A maioria dos camiões eléctricos pesados de maiores dimensões, os tradicionais tractores com semi-reboque, ainda oferece autonomias mínimas na ordem dos 300 a 400 km, além de períodos de recarga muito demorados, mas o Tesla Semi prometeu ser uma verdadeira alternativa aos semi-reboques diesel, tanto em termos de custos por quilómetro percorrido, como em impacto ambiental, assegurando ainda a capacidade de recarregar a uma potência três vezes superior ao melhor automóvel da Tesla, reduzindo assim o tempo perdido a alimentar a bateria. Depois de alguns meses em testes, pela mão de algumas das maiores empresas de distribuição norte-americanas, é altura de perceber se, afinal, os grandes camiões semi-reboque eléctricos, com capacidade de deslocar cerca de 40 toneladas, são um sucesso ou um fiasco.
Semi nas mãos de clientes. Tesla inicia entregas do Model 3 dos camiões
Para avaliar o potencial desta solução tecnológica, que ainda está a dar os primeiros passos nos transportes rodoviários pesados, nada melhor do que recorrer à ajuda do North American Council for Freight Efficiency (NACFE). E se tem dúvidas em relação à independência desta entidade, bastará consultar a lista de patrocinadores para verificar que o único apoiante “Platina” é a petrolífera Shell. Entre os “Ouro” figuram a Freitghliner (da Mercedes Daimler) e a Navistar (da Traton SE, a divisão de comerciais do Grupo VW, que inclui ainda a MAN e a Scania, além dos comerciais da VW), para os apoiantes Prata incluírem a Volvo, o fabricante de motores diesel Cummins e as referências entre os construtores de pesados norte-americanos Kenworth e Peterbilt.
Esta entidade independente aproveitou o facto de a Pepsico ser um dos seus patrocinadores e, simultaneamente, uma das maiores distribuidoras de bebidas e de produtos alimentares nos EUA, tendo sido das primeiras empresas do ramo a adquirir unidades do Tesla Semi – nada menos que 21 para ajudar a desenvolver os tractores semi-reboques a bateria em condições reais de utilização –, para produzir um vídeo que espelha as conclusões deste operador. Isto porque ninguém pode analisar com mais propriedade a eficiência dos camiões eléctricos que as poucas distribuidoras que utilizaram os Semi durante vários meses, a par com modelos pesados a gasóleo.
Os diversos funcionários da Pepsico começam por revelar que este parque de distribuição logística no Norte da Califórnia tem os telhados revestidos a painéis solares, para se tornar mais sustentável e reduzir os custos com a energia, enquanto os Superchargers que a Tesla ali instalou fornecem um máximo de 750 kW, três vezes mais do que o melhor dos automóveis da Tesla pode aceitar actualmente, limitados que estão a 250 kW. De recordar que o plano original apontava para estes Superchargers realizarem carregamentos a 1000 kW, não se sabendo (porque o vídeo não especifica) por que razão a potência fornecida ficou a ¼ do objectivo máximo estabelecido. Porém, um dos responsáveis pela Pepsico sempre avança que é muito difícil ter uma tão grande quantidade de energia disponível para recarregar camiões, podendo esta ser uma das explicações.
Ainda assim, os carregamentos a 750 kW permitem recarregar a bateria dos Tesla Semi, que deverão rondar uma capacidade de 900 kWh, em 45 minutos (até 80%). Isto significa que o Semi pode percorrer mais 644 km depois de ligado ao posto de carga durante 45 minutos, enquanto os melhores tractores semi-reboques da concorrência, de acordo com Visual Capitalist, recarregam energia para percorrer mais 354 km em 1 hora e 30 minutos, no caso do Mercedes Daimler ECascadia; 353 km em 1 hora no Volvo EV Line; 241 km em 3,3 horas no Kenworth T680E, construtor norte-americano; 241 km em 2,5 horas no Peterbilt 579EV (do mesmo grupo da Kenworth) ou 269 km em 2 horas (no BYD 8TT).
Não é apenas a rapidez nos carregamentos que favorece folgadamente o Tesla Semi. Também a autonomia pende claramente para o camião eléctrico da Tesla, que oferece dois packs distintos de bateria, consoante as necessidades da empresa. A bateria mais pequena possui uma capacidade próxima de 550 kWh, a que deverá corresponder uma autonomia de 482 km segundo o ciclo norte-americano EPA, bastante mais exigente do que o europeu WLTP. Para quem necessite de maior autonomia, a solução é optar pelo acumulador com cerca de 900 kWh de capacidade, que assegurará 805 km entre recargas e sempre com a mesma capacidade de carga, os cerca de 40 toneladas inerentes à esta classe 8 de camiões.
A Pepsico refere ainda que o consumo destes Semi ronda os 1,7 kWh/milha, o que corresponde aproximadamente a 1,06 kWh/km. Em Sacramento, onde está sediado este centro de logística, o kWh é comercializado a 0.14 dólares durante a noite, ainda assim acima dos 0,09€/kWh que eram praticados em Portugal (antes da invasão da Ucrânia) em vazio e na tarifa bi-horária. Para a Pepsico, este valor representa uma redução nos custos com combustível na ordem dos 23%, mesmo em relação aos camiões a gasóleo mais eficientes. A Pepsico continua a afirmar que está decidida a remover todas as emissões poluentes do seu sistema de armazenamento e distribuição até 2040.