do Grupo Renault aproveitou para se queixar da “neblina” em redor das novas regras antipoluição a ser introduzidas com a futura norma Euro 7, que entrará em vigor dentro de dois anos. “Para os motores, é simplesmente impossível cumprir os limites do Euro 7 até 2025 com regras que ainda não foram definidas”, argumenta Luca de Meo. De acordo com o gestor, isso deixaria de ser um problema para a indústria caso se mantivesse a derradeira versão do Euro 6, que “é óptima”. Paralelamente, o italiano concorda com o “aperto” da malha em torno da poluição associada aos pneus e discos de travão, fontes comprovadas da emissão de partículas prejudiciais à saúde.
E como está a Renault, em termos de contas?
No 1.º semestre de 2023, as vendas mundiais do Grupo Renault cresceram 13%, comparativamente a igual período do ano anterior, totalizando 1.143.000 veículos. No mercado europeu, cujo crescimento foi de 17%, as vendas do grupo subiram 24%.
Globalmente, a Dacia continua a ser a marca que mais surpreende no universo Renault, com um crescimento de 24%. Nos primeiros seis meses do ano, a marca romena entregou para cima de 345.000 veículos, a maioria no mercado europeu, onde registou um incremento da procura de 30%, comercializando só no Velho Continente 301.000 unidades. O Sandero soma e segue, sendo o modelo do grupo que mais vende a particulares.
Já a Renault registou um crescimento global de 12%. Mas, considerando exclusivamente a Europa, onde transaccionou mais de meio milhão de viaturas, o incremento foi de 21%, posicionando-se como a segunda marca no ranking de vendas europeu.
Quanto à Alpine, não tem como escapar a um caminho algo apático, enquanto não se materializa a sua ofensiva de produto. Ainda assim, a insígnia desportiva do Grupo Renault contribuiu para os resultados financeiros com o registo de 1900 unidades nos primeiros seis meses de 2023, no que representa um aumento de 9% face ao período homólogo de 2022.
Com uma margem operacional “recorde” de 7,6% (no 1.º semestre de 2022 foi de 4,6%), o volume de negócios do grupo fixou-se em 26.849 milhões de euros, mais 27,3% em comparação com o 1.º semestre de 2022.