O presidente da Câmara de Lisboa defende o recurso aos ajustes diretos por parte da autarquia da capital para fazer face aos gastos com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), dizendo que seria “impossível” de outra forma conseguir acolher o evento e sublinhando que tal não equivale a “falta de transparência”.

Em entrevista à Rádio Observador esta segunda-feira, Carlos Moedas garantiu que todos os gastos por parte da Câmara com esta Jornada foram feitos “dentro das regras” e serão escrutinados pelo Tribunal de Contas, mas deixou claro que considera que os ajustes diretos foram necessários.

JMJ. Moedas: “Pressão tornou-se em obra”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Teria sido impossível fazer doutra maneira”, afirmou o autarca, sob pena de a organização ficar presa “numa camisa de forças em que não se consegue decidir”.

Ajuste direto não é dizer ‘Vamos dar um contrato àquela pessoa’. Há uma consulta previa para ter o melhor preço”, disse Moedas, acrescentando que este é um instrumento necessário para a realização da JMJ. “Senão não estávamos aqui, não havia altar-palco”.

O tema tem provocado polémica, com destaque para o protesto do artista Bordalo II, que estendeu uma passadeira em forma de notas de euro em frente ao altar-palco no Parque Tejo — e que levou o presidente da autarquia a responder com o seu próprio vídeo, em tom humorístico.

À Rádio Observador, Moedas defendeu a sua resposta, que classificou como “natural” e uma resposta livre à “liberdade artística”. “Em política é preciso estar à vontade. Eu sou assim, outro político eventualmente não teria respondido da mesma maneira, mas eu sou transparente”, afirmou o presidente da Câmara de Lisboa.

Moedas admite “serenidade”, mas também “preocupação” com evento: “Durmo todos os dias como um bebé: acordo de hora a hora e choro”

Sobre as expectativas para o evento que arranca oficialmente esta terça-feira, Carlos Moedas admitiu que ainda há “incertezas” relativamente ao número de peregrinos esperados para a cidade de Lisboa, estimando que deverá fixar-se algures entre os 800 mil e os 1,2 milhões de pessoas.

Há serenidade, há tranquilidade, mas obviamente há preocupação”, acrescentou, relativamente ao seu estado de espírito para os dias que se avizinham. “Durmo todos os dias como um bebé: acordo de hora a hora e choro.”

O autarca da capital destacou ainda os benefícios que o evento trará para Lisboa, na sua opinião, elencando ganhos “tangíveis” e “intangíveis”. Os primeiros, diz, relacionam-se sobretudo com a estimativa de pelo menos 300 milhões de euros que os peregrinos gastarão durante a sua estadia — “Quantos eventos em Portugal trouxeram centenas de milhões?”, questiona Carlos Moedas.

Já os benefícios “intangíveis” são, sobretudo, relacionados com a imagem internacional da cidade, com o presidente da Câmara a destacar a beleza da zona do Parque Tejo. “Seria possível fazer uma campanha mundial que mostre a nossa cidade desta maneira? Penso que isso não tem preço”, declara o autarca.

Um autarca “neutral” e “não-crente”, mas com admiração pelo Papa Francisco

Carlos Moedas reconheceu durante a entrevista à Rádio Observador que não é “um homem de Igreja” e que não é crente, mas disse comungar dos “valores judaico-cristãos” que são a base “da nossa Europa”. O principal desses valores é, afirma, “não mudar ninguém, aceitar os outros como eles são”.

A minha missão é neutral. Um presidente da Câmara de um Estado laico está aqui para ajudar todas as religiões“, declarou Moedas, sublinhando que a JMJ é um evento não apenas para os católicos, mas também para praticantes de outras religiões e não-crentes.

O presidente da Câmara de Lisboa destacou ainda a sua admiração pelo Papa Francisco, que definiu como “um homem único”. “É um Papa que se põe ao lado das pessoas de igual para igual, o seu aperto de mão e o seu abraço são um toque de humildade“, disse.

E Moedas acrescentou ainda que a visita do Papa ao Bairro da Serafina, que terá lugar na próxima sexta-feira, foi agendada na sequência de um pedido expresso de Francisco: o de visitar “um bairro desfavorecido” aquando da sua passagem por Lisboa.