O mercado automóvel tem vindo a ser fustigado com a pandemia das mais diferentes formas, mas a estratégia gizada pelo novo CEO da Renault, Luca de Meo, parece ser feita mais de oportunidade do que adversidade. Em entrevista ao diário regional francês Le Parisien, o novo homem forte da marca do losango foi avisando que o consumidor tem de estar preparado para pagar a factura associada à nova norma Euro 7, mas também abriu uma réstia de esperança no que toca à equiparação, dentro de poucos anos, do preço dos automóveis eléctricos com os seus rivais a combustíveis fósseis (gasolina ou gasóleo).

De Meo é taxativo ao declarar que “os carros vão ficar mais caros” e que “é preciso aceitar isso”. O aviso justifica-se pelo estreitar das limitações impostas pela nova regulamentação europeia de controlo das emissões dos veículos equipados com motor de combustão, de que já aqui lhe demos conta.

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Contudo, o alerta servirá também para ir preparando o cliente para o facto de o fabricante repercutir no custo final do veículo o investimento adicional que tem de ser feito, no sentido de colocar os motores em conformidade com a nova norma. A “boa” notícia é que, como os motores convencionais vão ficar mais caros (pelo apertar da malha antipoluição) e o preço das baterias para os veículos eléctricos tende a baixar (pela evolução e massificação da tecnologia), isso significa que, “a partir de 2025 ou 2026”, é expectável que ocorra uma convergência de preços. Nada que impeça de Luca de Meo de promover subtilmente o novo Renault Twingo Electric e o Dacia Spring, ao afirmar que o grupo a que preside já oferece “veículos eléctricos a preços acessíveis”.

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Mas, para os que se vêem impossibilitados de adquirir um carro novo por constrangimentos orçamentais, a Renault vai trabalhar no recondicionamento de usados. Uma decisão que não estará desgarrada do facto de, com a pandemia, ter disparado a procura por carros em segunda mão.

Outra das oportunidades que o gestor italiano não quer deixar escapar é a associada às baterias. Para a Renault se afirmar como uma “locomotiva tecnológica”, há que assegurar alguma margem de manobra no que respeita aos acumuladores, para que o grupo não fique refém de fornecedores. Nesse sentido, a empresa francesa pretende dispor de uma fábrica de baterias no Norte de França, cujo parceiro industrial deverá ser tornado público nas próximas semanas.

Talvez para afastar o “fantasma” Carlos Ghosn ou para marcar uma clara clivagem estratégica, Luca de Meo aproveitou ainda a entrevista para voltar a frisar que o foco da anunciada Renaulution (o plano estratégico da Renault) está no valor e não na quantidade. Ou, dito de outro modo, o construtor francês está preparado para sacrificar o volume de vendas em prol de margens mais generosas – algo que desalinha das antigas directivas de Ghosn. “A nossa missão agora (…) é acrescentar valor sem a obsessão pelo volume”, disse. Uma farpa ou uma afirmação de autoridade?