Uma multidão de peregrinos acorreu esta terça-feira ao Parque Eduardo VII para o arranque da Jornada Mundial da Juventude. O maior evento do mundo católico, que decorre até domingo e é marcado pela visita do Papa Francisco, teve início com a missa de abertura presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, onde era possível ver centenas de bandeiras dos mais de 100 países que participam – estima-se que tivessem estado pelo menos 2oo mil pessoas no agora chamada Colina do Encontro. Durante a homilia, Manuel Clemente aproveitou para deixar aos jovens uma mensagem e um desafio claros: “A virtualidade mantém-nos sentados”, enquanto o objetivo deve ser pôr-se a caminho.
A cerimónia desta terça-feira contou com a participação de um coro de mais de 300 pessoas — entre cantores e membros da orquestra vindos do norte ao sul do país — que foi dirigido pela maestrina Joana Carneiro e estará presente em todos os eventos centrais (acolhimento ao Papa, Via Sacra, Vigília e missa de envio). Em palco esteve também o grupo “Mãos que Cantam”, o primeiro coro de surdos a atuar na história das jornadas.
As imagens das 200 mil pessoas que encheram o Parque Eduardo VII no arranque da JMJ
Vários idiomas conviveram durante a tarde na missa de abertura, sendo que as leituras bíblicas foram lidas por um jovem do Luxemburgo, em italiano, e do Senegal, em francês. O próprio Patriarca de Lisboa estendeu aos peregrinos em vários idiomas o desejo de que esta seja uma Jornada Mundial da Juventude “felicíssima”.
As boas-vindas (em cinco línguas)
O desejo foi repetido em cinco línguas: “Bem-vindos a todos”. Em português, espanhol, inglês, italiano e francês, idiomas oficias da Jornada Mundial da Juventude, Manuel Clemente cumprimentou os milhares de peregrinos que se juntaram na Colina do Encontro para a missa de abertura do maior evento do mundo católico. “Desejo que vos sintais em casa, nesta casa comum em que viveremos a JMJ”.
Lembrando o lema da jornada — “Maria levantou-se e partiu apressadamente” –, inscritos nas T-shirts de inúmeros peregrinos no recinto, Manuel Clemente destacou o percurso, em muitos casos longo e desafiante que vários peregrinos fizeram até Portugal. “Maria pôs-se a caminho (…). Também vós vos pusestes a caminho. Foi para muitos um caminho difícil pela distância, as ligações e os custos que a viagem envolveu. Foi preciso juntar recursos, desenvolver atividades para os obter e contar com solidariedades que graças a Deus não faltaram”, afirmou.
“De longe ou mais perto, pusestes-vos a caminho. É muito importante pôr-se a caminho. Assim devemos encarar a própria vida, como caminho a percorrer, fazendo de cada dia uma nova etapa”, desafiou.
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Deixar os ecrãs e pôr-se a caminho
Durante a homilia, o Patriarca de Lisboa foi claro no seu apelo para que, num mundo de redes sociais e informação instantânea, os jovens não sejam reféns dos ecrãs e do mundo virtual, mas antes que se ponham a caminho e partam ao encontro do outro. “A virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam quando julgamos usá-los. Bem pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para o admirar como para o fazer melhor”, sublinhou.
Apesar de reconhecer o papel dos média e agradecer a transmissão em direto de vários meios, o Patriarca de Lisboa reforçou que os jovens não devem abdicar do contacto com a realidade e com os que nos rodeiam. “Vivemos mediatamente e já não saberíamos viver de outro modo. Contamos com o seu apoio, mas não nos dispensamos de caminhar por nós mesmos, de contactar e verificar diretamente a realidade que nos toca”.
“É verdade que hoje muita coisa vos pode deter, caros amigos, com a possibilidade de substituirmos a realidade verdadeira, que só se atinge a caminho dos outros, como realmente são, pela aparência virtual de um mundo à escolha. Um mundo à escola, diante de um ecrã e dependente de um clique que o mude por outro”, afirmou, acrescentando que nada pode substituir o caminho pessoal e de grupo que os peregrinos fizeram até à JMJ.
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Partir apressadamente, mas não ansiosamente
Perante a multidão de peregrinos, Manuel Clemente sublinhou que “há verdadeiramente pressa no ar”, uma referência ao hino oficial da jornada. Aqui o Patriarca de Lisboa aproveitou para distinguir entre o que considera serem dois cenários distintos: partir apressadamente, mas não ansiosamente.
“Quando disse ao Papa Francisco que era este precisamente o lema da nossa Jornada – Maria dirigiu-se apressadamente… – ele logo acrescentou que sim, apressadamente mas não ansiosamente”, explicou ainda durante a homilia.
Num tempo marcado pela “urgência”, aos peregrinos apelou à serenidade. “Na verdade, a ânsia é do que ainda não temos e pretendemos inquietos. A pressa é diferente, é partilhar o que já nos leva. Por isso é uma urgência serena e sem atropelo”.